Em aproximação com o grupo islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), a dministração autônoma curda anunciou que adotou a nova bandeira da Síria (AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 15h11.
Os curdos da Síria acenam ao novo governo instalado em Damasco, mas os membros desta comunidade, que foi oprimida por muito tempo, teme agora perder a autonomia conquistada com grande esforço no nordeste do país.
Durante décadas sob o domínio do clã Assad, os curdos da Síria foram vítimas de medidas discriminatórias, como a proibição de aprender sua própria língua nas escolas e o isolamento do poder político.
Em um gesto de aproximação com o grupo islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), que, junto com seus aliados, derrubou o regime do presidente Bashar al Assad no último domingo (8), a administração autônoma curda anunciou que adotou a nova bandeira da Síria, que é utilizada pela rebelião há mais de uma década.
Dando o tom das expectativas, Mazlum Abdi, chefe das Forças Democráticas da Síria (FDS), lideradas por curdos e apoiadas pelos Estados Unidos, celebrou recentemente a "oportunidade de construir uma nova Síria baseada na democracia e na justiça".
No entanto, o futuro dos curdos da Síria, acusados de "separatismo" pelo governo anterior, "permanece incerto", devido, sobretudo, à "pressão crescente da Turquia e de facções sob seu controle", como aponta o analista Mutlu Civiroglu, de Washington.
De fato, aproveitando a ofensiva dos rebeldes do HTS, as milícias apoiadas por Ancara tomaram recentemente duas áreas no norte da Síria, Manbij e Tal Rifaat, ambas de maioria árabe e até então sob controle curdo.
As FDS controlam vastas áreas no nordeste da Síria, onde os curdos estabeleceram sua própria administração.
Essas milícias são aliadas do Ocidente na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), na qual estiveram na linha de frente, mas são consideradas pela Turquia como uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado como grupo terrorista por Ancara.
Na quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken afirmou que as FDS são "essenciais" para impedir que surja novamente na Síria a ameaça jihadista do Estado Islâmico, que há uma década cometeu várias atrocidades nas áreas atualmente sob controle curdo.
Seu homólogo turco, Hakan Fidan, concordou que, para Ancara, é prioridade combater o grupo Estado Islâmico, mas também, simultaneamente, o PKK.
A Turquia viu com bons olhos a tomada do poder em Damasco pelo grupo Hayat Tahrir al Sham e nomeou um representante diplomático na Síria. O movimento afirmou ter se distanciado de suas origens, quando se chamava Frente al Nusra e era um braço local da Al Qaeda.
"As facções de Damasco não reconhecem os curdos", diz à AFP Ali Darwish, um morador da cidade de maioria curda de Qamishli.
"Agora querem suavizar sua imagem perante a comunidade internacional", complementa.
Os novos líderes sírios reiteraram que as minorias serão protegidas, mas não se referiram expressamente aos curdos, que representam a maior minoria étnica do país.
"Queremos um Estado democrático que respeite os direitos e a religião de cada um", afirmou à AFP, em Qamishli, Jorshed Abo Rasho, um morador de 68 anos.
"Queremos um Estado federal, e não uma ditadura", concluiu.