A bandeira síria é vista em Damasco: a Rússia é vista como o país de maior influência sobre o regime da Síria, de quem é aliada e fornecedora de armas desde a época soviética. (Louai Beshara/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2013 às 15h22.
Damasco - A Rússia, principal aliada do regime sírio, afirmou nesta sexta-feira ter chegado a um acordo de princípio com Damasco para uma conferência de paz que será realizada em Istambul, mas a oposição síria indicou que se mantém cética.
"Afirmamos com satisfação que recebemos de Damasco um acordo de princípio do governo sírio para participar de uma conferência internacional", declarou o porta-voz do Ministério russo das Relações Exteriores, Alexandre Lukachevitch.
Trata-se de agir de forma que "os sírios possam chegar a uma solução para o conflito que destrói o país e a região", acrescentou Loukachevitch.
O acordo foi obtido após uma visita do vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Fayçal Moqdad, a Moscou na quarta e na quinta-feira.
Fayçal Moqdad foi à capital russa para abordar a iniciativa de russos e americanos de fazer uma nova conferência, lançada em ocasião da visita do secretário de estado norte-americano, John Kerry, a Moscou no início do mês.
Kerry e o ministro russo das Relações Exteriores Serguei Lavrov devem se reunir novamente no dia 27 de maio em Paris.
A Rússia é vista como o país de maior influência sobre o regime da Síria, de quem é aliada e fornecedora de armas desde a época soviética.
A Coalizão Nacional Opositora síria, reunida desde quinta-feira em Istambul para discutir sua participação na conferência, se mostrou cética.
"Nós queremos ouvir essa declaração da boca do governo (do presidente Bashar) al-Assad", declarou à AFP Louay Safi, porta-voz da Coalizão, principal grupo de oposição sírio.
"Tudo isso é ainda muito vago e o governo de Assad é muito evasivo quando se trata de dar declarações ou informações sobre soluções políticas", afirmou Safi.
"Os russos já disseram que o governo sírio tinha uma equipe para negociar. (Mas) nós não sabemos segundo quais termos. Eles têm ou não têm os mandatos para negociar de boa-fé a transição?", questionou o porta-voz da Coalizão.
"Nós queremos saber se eles têm realmente a intenção de negociar a transição para um governo democrático que inclua a saída de Assad", continuou Safi.
A oposição síria exige que toda solução política implica a partida do presidente Assad e dos membros do regime mais envolvidos nos atos de violência, que já deixaram mais de 94.000 mortos em dois anos.
Essa posição teve o apoio dos 11 países "Amigos da Síria", entre eles os Estados Unidos, que em declaração comum na última quarta-feira em Amã afirmaram que "Assad, seu regime e seus assessores que têm sangue nas mãos não poderão desempenhar um papel no futuro da Síria".
O porta-voz da diplomacia russa disse nesta sexta-feira que já havia excluído qualquer condição anterior à conferência.
"Nós observamos novamente o aparecimento de uma pré-condição para a saída do presidente Bashar al-Assad, a questão da formação de um 'governo' sob a égide da ONU", declarou Lukachevitch.
"Tudo está senod feito para tirar o sentido da conferência", acrescentou.
Lukachevitch considerou precipitado eleger a data de 10 de junho para esta conferência, adiantada pela imprensa ocidental, O encontro dará continuidade ao encontro realizado em Genebra em junho de 2012.
"Não é correto pedir que se decida imediatamente a data para a conferência antes mesmo de saber exatamente quem, e com quais prerrogativas, se exprimira em nome da oposição", declarou Loukachevitch.
Em entrevista concedida recentemente ao jornal argentino Clarín, Assad garantiu que se recusará a deixar o poder antes das eleições presidenciais de 2014.
Os esforços em vista de uma conferência acontecem num momento crítico para a oposição síria, com o lançamento de uma vasta ofensiva do Exército sírio -- apoiado pelo movimento xiita libanês Hezbollah -- em Qousseir, cidade estratégica no oeste e dominada pelos rebeldes.
O conflito teve reflexo no Líbano, onde combates entre partidários e opositores ao regime sírio deixaram pelo menos 23 mortos em cinco dias na cidade de Trípoli, norte do país.