Homens armados montam guarda na cidade portuária de Feodosiya, na região da Crimeia, na Ucrânia (Thomas Peter/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2014 às 13h33.
Londres - Com potências ocidentais cada vez mais concluindo que a Ucrânia perdeu a Crimeia para a Rússia, os Estados Unidos e seus aliados contam com poucas opções viáveis e sérias questões sobre as futuras relações entre os países.
Ao ignorar o aviso do presidente norte-americano, Barack Obama, na sexta-feira para ficar fora da Ucrânia, a Rússia parece estar precipitando a maior crise nas relações Rússia-Ocidente, pelo menos desde a queda do Muro de Berlim.
A maneira como os eventos vão se desenrolar nos próximos dias pode ajudar a moldar o mapa geopolítico dos próximos anos.
Qualquer ação militar ocidental direta arriscaria uma guerra entre as superpotências nucleares. Relativamente pequena e com arsenal reduzido, as forças da Ucrânia poderiam agir, mas correriam o risco de incitar uma invasão russa muito mais ampla que poderia dominar o país.
Obama, em particular, enfrenta algumas exigências nacionais para apoiar a Ucrânia, embora o apetite para o envolvimento militar está aparentemente ausente. No sábado, o Pentágono disse que não houve mudança nas operações de suas tropas.
"Para o Ocidente, é uma posição muito difícil", disse Nikolas Gvosdev, professor de segurança nacional do Naval War College dos Estados Unidos. "Obama definiu efetivamente as linhas vermelhas dos Estados Unidos", disse ele. "Putin passou por cima delas." As forças russas sem insígnia oficial tomaram o controle de importantes instalações na península da Crimeia, no Mar Negro, ao longo dos últimos três dias e cercaram unidades militares ucranianas.
O melhor que pode ser feito agora, dizem algumas atuais e antigas autoridades, é evitar uma nova escalada que faça Moscou assumir o leste industrializado da Ucrânia, também majoritariamente de língua russa e muito maior e economicamente mais importante.
Washington e outras potências da Otan também precisam encontrar uma forma de tranquilizar os Estados do Leste Europeu cada vez mais aflitos - especialmente os bálticos ex-soviéticos - de que suas garantias de defesa serão honradas, sem escalar as tensões.
O risco de erros é alto. Assim como as forças convencionais, a Rússia pode cortar o fornecimento de gás para a Europa, cujos gasodutos passam pela Ucrânia, e acredita-se que o país tenha capacidades de ataque cibernéticos sofisticados que poderiam ser usadas contra a Ucrânia ou o Ocidente.
"Esta é, sem dúvida, a situação mais perigosa na Europa desde a invasão soviética da Tchecoslováquia em 1968", disse um diplomata ocidental que não quis ser identificado. "Com as tropas de prontidão em exercício no distrito militar ocidental (da Rússia ), eles estão em uma posição forte." As tropas soviéticas invadiram a Tchecoslováquia em 1968, após a "Primavera de Praga" ver um governo mais moderado chegar ao poder, considerado muito mais aberto para o Ocidente que para a antiga União Soviética.
Apesar dos pedidos de ajuda feitos pela Tchecoslováquia, Washington e seus aliados ofereceram pouco mais do que críticas, relutantes em arriscar uma guerra nuclear depois da crise dos mísseis cubanos, seis anos antes.
O atual impasse é mais perigoso do que durante a guerra de 2008 na Geórgia, em que os países ocidentais se contiveram em parte porque o governo da Geórgia foi acusado de promover uma escalada da guerra por meio de uma tentativa de dominar a disputada região da Ossétia do Sul.
Com o envio de tropas para a Ucrânia, em contrapartida, Moscou é visto como tendo invadido unilateralmente um Estado soberano - embora haja forças russas na Crimeia, em uma base alugada para sua frota do Mar Negro, em Sebastopol.
Países membros da Otan não têm alianças que os vinculem à Ucrânia, apesar de autoridades ocidentais terem sido amplamente favoráveis à derrubada do presidente pró-Moscou Viktor Yanukovich na semana passada, depois que dezenas de manifestantes favoráveis à Europa foram mortos a tiros.
Fronteiras da Ucrânia também foram garantidas pelo Memorando de Budapeste, de 1994, também assinado por Rússia, EUA e Grã-Bretanha, em troca da desistência de armas nucleares da era soviética restantes no país após o colapso da URSS.