Energia: o receio é o de que sem um recuo nas posições adotadas pela guerra na Ucrânia, os cortes aumentem, se tornem mais constantes ou mesmo definitivos, à medida que o inverno se aproxima. (ThinkStock/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de agosto de 2022 às 11h00.
Enfrentando calor e seca, que reduziram o volume dos rios, além da guerra na Ucrânia, que afetou o fornecimento de energia, a Europa começa a se preparar para um inverno difícil sem o abastecimento de gás russo. Alemanha, França, Reino Unido e Suíça já anunciaram medidas para reduzir o consumo de energia e acumular reservas para o período mais frio do ano.
A Alemanha aprovou nesta quarta, 24, uma norma que restringe o aquecimento em prédios públicos e proíbe a instalação de painéis publicitários luminosos por um prazo de seis meses. A Suíça estabeleceu uma meta voluntária de reduzir em 15% o consumo de gás até a chegada do inverno.
Quer saber tudo sobre a política internacional? Assine a EXAME e fique por dentro.
O Reino Unido reconheceu que a pressão sob o sistema energético alcançou níveis "extremos", passando a projetar os piores cenários em caso de escassez, como restrições no fornecimento de gás às indústrias e centrais elétricas, resultando em cortes de energia para empresas e residências.
Na França, o presidente, Emmanuel Macron, alertou que a população precisará fazer "sacrifícios" pelo fim do que chamou de "era de abundância", em sua primeira reunião de gabinete após as férias de verão. As iniciativas nacionais são parte de um esforço dos países europeus para superar a crise proveniente do apoio à Ucrânia na guerra, que entrou no sexto mês.
O envio de armas a Kiev e as sanções aplicadas à Rússia e a autoridades e personalidades ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin, acenderam um alerta sobre um possível boicote de Moscou por meio do fornecimento de gás - principal matriz energética utilizada para o aquecimento residencial em certos países.
A preparação dos europeus começou a tomar forma em junho, quando os países da União Europeia chegaram a um acordo para reduzir o consumo de gás em 15% para diminuir a dependência energética da Rússia. A lei, que inicialmente previa medidas voluntárias, continha também um gatilho para ações obrigatórias, caso os objetivos não fossem alcançados.
A Rússia não chegou a anunciar um corte total no fornecimento de gás para a Europa, mas certas sinalizações aumentaram o nível de preocupação sobre o uso político do gás e já afetam o preço da energia: o megawatt-hora passou dos € 300 ontem, após anúncios da estatal russa Gazprom de que suspenderá o fornecimento de gás pelo NordStream 1, principal gasoduto da Europa, entre 31 de agosto a 2 de setembro, alegando razões técnicas e de manutenção.
O receio é o de que sem um recuo nas posições adotadas pela guerra na Ucrânia, os cortes aumentem, se tornem mais constantes ou mesmo definitivos, à medida que o inverno se aproxima. As consequências poderiam variar de apagões, frio extremo para parte da população e consequências econômicas para além do preço da energia.
"Os governos ocidentais devem fazer um convite à miséria econômica em uma escala que testaria o tecido da política democrática em qualquer país ou enfrentar o fato de que o fornecimento de energia restringe os meios pelos quais a Ucrânia pode ser defendida", disse Helen Thompson, professora de Economia da Universidade Cambridge em artigo publicado no Financial Times.
Pela via política, líderes europeus tentam resistir. Em Paris, Macron afirmou que as dificuldades dos próximos meses seriam "o preço a se pagar" por defender a liberdade na Ucrânia. "Nosso sistema com base na liberdade em que nos acostumamos a viver, às vezes, quando temos de defendê-lo, pode significar fazer sacrifícios", afirmou.
Na terça-feira, 23, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que a UE deve reafirmar sua unidade para frustrar os plano de Putin - que, segundo ele, aposta em uma ruptura do apoio do bloco à Ucrânia. Para Borrell, Putin observa a "relutância" dos europeus "em arcar com as consequências de apoiar a Ucrânia", o que obriga a UE a "diluir os custos" do conflito.
Borrell enfatizou a necessidade de "assumir e distribuir os custos" da energia e defendeu uma reforma na definição dos preços, que atualmente estão indexados aos preços do gás. "O presente mais bonito que a Europa pode dar à Rússia agora é pagar pela eletricidade ao preço do gás", concluiu.
Uma reunião entre chanceleres e ministros da Defesa da UE está marcada para 30 e 31 de agosto, em Praga, para discutir o apoio à Ucrânia e a continuidade da campanha de pressão contra a Rússia.