O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon condenou as ameaças de Israel e dos EUA de atacarem o país islâmico (Joseph Mwenda/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2012 às 18h34.
Teerã - As situações de tensão em Irã e Síria foram os principais temas da abertura da 16ª Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados (MPNA), nesta quinta-feira, em Teerã, onde o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o presidente egípcio, Mohammed Mursi, evidenciaram os principais conflitos do Oriente Médio.
Diante dos governantes iranianos, Ban pediu que Teerã cumpra com as resoluções da ONU relativas ao seu programa nuclear e que facilite a atuação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no país.
Ban condenou, além disso, as ameaças de Israel e dos EUA de atacarem o país islâmico por causa de seu programa nuclear, mas também reprovou a negação da existência do Estado de Israel e do Holocausto judeu por parte dos líderes iranianos.
'Não aceito que nenhum país ameace outro com ataques, mas também não aceito que se negue um fato histórico tão dramático como o Holocausto', disse Ban, que qualificou estas atitudes como 'racistas' e afirmou que as mesmas 'minam os princípios fundamentais' da ONU.
Sobre o conflito na Síria, Ban pediu a colaboração dos países do Oriente Médio e de todos os Não Alinhados com o novo mediador para o país, o diplomata argelino Lakhdar Brahimi.
O conflito da Síria foi abordado de forma direta pelo presidente egípcio, o islamita Mohammed Mursi, que qualificou o regime liderado por Bashar al Assad como 'opressivo'. Além disso, o egípcio afirmou que o governo sírio perdeu sua legitimidade devido às ações violentas contra civis realizadas pelas forças do governo.
Em qualquer caso, Mursi disse que, para se chegar à paz, é preciso impedir uma generalização da guerra na Síria, e também pediu união à oposição para a obtenção de uma solução pacífica para o conflito.
Durante a intervenção de Mursi - que entregou a presidência temporária dos Não Alinhados ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad - a delegação da Síria, liderada pelo primeiro-ministro Wael Nader al Halqi, abandonou a sala, só retornando após o fim do discurso do presidente egípcio.
A cúpula foi aberta pelo líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que considerou um 'pecado imperdoável' a fabricação e o uso de bombas atômicas, e pediu que o Oriente Médio seja uma zona livre destas armas, embora tenha afirmado que o Irã não vai renunciar ao uso pacífico da energia nuclear.
Por outro lado, Khamenei reiterou o não reconhecimento da existência do Estado de Israel e apontou como uma 'solução justa e democrática' para o conflito palestino um 'referendo para decidir o futuro' dessa terra, com a participação de muçulmanos, cristãos e judeus.
Em referência aos Não Alinhados, Khamenei disse que nesta cúpula se quer reformar o movimento para revitalizá-lo após o 'fracasso da política da Guerra Fria e o unilateralismo que se seguiu'.
'Com as lições dessas experiências históricas, o mundo está em transição para uma nova ordem internacional, na qual o MPNA pode e deve desempenhar uma nova função', disse Khamenei, que, além disso, atacou o Conselho de Segurança da ONU e tachou de 'ditadura' o direito de veto dos cinco membros permanentes do órgão.
Segundo a organização da cúpula, das delegações oficiais presentes à reunião, 29 são lideradas por chefes de Estado, sete por primeiros-ministros e nove por vice-presidentes, e as demais são dirigidas por ministros, embaixadores e outros funcionários de cargos importantes.
Desde ontem, além do forte controle policial em Teerã, há restrições parciais para a circulação em algumas estradas e ruas para facilitar o trânsito dos sete mil delegados que são esperados na cúpula.
Também foram suspensos até sábado os voos nacionais, para facilitar as chegadas e saídas dos representantes internacionais.