Combatentes curdos: eles ajudaram refugiados no Sinjar a ir para a vizinha Síria (AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2014 às 18h11.
Istambul/Beirute - Uma autoridade curda síria de alto escalão negou nesta sexta-feira o relato do presidente da Turquia de que curdos sírios concordaram em deixar que combatentes do Exército Livre da Síria entrem na cidade fronteiriça de Kobani para ajudá-los a repelir o cerco dos insurgentes do Estado Islâmico.
O Exército Livre da Síria é um termo usado para descrever dezenas de grupos armados que lutam para depor o presidente sírio, Bashar al-Assad, mas tem pouco ou nenhum comando central e vêm sendo superados por militantes muito mais bem-armados, como o Estado Islâmico.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, é um grande adversário de Assad e permitiu que seus opositores mais seculares e apoiados pelo Ocidente, como o Exército Livre da Síria, usem a Turquia como base e santuário.
Erdogan disse nesta sexta-feira que 1.300 combatentes do Exército Livre irão entrar em Kobani, já que o Partido de União Democrática (PYD, na sigla em inglês), legenda curda da Síria, concordou com sua passagem, mas seus comentários foram negados rapidamente por Saleh Moslem, vice-líder do PYD.
"Já estabelecemos uma conexão com o Exército Livre, mas um acordo tal como o que o senhor Erdogan mencionou ainda não foi alcançado”, declarou Moslem à Reuters por telefone em Bruxelas.
A falta de disposição da Turquia de enviar seus poderosos militares através da fronteira com a Síria para romper o cerco a Kobani revoltou os curdos e parece resultado do temor de fortalecer a etnia, que busca autonomia em regiões adjacentes na Turquia, no Iraque e na Síria.
A posição de Ancara também irritou aliados ocidentais no momento em que a ocupação do Estado Islâmico em vastas áreas da Síria e do Iraque causa choque em todo o mundo e os ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos, iniciados em agosto, tentam conter e reverter o avanço dos jihadistas.
Erdogan disse durante uma entrevista coletiva em visita à Estônia que Ancara está detalhando a rota de passagem para os combatente do Exército Livre, indicando que o grupo iria acessar Kobani pelo território turco.
Mas Moslem afirmou que as conversas entre o comandante do Exército Livre, Abdul Jabbar al-Oqaidi, e a facção armada do PYD sobre o possível papel dos rebeldes estão em andamento. “Já existem grupos ligados ao Exército Livre em Kobani nos ajudando”, disse.
Entretanto, o Exército Livre é pouco mais que uma sigla empregada para se referir a dezenas de grupos rebeldes de laços tênues que se queixam de falta de armas e recursos, o que os torna incapazes de confrontar efetivamente Assad e islâmicos mais bem-equipados.
Moslem afirmou que o Exército Livre seria mais útil se abrisse um segundo fronte contra o Estado Islâmico em outra parte da Síria.
O comandante do Exército Livre, Al-Oqaidi, falando à Reuters em Suruç, cidade turca na divisa diante de Kobani, declarou não ter havido acordo para começar a estabelecer uma força de defesa unida e que inicialmente 1.350 de seus combatentes devem ir a Kobani para prestar auxílio.
Na quinta-feira, autoridades dos EUA disseram que Kobani parece correr menos risco de cair nas mãos do Estado Islâmico depois dos ataques aéreos da coalizão e das entregas limitadas de armas, mas que a ameaça persiste.
A Turquia tem hesitado em se juntar à coalizão contra o Estado Islâmico, mas após o aumento da pressão de seus aliados ocidentais, Erdogan anunciou na quarta-feira que alguns combatentes curdos conhecidos como "peshmerga" terão permissão de ir a Kobani pelo território turco.
Embora autoridades turcas e norte-americanas tenham reconhecido que Kobani em si não é estrategicamente importante, o destino da cidade se tornou um teste de credibilidade da reação da coalizão contra os militantes que a sitiam.
Moslem disse estar decepcionado com a resposta turca até o momento.
“Quando realizei minhas reuniões na Turquia, esperava que a ajuda chegasse em 24 horas. Já se passou mais de um mês e ainda estamos esperando”, afirmou.