Cuba: País amplia acesso à internet, mas ainda com custo alto. 3G só chegou ao país em dezembro de 2018 (Isaac Risco/picture alliance/Getty Images)
AFP
Publicado em 30 de julho de 2019 às 16h58.
Última atualização em 30 de julho de 2019 às 17h00.
Embora de uma forma pouco convencional, os cubanos poderão ter wi-fi em casa a partir desta segunda-feira (29), em mais um passo rumo à massificação da internet na ilha, sempre sob o olhar atento do governo, que usa a tecnologia para defender a revolução, afirmou o vice-ministro cubano das Comunicações, Ernesto Rodríguez.
"A revolução é um fenômeno que os cubanos abraçam e que defendem em quaisquer campos, nos terrenos e, se for necessário, também nos virtuais", afirma Hernández em entrevista à AFP.
Para o vice-ministro, a internet e as redes sociais servem "para posicionar a verdade de Cuba, não para manipular as coisas", o que transforma a rede em um novo campo de batalha político-ideológico, em um momento de fortes tensões diplomáticas com os Estados Unidos.
O setor de telecomunicações é o mais ativo há um ano na ilha, até então um dos países menos conectados do mundo.
Em dezembro passado, a tecnologia 3G chegou aos celulares, o que permitiu o surgimento nas redes sociais de uma comunidade muito ativa que expõe suas críticas ao governo, sobretudo ante as dificuldades cotidianas.
Os cubanos vão poder agora importar a tecnologia para capturar de casa o sinal sem fio da internet que a operadora estatal Etecsa emite de antenas em parques e praças.
Este sinal poderá ser, em seguida, distribuído em suas residências através de roteadores, que também têm autorização de importação, e contar com internet wi-fi a domicílio. O Estado não oferece conexão física de forma maciça.
"O objetivo do país é propiciar um acesso cada vez mais inclusivo (...) do serviço de internet por toda a população", afirma o vice-ministro.
Mas as exigências técnicas estabelecidas pela nova legislação, sobretudo em termos de frequência, condenam à morte as redes informais que os cubanos foram criando nos últimos anos.
Para Rodríguez, este "reordenamento" no "uso do espectro radioelétrico" é um "direito soberano" do Estado cubano.
Além disso, mantém-se a tarifa de um dólar por hora de navegação, exorbitante em um país onde o salário médio é de 50 dólares. O pacote de 3G mais barato custa 7 dólares por 600 mega.
Nas redes sociais, vários cubanos lançaram há várias semanas a campanha #Bajenlospreciosdeinternet (baixem os preços da Internet).
Desde que a internet sem fio chegou à ilha em 2013, a hora de navegação "caiu mais de quatro vezes no custo e seguirá baixando na medida em que as capacidades e que as possibilidades das infraestruturas de comunicação o permitam", explica Rodríguez.
Na ilha, com 11,2 milhões de habitantes, funcionam 1.400 zonas de wi-fi, 80.000 lares têm acesso à internet e 2,5 milhões de pessoas, acesso à 3G.
Mas o governo socialista parece avançar neste campo com desconfiança. "As tecnologias não são apolíticas como hoje tentam se apresentar (...), são manipuladas, são usadas", advertiu o vice-ministro.
"Nada fazemos ao fornecer um serviço de internet a quem não sabe lê-lo, a quem não sabe discernir entre a qualidade de um conteúdo de outro, a quem não sabe discriminar o que é proveitoso, o que é prejudicial, porque tudo o que há na internet não é bom", acrescenta.
Prova dessa preocupação é um pacote de medidas publicadas no começo de julho, onde se pede o "uso responsável dos cidadãos" e "a defesa política e a cibersegurança ante as ameaças, os ataques e riscos de todo tipo".
A mensagem é clara: a internet deve ser um "instrumento para a defesa da revolução", segundo esta norma que será aplicada pelo Ministério das Comunicações, em coordenação com o das "Forças Armadas e o do Interior".
Isto reforça a estrita supervisão existente das autoridades sobre a internet.
"Só um pequeno percentual da população tem acesso à internet global, diferentemente de uma intranet nacional controlada pelo governo. Os blogs e a web críticas costumam ser bloqueados", destacou sobre Cuba a ONG Freedom House em um recente informe.
Perguntado sobre este assunto, o vice-ministro responde que se trata de um mecanismo normal de proteção de seu país.
"Nós não compartilhamos os sites na internet que (...) possam incitar práticas discriminatórias, possam abordar temas que vão contra a moral, a ética, o comportamento responsável", diz Rodríguez.
"É um direito dos Estados proteger seu povo, a sociedade de práticas deste tipo e acredito que todos os países do mundo o fazem", concluiu.