Venezuela: UE expressou a sua preocupação com situação no país desde a onda de protestos contra Maduro, que deixaram 125 mortos entre abril e julho de 2017 (Nacho Doce/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de junho de 2018 às 16h47.
A Eurocâmara enviará no final de junho uma delegação às fronteiras da Venezuela com Brasil e Colômbia para avaliar "a situação humanitária" diante da saída de venezuelanos para os países vizinhos, anunciou nesta quinta-feira (7).
Seis eurodeputados viajarão de 25 a 29 de junho para Bogotá e a cidade fronteiriça de Cúcuta, na Colômbia, e outros seis irão para Boa Vista e Brasília, detalhou o Parlamento Europeu em comunicado.
Os eurodeputados têm previsto visitar os postos fronteiriços, assim como se reunir com autoridades colombianas, brasileiras e com ONGs. A medida faz parte de ações da União Europeia (UE) para apoiar ambos os países.
Brasil e Colômbia enfrentam a chegada de "população vulnerável" que cruza a fronteira "somente por necessidades básicas", descreveu em março o comissário europeu de Ajuda Humanitária, Christos Stylianides, à AFP em Bogotá.
A Comissão Europeia anunciou nesta quinta uma ajuda de 35,1 milhões de euros destinada a apoiar "o povo venezuelano e os países vizinhos" afetados pela crise política, econômica e humanitária vivida pela Venezuela.
"Cerca de dois milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos", destacou a Eurocâmara, lamentando que o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, "se negue a autorizar a entrada de ajuda humanitária".
Após se reunir com a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, seu homólogo venezuelano, Jorge Arreaza, negou em abril que existisse uma crise humanitária, e advogou para que os países da UE facilitem o "financiamento" à Venezuela para enfrentar a crise econômica.
A UE expressou a sua preocupação com a situação no país desde a onda de protestos contra Maduro, que deixaram 125 mortos entre abril e julho de 2017, e pela falta de garantias, em sua visão, nas eleições ocorridas desde então.
Em novembro, os 28 países da UE aprovaram o seu primeiro pacote de sanções, consistente em um embargo de armas e de material suscetível de ser usado para "repressão interna". Em janeiro, sancionaram sete responsáveis de alto escalão do país.
Os europeus preparam agora novas sanções individuais contra funcionários de alto escalão depois da eleição presidencial, adiantada para maio, que terminou com a reeleição de Maduro. Os principais partidos da oposição a boicotaram considerando que era fraudulenta, posição compartilhada com o Grupo de Lima, a UE e os Estados Unidos.
Organizações de direitos humanos denunciaram nesta quinta que cerca de 750 pessoas estão presas ou foram obrigadas a se apresentar periodicamente a tribunais na Venezuela depois de protestarem pelo desabastecimento de alimentos.
"Existe uma nova categoria: presos políticos pela fome (...). Mais de 750 pessoas estão privadas de liberdade, ou submetidas a regimes de apresentação, por terem participado de protestos por comida", disse em entrevista coletiva Inti Rodríguez, representante da ONG Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos (Provea).
Rodríguez estimou que os casos "continuarão crescendo" pelo aumento de manifestações pela escassez de alimentos básicos e remédios.
Nesta quinta, várias ONGs, críticas ao governo, lançaram a campanha "Libertem-os", em meio a um processo de liberações iniciado após a reeleição de Maduro.
"São mantidos 302 presos políticos", 79 dos quais são militares, advertiu Alfredo Romero, diretor da ONG Fórum Penal, se referindo aos detidos por razões políticas.
A Fórum Penal, que dá assistência jurídica a opositores na prisão, sustenta que a lista fornecida dos presos libertados foi inflada, com acusados por crimes comuns, assim como por integrantes de "coletivos", grupos civis afins ao governo que, segundo a oposição, estão armados.
Romero destacou que quem é libertado fica sujeito a medidas como proibição de saída ao exterior, ou a apresentações periódicas a tribunais. Somente um conta com "liberdade plena", apontou.
"É o reflexo da resposta bélica" do governo aos protestos, expressou Rodríguez.
O governo assegura que Provea e Fórum Penal são ONGs ligadas à oposição.