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Crise ucraniana ganha nova dimensão após incidente com avião

A crise ucraniana ganha uma nova dimensão com a queda de um avião comercial, aparentemente abatido por míssil, que matou 298 pessoas


	Local onde o Boeing 777 da Malaysia Airlines caiu, na Ucrânia
 (Maxim Zmeyev/Reuters)

Local onde o Boeing 777 da Malaysia Airlines caiu, na Ucrânia (Maxim Zmeyev/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2014 às 13h36.

Paris - Um avião comercial aparentemente atingido por um míssil, quase 300 vítimas sem nenhuma ligação com o conflito: a crise ucraniana ganha uma nova dimensão, que colocará todos os personagens, em primeiro plano os russos, sob forte pressão, afirmaram analistas internacionais nesta sexta-feira.

A escala da tragédia e seu caráter inesperado (os precedentes aviões comerciais abatidos sobrevoando uma zona de conflito são raros) têm uma primeira consequência: decifrar se "o que acontece no leste a Ucrânia é um tipo de guerra, e que já não está mais inserido no contexto de um conflito local", de acordo com Camille Grand, diretora da Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS).

"Após a queda do voo Amsterdã-Kuala Lumpur na região de Donbass (leste da Ucrânia), o conflito provavelmente aparecerá menos distante das populações da Europa e mais além", acrescenta o analista alemão Holger Schmieding, enquanto Thomas Gomart, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), acredita que "o leste da Ucrânia se tornou um câncer para a segurança europeia".

O avião, com 298 pessoas a bordo de várias nacionalidades, incluindo uma centena de especialistas em Aids que viajam para a Austrália para a Conferência Mundial da Aids 2014, provavelmente foi destruído em pleno voo por um míssil terra-ar, acreditam especialistas americanos.

Russos e rebeldes pró-russos de um lado, os ucranianos do outro, continuam nesta sexta-feira a se acusar mutualmente pelo disparo fatal.

"Mas se a hipótese mais provável for confirmada, ou seja, a de um tiro dos separatistas, isso aumentará ainda mais a tensão entre os ocidentais e os russos. Porque os separatistas não estão se armando sozinhos", ressalta Garnd, para quem "os governos ocidentais não podem ficar de braços cruzados frente a um evento desta magnitude".

Desde o início da crise ucraniana, há mais de quatro meses, americanos, europeus e as autoridades de Kiev, acusam Moscou de fornecer armas e equipamentos para os rebeldes separatistas do outro lado da fronteira.

Debate sobre as sanções econômicas relançado

Se o disparo de grupos rebeldes for confirmado, a Rússia voltará a ser pressionada a se dissociar claramente dos separatistas e controlar a sua fronteira com a Ucrânia, afirma o analista Chris Weafer do grupo de consultores econômicos Macro Advisory.

Na ausência de medidas concretas da parte da Rússia, "a pressão política Ocidental vai aumentar, e com ela, o risco de entrar na fase 3 das sanções", ou seja, a adoção de medidas que podem afetar seriamente a economia russa, acrescenta o analista.

"Nós acreditávamos até o momento que estas sanções eram improváveis, mas a tragédia do avião da Malásia pode potencialmente mudar o jogo", ressalta.

Antes mesmo deste desastre aéreo, os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira novas sanções econômicas sobre a Rússia, especialmente contra a gigante petrolífera Rosneft e o banco da companhia de gás Gazprom.

De acordo com especialistas, é provável que Washington intensifique a pressão sobre os europeus para que também multipliquem suas sanções, até então limitadas, contra Moscou.

As medidas de nível 3 têm sido discutidas pelos europeus que, no entanto, relutam em adotá-las por medo das consequências sobre suas relações econômicas com a Rússia: atividades financeiras dos oligarcas russos na City de Londres, contrato de venda de navios de guerra Mistral entre a França e Moscou, empresas alemãs que operam na Rússia, etc.

Para além do debate sobre as sanções, Kiev também será pressionado, em particular o presidente ucraniano Petro Poroshenko, que relançou a ofensiva militar para recuperar as regiões nas mãos dos separatistas. "A tragédia do avião chama a atenção internacional para a atitude de todos os envolvidos neste conflito", resume o alemão Holger Schmieding.

O presidente russo Vladimir Putin rejeita qualquer responsabilidade na tragédia, considerando que "nada teria ocorrido se as operações militares não tivessem siro retomadas" por Kiev.

Um cenário menos pessimista sugere que a destruição da Boeing vai empurrar os beligerantes a encontrar uma solução negociada. "O único raio de esperança neste terrível acidente é que ele pode servir como um catalisador para negociações sérias", de acordo com uma nota publicada no site da Carnegie Europa.

Mas a maioria dos analistas enfatizam a impossibilidade de prever as reações de Vladimir Putin e os seus planos de longo prazo para a Ucrânia.

E em Kiev, o analista político independente Volodymy Fessenko considera que "o incidente terá um impacto sobre a opinião pública na Ucrânia e tornará impossível negociar com os separatistas no futuro."

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