Raúl Castro (foto) só apresentou "limitadas mudanças" porque as autoridades "continuam tendo o direito" de dar ou negar as permissões de saída do país, afirmou Sánchez (REUTERS/Enrique De La Osa)
Da Redação
Publicado em 1 de maio de 2013 às 10h34.
Genebra - O governo de Cuba se prepara para autorizar a saída de 'dezenas' de opositores políticos nas próximas semanas, afirmou nesta quarta-feira o presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), Elizardo Sánchez.
O reconhecido opositor cubano, de 68 anos, se encontra em Genebra para acompanhar a avaliação da situação dos direitos humanos em Cuba nas Nações Unidas, assim como uma delegação oficial de Havana.
Sánchez foi o 19º dissidente que as autoridades cubanas autorizaram a saída do país desde o último mês de janeiro e, com o apoio de diversas organizações de direitos humanos, passou a visitar vários países para oferecer seu testemunho.
Em relação à decisão do governo de Raúl Castro de permitir essas viagens com direito ao retorno, o dissidente opinou que essa medida não deve ser interpretada como um sinal de abertura, mas como o resultado de um cuidadoso "cálculo custo-benefício".
"O cálculo é fácil para um governo tão antigo (54 anos no poder). Eles sabem o que os opositores vão dizer, mas tudo ficará no exterior. Em Cuba, onde o governo é dono de todos os meios de comunicação, as pessoas seguirão sem saber de nada, já que não têm acesso à internet e nem às emissoras internacionais", explicou o opositor.
"O regime abriu a jaula e os pombos começaram a voar, mas acredito que, posteriormente, todas retornarão normalmente à jaula", completou o dissidente, quem passou oito anos e meio preso em dois períodos diferentes (1980 e 1989) e não tinha autorização para sair da ilha há mais de uma década.
Segundo o opositor, que era tido como um preso de consciência pela ONG Anistia Internacional, suas prisões foram por motivos políticos, embora as autoridades cubanas o considerassem como um criminoso comum.
Questionado sobre o risco de ser vítima de represálias ao retornar a Cuba, Sánchez admitiu ter esse medo, mas também lembrou que vive com este sentimento há quase meio século e que isso não impediu que o movimento interno de defensores dos direitos humanos se ampliasse.
De acordo com Sánchez, a reforma migratória que permitiu a saída de vários críticos do regime de Fidel Casto, agora de seu irmão Raúl Castro, só apresentou "limitadas mudanças" porque as autoridades "continuam tendo o direito" de dar ou negar as permissões de saída do país.
O opositor defendeu a independência da CCDHRN e confessou que não tem expectativas que algo possa melhorar após a avaliação de Cuba no mecanismo conhecido como "Exame Periódico Universal" do Conselho de Direitos Humanos da ONU, no qual se avalia a situação dos direitos e liberdades nos países.
"Não esperamos muito porque o principal obstáculo para as coisas mudarem é o próprio governo", declarou.
Após sua visita à Suíça, Sánchez deverá voltar à Espanha e, posteriormente, a Bruxelas. Antes de retornar a Cuba, no próximo mês de junho, o opositor comparecerá a um congresso internacional de organizações de direitos humanos em Istambul, na Turquia.