Vista geral da cerimônia de abertura do 25ª encontro da Liga Árabe, realizado pelo emir do Kuwait, Sheikh Sabah al-Ahmed al-Sabah, no Bayan Palace (Stephanie McGehee/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2014 às 17h09.
Cidade do Kuwait - Alertando para "enormes" perigos, o Kuwait exortou nesta terça-feira os líderes dos outros países árabes a resolverem crises complicadas como a guerra na Síria e a instabilidade no Egito, mas diplomatas disseram que as tensões borbulhavam nos bastidores da cúpula anual árabe.
A reunião dos 22 membros da Liga Árabe também ouviu um apelo do enviado de paz árabe e da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi, para que seja interrompido o fluxo de armas aos combatentes na guerra síria, que já matou mais de 140.000 e deslocou milhões de pessoas.
Brahimi não revelou o nome dos fornecedores de armamento, mas a Arábia Saudita e o Catar são considerados os principais financiadores árabes de ajuda militar aos rebeldes na Síria, enquanto o Irã -- nação não-árabe -- é a principal potência regional de apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad.
"Toda a região corre o risco de ser arrastada para o conflito", afirmou Brahimi em um discurso proferido em nome do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Brahimi pediu novos esforços para reavivar o processo de paz lançado no início deste ano, em Genebra, com o objetivo de resolver a crise, agora em seu quarto ano.
"Faço um apelo aos membros da Liga dos Estados Árabes, em um esforço com a Federação Russa, os Estados Unidos e as Nações Unidas, para que tomem medidas claras para reenergizar Genebra II", disse ele, referindo-se às negociações que desmoronaram em fevereiro, após duas rodadas de conversações mediadas por Brahimi.
O anfitrião da cúpula, o emir do Kuweit, xeique Sabah Al-Ahmad al-Sabah, exortou os Estados árabes a superarem rixas que, segundo ele, estão bloqueando as iniciativas árabes. "Os perigos que nos rodeiam são enormes e não vamos avançar em uma ação árabe conjunta sem a nossa unidade, e sem deixarmos de lado as nossas diferenças", disse o emir.
Ele não apontou nenhum país, mas estava se referindo ao agravamento das disputas entre nações árabes sobre o papel político dos islâmicos na região, e sobre o que muitos países do Golfo consideram como ingerência nos seus assuntos por parte do Irã -- nação muçulmana xiita --, envolvido em uma luta por influência regional com a rival Arábia Saudita, que é muçulmana sunita.
Os países árabes precisam "enfrentar qualquer tentativa de causar problemas entre os nossos povos e países", disse o presidente interino egípcio, Adly Mansour. Eles deveriam apoiar as escolhas nacionais de cada Estado "e se absterem de serem arrastados para a busca de influência ou um papel que só levaria à divisão nas fileiras árabes".
Participantes da cúpula relataram que houve divergências sobre o apoio do Catar para o grupo Irmandade Muçulmana, agora proscrito no Egito, o modo como lidar com a crise da Síria e como definir "terrorismo" na região.
"Atrás das portas fechadas há tensão, mas é tudo por baixo da mesa, não houve confrontos (em público)", afirmou um dos diplomatas. "Há divisões claras sobre o que sauditas e os catarianos pensam."