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Fim da linha para Boris Johnson? Entenda a crise que afeta o governo do Reino Unido

Envolto em crises nos últimos meses, o premiê conservador Boris Johnson perde apoios e sofre pressão para renunciar

Boris Johnson: no cargo desde 2019, premiê britânico tem ganhado a alcunha de "mentiroso" entre a opinião pública (Chris J. Ratcliffe/Bloomberg/Getty Images)

Boris Johnson: no cargo desde 2019, premiê britânico tem ganhado a alcunha de "mentiroso" entre a opinião pública (Chris J. Ratcliffe/Bloomberg/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 7 de julho de 2022 às 06h00.

Última atualização em 7 de julho de 2022 às 06h40.

O fim da linha parece estar cada vez mais próximo para o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

Envolto em crises nos últimos meses, o premiê do Reino Unido entrou de vez na berlinda após um escândalo sexual de um parlamentar próximo ao governo. Agora, a política britânica segue em um cabo de guerra a partir desta quinta-feira, 7: parte do Partido Conservador quer remover o primeiro-ministro do cargo, enquanto Johnson tenta a todo custo angariar apoios para permanecer.

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Um a um, ao menos 40 membros do governo já saíram de seus cargos. Por fim, em uma tensa reunião na noite de quarta-feira, 6, até mesmo uma delegação com seus principais aliados tentava convencer Johnson a renunciar de vez, mas o premiê se recusa a sair.

A leitura entre a imprensa britânica nas últimas horas é que sobrou a Johnson pouca força para ficar no cargo. "O jogo acabou", disse um ministro a Johnson em Downing Street, residência do governo britânico, segundo o jornal Financial Times.

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O principal objetivo agora entre parte do Partido Conservador - legenda do premiê - é tentar salvar o mínimo de popularidade do partido para não afundar junto ao governo atual.

Johnson na última reunião de gabinete, na segunda-feira, 5: desde então, governo teve mais renúncias em série (Justin Tallis - Pool/Getty Images)

Sem o apoio do partido, Johnson poderia, na prática, perder o cargo em uma votação no Parlamento. Mas os próximos passos são incertos, e as negociações devem seguir ao longo dos próximos dias.

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Johnson ainda não havia aceitado sair até o fim do dia de ontem, e deve tentar brigar pelo cargo. O premiê demitiu também demitir o ministro Michael Gove, um dos que o aconselharam a renunciar. Johnson tenta formar um novo gabinete entre os últimos conservadores que ainda aceitam participar do governo, e diz que vai apresentar um plano econômico para uma nova fase.

Por que o governo Johnson entrou em crise

O governo está em queda livre desde o fim da última semana, quando vieram à tona escândalos sexuais envolvendo o parlamentar conservador Chris Pincher.

Pincher renunciou a sua posição como um dos líderes do governo no Parlamento na semana passada ao reconhecer que apalpou, quando estava embriagado, dois homens, incluindo um deputado, em um clube de Londres. "Caro primeiro-ministro: na noite passada, eu bebi de forma excessiva", escreveu Pincher em uma carta de renúncia.

O caso poderia não ser um escândalo derradeiro em outras situações. Mas, com um governo Johnson já questionado por outros escândalos e a inflação crescente no Reino Unido, o caso evoluiu para acusações de "perda de confiança" no governo.

VEJA TAMBÉM: Boris Johnson ganha votação no Parlamento após 'partygate' e se mantém no cargo

Já eram conhecidas acusações de assédio contra Pincher ao menos desde 2017, incluindo com casos documentados contra outros homens. Assim, a principal questão recente envolve a decisão de Johnson em nomear o parlamentar mesmo assim (Pincher é conhecido por ser um parlamentar muito leal a Johnson e conseguir virar votações em favor do governo).

Nos primeiros dias, aliados de Johnson no Partido Conservador seguiram afirmando que o premiê não sabia de acusações contra Pincher antes de nomeá-lo. Depois, quando ficou claro que o premiê já sabia do passado controverso de Pincher, Johnson disse ter cometido um "erro" e "esquecido".

