Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama: "Temos a impressão de que [EUA e Grã-Bretanha] estão agindo por improviso. Isso se confirmou com Obama que mudou de ideia e decidiu pedir a opinião do Congresso", diz especialista (Jason Reed/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2013 às 16h48.
Após dez dias de declarações ofensivas do Ocidente envolvendo uma "forte punição" a Damasco, as reviravoltas britânica e americana, denunciadas por meios de comunicação como sinal de fraqueza, podem trazer sérias consequências para a sua credibilidade em outros assuntos, como o Irã.
"Houve uma época em que Líbano, Síria e Egito tremiam quando Washington falava. Agora, nada. Ninguém mais no Oriente Médio leva a sério os Estados Unidos: sua credibilidade é questionada. E bastou olhar para Obama no sábado para compreender o porquê", resumiu nesta segunda-feira um editorialista do jornal britânico "The Independent".
Na Itália, o Corriere della Sera, comemorando "a revanche dos Parlamentos" na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, opinava sobre "o enfraquecimento dos poderes Executivos", enquanto o jornal francês Le Parisien destacou que nas redes sociais israelenses, Obama é tratado como "covarde". Por trás da Síria, é o Irã e suas instalações nucleares que estão na linha de tiro, acrescenta o jornal.
Para alguns especialistas, a "improvisação" constatada desde o ataque químico de 21 de agosto, atribuído ao regime de Bashar al-Assad, já se anuncia como algo debilitante na gestão da questão nuclear iraniana. Há anos, o Ocidente ameaça e acusa o Irã por seu programa nuclear, defendido por Teerã como unicamente para fins civis.
Que mensagem, perguntam, será enviada ao Irã ou à Coreia do Norte se, em se tratando de armas químicas, os países ocidentais recuarem?
"Por meio da questão síria, estamos claramente enviando uma mensagem a Teerã. A ideia de realizar ataques, mostra que o Ocidente não é tão covarde, e que se tratando de armas químicas, podemos responder", observou Karim Bitar, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).
Mas com o que aconteceu na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, "temos a impressão de que estão agindo por improviso, que lidam com a política dia após dia. Isso se confirmou com Obama no sábado que mudou de ideia apenas no último segundo e decidiu pedir a opinião do Congresso. Há um certo amadorismo, mas isso é devido ao fato de que o mundo mudou muito", diz o especialista.
No geral, a imprensa europeia foi particularmente severa com os líderes ocidentais por sua falta de firmeza refletidas em suas decisões políticas.
"Não mostre seu revólver quando não tiver certeza que irá atirar", escreveu o jornal alemão Süddeutsche Zeitung (centro-esquerda). Delegar a ordem de tiro ao Congresso é uma "manobra inteligente, mas tem enormes riscos", se o Congresso não seguir o presidente, porque "na próxima vez que quiseram usar gás, as tropas do presidente Bashar al-Assad não vão recuar".
Para um especialista em relações diplomáticas, que pediu para permanecer anônimo, o Ocidente tem agora uma "espada de Dâmocles" sobre a cabeça, com um Congresso americano que pode não seguir Barack Obama. "Estamos em um buraco e não conseguimos sair após declarações muito soltas", disse a fonte.
"Se nada acontecer, se cancelarmos qualquer ataque militar, isso poderia ser interpretado como um sinal de fraqueza, mas a priori acredito que as coisas foram longe demais para não se fazer nada", acredita Karim Bitar.