Debate: pré-candidatos presidenciais dos EUA Elizabeth Warren, Joe Biden e Bernie Sanders (Brendan McDermid/Reuters)
AFP
Publicado em 21 de novembro de 2019 às 09h55.
Última atualização em 21 de novembro de 2019 às 09h57.
São Paulo — O quinto debate exibido na televisão entre os pré-candidatos democratas à presidência dos Estados Unidos em 2020 expôs na quarta-feira a distância entre moderados e radicais, apesar da frente unida contra o presidente Donald Trump, e projetou o nome de Pete Buttigieg, um político em ascensão.
No momento em que aconteceu as audiências públicas no Congresso para um eventual impeachment de Trump por abuso de poder, os pré-candidatos reunidos em Atlanta, Geórgia, respaldaram a investigação que pode resultar na destituição do presidente republicano, que foi chamado de "corrupto", "mentiroso patológico" e "criminoso".
Mas a apenas 75 dias da primeira votação das primárias democratas, o debate evidenciou mais uma vez a brecha entre os centristas, como o ex-vice-presidente Joe Biden e o prefeito Buttigieg, e os aspirantes mais à esquerda, como os senadores Elizabeth Warren e Bernie Sanders.
O atendimento de saúde voltou a ser um dos temas que provocou mais divisão.
Biden, que como Buttigieg prefere expandir o programa criado pelo ex-presidente Barack Obama ao invés do plano de cobertura universal Medicare para Todos, estimulado por Sanders e Warren, afirmou que muitas pessoas estão felizes com o seguro privado.
Warren, que prometeu a redução dos preços de medicamentos se for eleita, disse que deseja a entrada de 135 milhões de pessoas no Medicare para Todos nos 100 primeiros dias de mandato.
Buttigieg questionou a ideia de "ordenar à população" a entrar no programa, queiram ou não.
"Não é o enfoque correto para unificar o povo americano ao redor de uma transformação muito, muito grande que agora temos a oportunidade de oferecer", disse.
"Não temos que derrubar o sistema, mas temos que fazer o que o povo americano deseja", afirmou Sanders. "E o povo americano compreende hoje que o sistema de saúde atual é cruel, disfuncional".
A declaração pareceu uma resposta a Obama. O ex-presidente, muito popular quando deixou o cargo há três anos, não declarou apoio a nenhum pré-candidato, mas fez uma advertência sobre a tentação de uma guinada brusca à esquerda, perdendo sintonia com "o americano médio" que não quer mudar o sistema.
Biden, vice de Obama em seus dois mandatos, lidera a disputa com 27% de apoio a nível nacional, seguido por Warren (20,3%) e Sanders (18,8%), todos septuagenários como Trump, segundo a média do site RealClearPolitics (RCP).
Mas o novato Buttigieg, um ex-militar de 37 anos abertamente gay que esteve no Afeganistão e que, desde 2012, é o prefeito de South Bend, Indiana, avança cada vez mais, com 8,3% nas pesquisas, com uma força particular em Iowa, estado que organizará em 3 de fevereiro as primeiras votações das primárias, assim como em New Hampshire, que terá sua votação em 11 de fevereiro.
"Tenho a experiência para desafiar Donald Trump, sei que não coincide com a experiência tradicional do poder em Washington, mas diria que precisamos de algo muito diferente agora", afirmou ao ser questionado sobre suas credenciais.
Quando a senadora Kamala Harris (4,8% segundo o RCP), a única mulher negra na disputa, questionou o pouco apoio que recebe entre os eleitores afro-americanos, Buttigieg reconheceu que ainda precisa atrair este eleitorado, fundamental para vencer Trump em 3 de novembro de 2020.
"Agradeço o desafio de conectar-me com os eleitores negros", disse Buttigieg. "Eu me preocupo com isso porque, embora não tenha a experiência de ter sido discriminado pela cor da minha pele, tenho a experiência de me sentir como um estranho em meu próprio país", acrescentou, em alusão ao fato de ser gay.
Buttigieg, o homem de sobrenome complicado (se pronuncia Buddha-judge) e mensagem de esperança com seu discurso moderado, tem sido comparado a Obama, que após uma campanha avassaladora se tornou em 2008 o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
"É a revelação desta primária", disse na CNN esta semana Jim Messina, ex-coordenador de campanha de Barack Obama em 2012, embora tenha advertido que, na hora de decidir quem é o mais bem preparado para derrotar Trump, "tudo continua sendo incerto".
Também participaram no debate em Atlanta o empresário Andrew Yang (3,0%), os senadores Cory Booker (1,8%) e Amy Klobuchar (1,8%), a representante (deputada) Tulsi Gabbard (1,3%) e o magnata e ativista Tom Steyer (1,0%).
O elenco do quinto não contou com o ex-parlamentar do Texas Beto O'Rourke, que deixou a disputa em 1º de novembro, e o ex-secretário de Habitação de Obama e único pré-candidato latino-americano, Julian Castro, que não alcançou os requisitos de pontuação nas pesquisas e financiamento exigidos pelo Comitê Nacional Democrata para participar.
Atualmente, a disputa tem 17 participantes após a saída na de quarta-feira de Wayne Messam, prefeito de Miramar, Flórida, um candidato marginal. O número de pré-candidatos, no entanto, pode aumentar depois da entrada na disputa de Deval Patrick, ex-governador de Massachusetts, e com o provável anúncio do bilionário Michael Bloomberg.