Bill Cosby: o ator, que fará 80 anos no mês que vem, pode ter de passar o resto de sua vida na prisão (Stan Honda/AFP/AFP)
AFP
Publicado em 16 de junho de 2017 às 20h14.
O júri do processo de agressão sexual contra o ator Bill Cosby continuou suas deliberações na sexta-feira, quando fez várias perguntas ao juiz, sinal de que ainda é possível que cheguem a um veredito.
Os 12 membros do júri já passaram 43 horas - ao longo de cinco dias - tentando determinar se o ator deve ser condenado por drogar e agredir sexualmente Andrea Constand, de 44 anos, em sua mansão na Filadélfia em janeiro de 2004.
Cosby, que fará 80 anos no mês que vem, pode ter de passar o resto de sua vida na prisão, se for declarado culpado de três acusações de agressão sexual agravada contra Constand.
O júri disse ao juiz Steven O'Neill na quinta-feira que as deliberações estavam em um impasse, mas o magistrado da Pensilvânia ordenou que o grupo continuasse debatendo para tentar chegar a um acordo unânime, sem determinar um prazo.
Nesta sexta-feira, o painel solicitou ao juiz que defina com maior precisão o conceito de "dúvida razoável".
Sob a lei americana, qualquer aplicação do termo "dúvida razoável" significaria que o júri deve absolver o acusado.
Os jurados também pediram para ouvir trechos da declaração feita por Cosby em 2005. Nela, o réu afirma ter dado o sedativo Quaaludes (metaqualona) a uma mulher em Las Vegas em 1976, antes de ter relações sexuais com ela, e que usou o remédio com outras mulheres.
Horas depois, no início da tarde, o júri também pediu ao juiz para ouvir novamente o depoimento de Gianna Constand, a mãe de Andrea, relacionado com a sua primeira ligação telefônica com Bill Cosby, assim como um trecho do depoimento da própria Andrea Constand.
O juiz apontou que as perguntas eram prova de que o júri continua fazendo seu trabalho com o objetivo de chegar a um veredito.
O advogado principal de Cosby, Brian McMonagle, interviu para pedir que o juiz anule o processo, considerando que as deliberações já duravam tempo demais.
"Nos pedem para ouvir de novo todo o julgamento", reclamou o advogado.
O juiz respondeu que não tem a intenção de interromper o trabalho do júri porque a lei da Pensilvânia não lhe dá essa atribuição, e rejeitou novamente o pedido de anulação do julgamento, feito várias vezes pela defesa nas últimas horas.
A espera do veredito elevou a tensão hoje em frente ao tribunal em Norristown, nos arredores da Filadélfia.
"Você é uma vergonha", gritou uma mulher para Cosby, quando ele estava entrando no edifício.
"Cala a boca!", responderam os simpatizantes do ator, que o esperavam perto da entrada para apoiá-lo.
Embora o julgamento tenha a ver apenas com o caso de Andrea Constand, 60 mulheres garantem terem sido vítimas sexuais do comediante, fazendo acusações notavelmente similares que cobrem um período de cerca de quatro décadas.
Nessas situações, não há possibilidade de processo, porque prescreveram.
O processo marca a queda em desgraça de um ator venerado por várias gerações de americanos por seu papel como Cliff Huxtable, um adorável pai e ginecologista na série de televisão "The Cosby Show".
Se o painel de sete homens e cinco mulheres não chegar a um veredicto, O'Neill será obrigado a declarar "júri em desacordo" ("hung jury"), abrindo a possibilidade de um novo julgamento.