Desde 2003, a economia argentina tem crescido em média 7% ao ano, graças em parte ao aumento dos preços do petróleo e de produtos agrícolas, como a soja. Mas o terceiro governo kirchnerista enfrenta hoje novos desafios (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2011 às 09h58.
Buenos Aires – Primeira mulher eleita e reeleita presidenta da Argentina, Cristina Kirchner assume hoje (10) o seu segundo mandato de quatro anos. Ela conta com o apoio da maioria do Congresso e do eleitorado. Na eleição do ultimo dia 23 de outubro, obteve 54% dos votos – mais do que todos os presidentes que governaram nos últimos 28 anos de democracia.
Cristina deve sua vitória ao bom desempenho da economia e à fragmentação da oposição. Ela sucedeu o marido, Nestor Kirchner, que morreu no ano passado. Ele foi eleito em 2003 com apenas 22% dos votos. Na época, a Argentina saía de uma das piores crises econômicas e políticas de sua história, parecida com a crise que hoje atinge a Europa. O país aguentou anos de recessão e de acordos jamais cumpridos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), antes de decretar a moratória da dívida externa e desvalorizar o peso.
Desde 2003, a economia argentina tem crescido em média 7% ao ano, graças em parte ao aumento dos preços do petróleo e de produtos agrícolas, como a soja. Mas o terceiro governo kirchnerista enfrenta hoje novos desafios. O principal é equilibrar as contas em meio a uma crise econômica internacional.
“Cristina Kirchner enfrenta hoje uma conjuntura econômica diferente daquela que encontrou quando foi eleita pela primeira vez”, disse o analista político Rosendo Fraga, em entrevista à Agência Brasil.
A economia e as exportações da Argentina continuam crescendo. Mas, no primeiro governo de Cristina, os gastos públicos também subiram. “Desde 2007, aumentaram 30% ao ano”, disse à Agência Brasil o economista Fausto Spotorno. Com isso, a Argentina, que tinha um superávit fiscal, hoje é deficitária.
Após ter sido reeleita, Cristina anunciou medidas para enxugar a economia e frear a saída de dólares do país. Ela manteve os programas de ajuda social, mas cortou os subsídios do governo que beneficiavam, além dos pobres, empresas e consumidores das classes média e alta.
Desde a crise de 2001, o governo congelou as tarifas de gás, luz e água, cobradas dos consumidores. Os aumentos das empresas eram financiados pelo Estado argentino. A partir de janeiro, não serão mais. Quem quiser se beneficiar dos subsídios terá que provar para a Afip (a Receita Federal argentina) que não está em condições de pagar suas contas.
O governo também impôs novos controles ao câmbio. Os argentinos que quiserem comprar dólares terão que pedir permissão ao Fisco e provar que têm em volume suficiente pesos declarados para realizar a operação. Na Argentina, essa medida tem um impacto grande: muitas pessoas estão acostumadas a poupar em dólares, e a guardá-los fora do sistema financeiro, para se protegerem das eventuais crises.
Além de enfrentar um panorama de crise mundial, Cristina Kirchner tem um desafio político pela frente: controlar os sindicatos, aliados ao governo. Eles pedem aumentos salariais de mais de 20% (índice de inflação das consultoras privadas, que representam o dobro do oficial). Os sindicalistas também querem pagar menos impostos e uma participação nos lucros das empresas. Cristina já disse que não cederá – uma decisão que foi bem acolhida pelo empresariado.
“Cristina manteve o discurso: quer que os empresários invistam mais no país. Mas deu um basta às reivindicações dos sindicatos, algo que os empresários interpretaram como positivo”, disse Rosendo Fraga.
Presidentes de vários países estarão presentes na segunda posse de Cristina Kirchner, entre eles Dilma Rousseff, que desembarcou em Buenos Aires ontem (9) à noite. Hoje, antes da cerimônia de posse, a presidenta brasileira terá um encontro com o presidente de Honduras, Porfírio Lobo. Na agenda, o interesse de empresas do Brasil de participar de obras de infraestrutura e a cooperação brasileira em programas sociais hondurenhos.