Decisão de Biden bloqueia fusão bilionária e gera tensões diplomáticas com o Japão. (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Redator na Exame
Publicado em 6 de janeiro de 2025 às 06h47.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, bloqueou a proposta de aquisição da U.S. Steel pela japonesa Nippon Steel, uma negociação avaliada em US$ 14,9 bilhões (R$ 91,8 bilhões). A decisão foi oficializada após uma análise de segurança nacional e encerra um processo de um ano marcado por disputas políticas e corporativas.
Biden afirmou que a compra colocaria uma importante produtora de aço sob controle estrangeiro, representando riscos para cadeias de suprimento críticas.
A Nippon Steel, maior siderúrgica do Japão, e a U.S. Steel, histórica empresa americana, classificaram a decisão como "ilegal" e anunciaram planos para contestá-la judicialmente.
A proposta previa a criação da terceira maior siderúrgica do mundo, com capacidade para competir com gigantes globais, como as empresas chinesas. De acordo com a Bloomberg, Nippon Steel havia aceitado concessões significativas para atender às exigências do Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos (CFIUS), incluindo a mudança de sua sede para Pittsburgh. Apesar disso, o painel não chegou a um consenso, o que levou a questão ao presidente.
"Trata-se de proteger nossos interesses estratégicos," declarou Biden. O presidente eleito Donald Trump, que assumirá o cargo em janeiro, apoiou a decisão, assim como sindicatos como o United Steelworkers, que se opuseram ao acordo alegando riscos ao emprego doméstico.
A Nippon Steel, que planejava ampliar sua capacidade de produção de aço bruto em 30% com a aquisição, agora precisa reavaliar sua estratégia global. De acordo com a Reuters, a empresa enfrenta um mercado japonês em declínio e busca diversificar sua atuação para enfrentar a concorrência chinesa. A tentativa frustrada custará à Nippon Steel uma multa de rescisão de US$ 565 milhões (R$ 3,48 bilhões).
A U.S. Steel, por sua vez, passa por dificuldades financeiras, registrando queda nos lucros por nove trimestres consecutivos. Sem a injeção de capital da Nippon Steel, a empresa enfrenta incertezas quanto ao futuro de suas operações e empregos. Outras possíveis compradoras, como Cleveland-Cliffs e Nucor, podem surgir, mas qualquer negociação dependerá do suporte do governo.
A decisão gerou críticas no Japão, maior investidor estrangeiro nos EUA, com analistas alertando para possíveis tensões nas relações bilaterais. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, expressou preocupação com o impacto sobre investimentos futuros.
"Precisamos de explicações claras para evitar que dúvidas prejudiquem nossa parceria estratégica," disse Ishiba. A medida também levantou questões sobre o impacto do protecionismo econômico nas relações internacionais. Especialistas apontam que o bloqueio pode enfraquecer os esforços conjuntos de EUA e Japão para conter a influência econômica da China.
Com a aproximação da posse de Trump, o cenário permanece incerto. Apesar de sua oposição à compra, membros republicanos criticaram a decisão de Biden, destacando os prejuízos à atratividade dos EUA para investimentos.
A Nippon Steel, enquanto isso, já mira mercados como a Índia, que planeja dobrar sua capacidade anual de produção de aço bruto para 300 milhões de toneladas até 2030. A siderúrgica japonesa já possui uma joint venture no país, a ArcelorMittal Nippon Steel India, o que pode facilitar sua expansão.
A decisão de bloquear a aquisição marca um ponto de inflexão na política econômica e industrial dos EUA. O protecionismo reforçado nos últimos anos representa tanto uma tentativa de proteger empregos quanto uma barreira para investimentos estratégicos de aliados.
Para a Nippon Steel e a U.S. Steel, a necessidade de adaptação rápida será crucial. Enquanto isso, analistas destacam que as relações bilaterais EUA-Japão enfrentarão novos desafios, especialmente em um contexto global de crescente competição com a China.