Sol nasce por trás do Capitólio, em Washington: amplo debate acontece sobre quem seria o maior perdedor dessa batalha (Jewel Samad/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2013 às 11h18.
Washington - Praticamente ninguém saiu vencedor da terra política arrasada na capital dos Estados Unidos provocada pela mais recente crise, que, no entanto, gera um amplo debate sobre quem seria o maior perdedor dessa batalha.
O Partido Republicano foi criticado sem piedade, o presidente Barack Obama não evitou a queda de sua popularidade e o país em geral teve abalada a reputação de ser o mais sólido espaço financeiro do mundo.
"Não há vencedores", declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carner, em um resumo da situação.
Os políticos, que raramente são muito populares, saíram da crise com a reputação ainda mais abalada. A opinião pública, já marcada por uma década de guerras e recessão, ficou ainda mais irritada.
Para Lara Brown, professora da Universidade George Washington, "existe um desejo de expulsar todo o 'establishment' de Washington".
A maior pancada foi reservada ao Partido Republicano, já que parte importante dos congressistas usou a paralisação do governo federal e o limite da dívida para forçar Obama a reduzir os recursos da reforma da saúde pública, conhecida como Obamacare, ou adiar sua entrada em vigor.
O partido fracassou nas duas frentes, pois Obama permaneceu firme e se negou a pagar um "resgate".
No processo, os republicanos constataram a ampliação das divisões internas, ao ponto dos senadores conservadores se permitirem fazer piadas com as táticas radicais dos deputados do partido.
"A forma como atuam e o caminho iniciado nas últimas semanas conduzem um partido marginalizado aos olhos dos americanos, a uma forma forma de conservadorismo que está provavelmente além do que o mercado pode tolerar", disse o senador republicano Lindsey Graham.
O presidente da Câmara de Representantes, John Boehner, incapaz de controlar a própria bancada, se tornou uma figura sem brilho e agora é líder partidário apenas no nome.
Obama, que aos olhos do mundo saiu fragilizado, pelo menos pode afirmar que manteve os princípios.
"O presidente conseguiu o que queria e, assim, me parece que é o vencedor", disse James Thurber, professor da American University.
"Mas está em uma situação na qual terá um enorme confronto em dezembro", completou.
Além disso, o atual ambiente político em Washington compromete o segundo mandato do presidente.
"Obama debilitou o Partido Republicano, mas não melhorou materialmente sua posição para fazer avançar uma agenda afirmativa", opinou Thomas Mann, da Brookings Institution.
Para o Partido Republicano resta agora a difícil tarefa de desativar a ala ultraconservadora do Tea Party, que avançou e conquistou nomes no centro moderado do partido.
Uma pesquisa do instituto Pew mostrou que apenas 30% dos americanos têm opinião favorável ao movimento ultraconservador.
Para alguns, no entanto, a derrota permite algumas vantagens.
Este é o caso do senador Ted Cruz, que liderou uma luta feroz contra a reforma da saúde, comandou os radicais no Congresso e até violou tradições no Senado.
O prêmio de Cruz é sair da crise como o líder indicustível da extrema-direita, três anos antes da escolha de um candidato do partido à presidência.
Neste cenário, o Senado parece ser a única instituição que sai da crise sem muitas cicatrizes e, possivelmente, com o crédito mais ou menos intacto.
O senador democrata Harry Reid e o opositor republicano Mitch McConnell superaram todas as divergências no Congresso para manter canais de diálogo e alcançar um acordo.
Em particular, Reid aparece como o comandante que manteve as tropas em ordem, salvou a reforma da saúde, derrotou as manobras de Boehner e enfrentou abertamente o Tea Party.