Bandeiras de Cuba (E) e Estados Unidos: os ex-inimigos realizaram quatro rodadas de diálogo oficiais e uma preliminar sobre direitos humanos (Enrique De La Osa/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2015 às 16h16.
Havana - Estados Unidos e Cuba completam nesta quarta-feira seis meses desde o anúncio do restabelecimento das relações diplomáticas, uma aproximação histórica que se traduziu em intensas negociações e significativos avanços, apesar de um passo essencial ainda seguir pendente: a reabertura de embaixadas em Havana e Washington.
Em 17 de dezembro de 2014, os presidentes Barack Obama e Raúl Castro surpreenderam seus próprios países e o mundo pondo fim a mais de meio século de um confronto iniciado na Guerra Fria, dando início a um processo "longo e complexo", mas que já deu resultados.
Seis meses depois, os ex-inimigos realizaram quatro rodadas de diálogo oficiais e uma preliminar sobre direitos humanos. Cuba saiu da lista de países patrocinadores do terrorismo. Castro e Obama, em abril, fizeram uma reunião histórica na Cúpula das Américas, evento em que o governo da ilha participou pela primeira vez.
Esses são apenas alguns dos eventos mais relevantes que colocaram Cuba no centro da atenção internacional. Isso é representado pelas contínuas visitas de congressistas, empresários e grupos americanos, além de importantes personalidades de outras partes do mundo, ansiosos pelas oportunidades surgidas a partir dessa nova etapa.
No entanto, segue sem se concretizar uma medida chave no processo de reconciliação: a reabertura das respectivas embaixadas. O passo culminaria no restabelecimento das relações diplomáticas, embora não a total normalização. Para isso, Havana exige o fim do embargo e a devolução dos territórios americanos onde a Base Naval de Guantánamo está instalada na ilha.
A última rodada de negociação, realizada no dia 21 de maio, em Washington, terminou com a mensagem de que a abertura das representações diplomáticas estava próxima, ideia reforçada no dia 29 do mesmo mês, quando Cuba foi oficialmente retirada da lista de países patrocinadores do terrorismo elaborada pelo Departamento de Estado dos EUA anualmente.
Ambos os países evitam em fixar uma data para abertura de suas respectivas embaixadas, mas os escritórios de interesses em Washington e Havana parecem estar se preparando para uma nova rodada histórica nesse processo.
Há poucos dias, o Escritório de Interesses de Cuba na capital americana celebrou uma pequena cerimônia para instalação do mastro onde hasteará sua bandeira no futuro. Pelo lado americano, o equipamento já está pronto mesmo no edifício que foi sede da embaixada dos EUA até a ruptura das relações em 1961.
À espera da data, analistas como o ex-diplomata cubano Carlos Alzugaray consideram que os avanços conquistados até agora já são muitos, sobretudo se comparados às expectativas que existiam antes do anúncio histórico do dia 17 de dezembro.
"Quem poderia afirmar um dia antes que hoje estaríamos falando da abertura de embaixadas?", questionou Alzugaray em declarações à Agência Efe.
Após destacar que o restabelecimento de relações entre a ilha e os americanos é um processo irreversível, o ex-diplomata ressaltou a importância das negociações realizadas nos últimos seis meses, nas quais foi vital construir confiança e entendimento mútuo.
"Está sendo construindo um edifício totalmente novo, sem experiência em normalização de relações, que requer alicerces firmes em um terreno muito ruim. Esse é o espírito com o qual ambas as partes enfrentam o problema. É preciso construir algo que seja difícil de derrubar", assinalou.
No dia em que se completa meio ano do "degelo", os cubanos mostram ainda certo ceticismo sobre o processo, à esperança que a mudança tenha impacto em suas vidas com as oportunidades que serão abertas no país após a reaproximação completa.
"A opinião da rua é que estamos avançando em conversas. Mas o bloqueio é mantido e outras coisas não mudam. Mas claro, não sabemos como funciona o mecanismo diplomático", disse à Efe Jorge Luis Espino, um engenheiro agrônomo de 42 anos.
Para a estudante universitária Anabel Cataleno, a reaproximação deu início a "um cenário cheio de expectativas", apesar de as mudanças reais não terem chegado ainda aos cubanos.
Mais otimista está Mari Julia López, uma aposentada de 73 anos, que considera que distensão entre Cuba e EUA é algo "maravilhoso", que todos cubanos esperavam para ter mais formas de viver como o resto do mundo".