Protesto contra o ex-presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol em Seul (AFP/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 28 de dezembro de 2024 às 12h22.
O caos político no qual se encontra a Coreia do Sul após a efêmera instauração de uma lei marcial e a destituição do presidente e de seu substituto provocou a desvalorização de sua moeda e pode enfraquecer a economia nacional a longo prazo.
O won, que caiu para o seu nível mais baixo desde 2009 na sexta-feira (27), vem se desvalorizando desde que o ex-presidente Yoon Suk Yeol chocou o país ao tentar decretar lei marcial no início de dezembro.
De acordo com números divulgados no mesmo dia pelo Banco da Coreia, o banco central do país, o nível de confiança das empresas e dos consumidores despencou em dezembro, atingindo os níveis mais baixos desde a pandemia de covid-19.
Na madrugada de 4 de dezembro, Yoon Suk Yeol declarou a lei marcial, algo que não ocorria desde 1980, e enviou o exército ao Parlamento, antes de recuar devido à pressão dos deputados e de milhares de manifestantes pró-democracia.
O Parlamento destituiu Yoon em 14 de dezembro e, também na sexta-feira, destituiu seu substituto interino, o primeiro-ministro Han Duck-soo, acusado de participar da insurreição. Com isso, o país ficou sob os cuidados do ministro das Finanças, Choi Sang-mok.
Em sua primeira declaração, ele se comprometeu a reduzir a tensão política. "O governo dedicará todos os seus esforços para superar este período turbulento", disse.
A Corte Constitucional deve se pronunciar sobre a validade da destituição do presidente em um prazo de seis meses. O problema é que, atualmente, o tribunal está com três juízes a menos, que se aposentaram e não foram substituídos. E embora o tribunal superior possa funcionar com os seis juízes atuais, um único voto dissidente significaria o retorno de Yoon à presidência.
A oposição queria que Han aprovasse mais três nomeações para a Corte Constitucional, o que ele se recusou a fazer, deixando a situação empacada.
"Embora enfrentemos desafios inesperados, estamos convencidos de que nossa economia, robusta e resiliente, se estabilizará rapidamente", garantiu na sexta-feira o novo presidente interino.
Choi Sang-mok, de 61 anos, passa a acumular três cargos: presidente interino, primeiro-ministro interino e ministro das Finanças. Ele também herda um orçamento para 2025 com um corte de 4,1 trilhões de wons (cerca de R$ 17 bilhões).
"A crise política se desenvolve em um contexto econômico difícil", explicou Gareth Leather, da Capital Economics, uma empresa de pesquisa econômica independente, em uma nota de análise.
"O PIB cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, e não se espera que cresça mais de 2% neste ano", impactado pela desaceleração da demanda mundial de semicondutores.
"A longo prazo, a polarização política e a incerteza podem frear os investimentos na Coreia", acrescentou Leather, lembrando o caso da Tailândia, um país ultrapolarizado cuja economia está estagnada desde o golpe de Estado de 2014.
No entanto, a maioria dos especialistas insiste que a economia sul-coreana tem resistido ao caos até agora. A atividade econômica continua como se nada tivesse acontecido, e todas as manifestações anti ou pró-Yoon ocorreram de forma pacífica.
O Banco da Coreia prometeu, em 4 de dezembro, injetar liquidez suficiente para estabilizar os mercados. O índice Kospi da Bolsa de Seul teve perdas limitadas de 3,8% desde 3 de dezembro.
"Os investidores não devem se preocupar com a estabilidade a longo prazo", afirmou à AFP Park Sang-in, professor de Economia da Universidade Nacional de Seul.
"Comparado com os Estados Unidos de Trump, acho que na Coreia do Sul temos uma situação muito mais estável e madura", acrescentou.