Pedro Sánchez: o premiê não conseguiu formar governo após as últimas eleições, em abril (Javier Barbancho/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2019 às 06h35.
Última atualização em 8 de novembro de 2019 às 06h58.
São Paulo — A Espanha está prestes a entrar ainda mais fundo no time dos países que assistem o parlamentarismo em colapso. Pouco menos de dois meses após dissolver o Parlamento pela falta de acordo entre partidos para a formação de um governo, os espanhóis voltarão às urnas no próximo domingo para a segunda eleição geral do ano ─ a quarta dos últimos quatro anos.
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) venceu as eleições de 28 de abril, mas as 123 das 350 cadeiras conquistadas no Parlamento não foram suficientes para governar. Sem conseguir o apoio de outros partidos, o candidato socialista e presidente do governo interino, Pedro Sánchez, viu sua gestão ruir rapidamente, assim com as outras duas que o antecederam.
A instabilidade política que a Espanha enfrenta em seu sistema parlamentarista não é exclusiva. Assim como não deu para Pedro Sánchez, Israel, Itália, Bélgica, Áustria e Reino Unido também são países parlamentaristas em plena crise política. Os casos levam um número crescente de analistas a se questionar sobre o que está dando errado com o sistema utilizado por mais de 60 nações do planeta. O Reino Unido, vale lembrar, também irá às urnas em dezembro.
Nas eleições de 2010, a Bélgica levou um tempo recorde de 541 dias para formar um governo. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, criou-se nos sistemas parlamentaristas, sobretudo nos europeus, um modelo de dois ou três partidos maiores que se dividiam entre a centro-esquerda (os social-democratas) e a centro-direita (os conservadores).
Partidos menores ou eram oposição quase inofensiva aos grandes partidos ou se uniam a eles em coalizões. Esse paradigma vem ruindo na mesma intensidade com que cai a popularidade dos partidos tradicionais, e com o fortalecimento de partidos menores, mais difícil fica conseguir um apoio hegemônico para formar um governo.
Na Espanha, pesquisas de opinião mostram que uma nova eleição pode não acabar com o impasse, uma vez que os socialistas ainda seriam incapazes de obter cadeiras suficientes no Parlamento. O conservador Partido Popular (PP), que ficou em segundo na eleição de abril, disse que votaria contra Sánchez.
Pablo Iglesias, líder do partido de extrema-esquerda Unidas Podemos, reafirmou, depois de se encontrar com o rei Felipe, que apoiaria a confirmação de Sánchez apenas se o líder socialista concordasse com um governo de coalizão. Os socialistas já descartaram um governo de coalizão com o Podemos.
Seja na Espanha ou em Israel, a falta de coalizões firmes permanecem gerando crises de governabilidade no parlamentarismo. No domingo, os espanhóis terão uma nova chance de chegar a um acordo. A dúvida é se irão.