Johnson tem ganho a alcunha de "mentiroso", segundo as pesquisas de opinião.

Assim, nos últimos dias, um número crescente de políticos conservadores passou a ampliar as críticas a Johnson em público.

Antes disso, o governo Johnson já quase havia perdido o cargo em uma moção de confiança no Parlamento no mês passado, depois que veio a público que festas ocorreram na residência oficial do governo durante lockdowns na pandemia. O caso ficou conhecido como "partygate", e o premiê sobreviveu por pouco.

Aliados têm dito que, agora, Johnson definitivamente perderia uma segunda votação se a situação chegasse a ela, mas o premiê tem resistido e espera que o clima mude nos próximos dias - na reunião com o alto escalão conservador o pedindo para renunciar, teria afirmado que "milhões de pessoas votaram em mim apenas dois anos atrás", segundo disse uma fonte ao jornal The Guardian.

O que acontece se Johnson deixar o cargo

Oficialmente, a próxima eleição geral marcada no Reino Unido é somente em 2025, e Johnson deveria ficar no cargo até esta data.

Se o atual premiê renunciar ao cargo ou for removido por uma moção de confiança no Parlamento, a liderança continuaria com o Partido Conservador, por ter vencido as últimas eleições em 2019.

Boris Johnson em campanha pró-Brexit (foto de arquivo): o ex-jornalista ganhou notoriedade com o apoio à saída da União Europeia e virou premiê em 2019 (Carl Court/Getty Images)

A partir daí, caberia ao Partido Conservador uma votação entre seus membros (incluindo cidadãos filiados) para escolher um novo líder, que, devido à maioria da legenda no Parlamento, seria então o novo premiê.

A tendência, se Johnson sair, é que o partido passe meses em uma ferrenha disputa interna pela sucessão, o que deve desestabilizar novamente a política britânica em um momento delicado - com a inflação indo a 8% com a crise global e a guerra na Ucrânia afetando a Europa.

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Do outro lado do espectro político, a derrocada de Johnson pode dar força à oposição, que há mais de uma década não consegue ameaçar os conservadores no poder.

O atual líder dos trabalhistas, Keir Starmer, tem pedido eleições antecipadas diante da crise no governo. "É hora de nos livrar de todos eles", disse. Se houver eleições, Starmer tem chances de vencer segundo as pesquisas, em meio à queda na popularidade do governo Boris Johnson afetando também os conservadores como um todo.

No Reino Unido, funciona majoritariamente um sistema bipartidário, com o Partido Conservador e o Partido Trabalhista, mais à esquerda no espectro. O partido que ganha o maior número de cadeiras nas eleições gerais escolhe o primeiro-ministro.

Os conservadores estão no poder desde 2010, com David Cameron (2010-16), depois Theresa May (2016-19) e o próprio Johnson (a partir de 2019).

O último premiê trabalhista foi somente Gordon Brown (2007-10), que sucedeu o também trabalhista Tony Blair, que ficou no cargo por uma década (1997-2007).

Antes conhecido sobretudo por bravatas anti-sistema, Boris Johnson foi alçado à elite da política britânica após o referendo do Brexit, em que uma apertada maioria de 52% dos britânicos optaram por deixar a União Europeia. Ex-jornalista, Boris Johnson era uma das principais vozes pró-Brexit, mas nunca havia sido da elite tradicional dos conservadores até então.

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Johnson terminou chegando ao cargo de premiê diante da tensão que marcou os anos pós-Brexit no Reino Unido. Com a impossibilidade de a ex-premiê Theresa May fechar um acordo para efetivar o Brexit, Johnson foi escolhido líder do Partido Conservador e lançado candidato a premiê nas novas eleições gerais convocadas no fim de 2019 após a saída de May.

Os conservadores venceram com 44% dos votos, seu melhor resultado desde 1987. Johnson virou premiê, chegando com a missão de tirar de vez o Reino Unido da UE. A saída se efetivou em 2020, apesar de imbróglios ainda existentes na Irlanda e Irlanda do Norte.

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