Protestos na Bolívia contra o aumento dos preços dos combustíveis, de até 83% (Jorge Bernal/AFP)
Da Redação
Publicado em 31 de dezembro de 2010 às 09h05.
La Paz - Quinze agentes ficaram feridos e 21 pessoas foram detidas nos choques entre policiais e manifestantes ocorridos nesta quinta-feira nas cidades bolivianas de El Alto e Cochabamba, em meio à crise provocada pelo aumento de até 83% nos preços dos combustíveis.
"Há 15 policiais feridos em El Alto, dois gravemente. Em Cochabamba, 16 (manifestantes) foram detidos, e outros cinco em El Alto", informou à AFP o ministro do Interior, Sacha Llorenti.
Segundo o ministro, "atos de vandalismo" foram cometidos por ativistas "identificados" do Movimento Sem Medo (MSM), do ex-prefeito de La Paz Juan del Granado.
O ministro informou que manifestantes atacaram a polícia com pedras, e os agentes reagiram com bombas de gás lacrimogêneo.
Durante os protestos, a multidão quebrou o portão da sede da Vice-Presidência boliviana, incendiou postos de pedágio, destruiu agências da empresa aérea estatal BoA e atacou as sedes da Central Operária e do sindicato dos plantadores de coca.
Os manifestantes também tentaram queimar uma bandeira da Venezuela e incendiar o monumento ao guerrilheiro Ernesto Che Guevara.
El Alto, cidade-dormitório vizinha a La Paz, foi tomada por milhares de manifestantes, que levantaram barricadas e incendiaram pneus para interromper o trânsito.
Em Cochabamba, os grevistas do transporte de carga estacionaram caminhões nos cruzamentos para bloquear o tráfego.
Santa Cruz de la Sierra, motor do desenvolvimento boliviano, também era muito afetada pela paralisação dos transportes.
Durante a tarde, um grupo liderado pelo MSM tentou chegar ao Palácio Presidencial de La Paz, mas foi reprimido pela polícia de choque, que dispersou o protesto com bombas de gás lacrimogêneo.
Diante da repressão policial, o grupo desistiu de chegar à Praça das Armas, onde estão as sedes dos poderes Executivo e Legislativo.
Em meio aos protestos, a população correu em busca de alimentos e formou enormes filas em torno dos mercados de La Paz.
Os manifestantes exigem a renúncia de Morales, que deflagrou a crise ao decidir pelo fim dos subsídios aos combustíveis, provocando um aumento de 83% na gasolina e de 73% no díesel.
Para suavizar a alta dos combustíveis, Morales aumentou em 20% o salário mínimo e a remuneração das Forças Armadas, da polícia e dos funcionários da saúde e da educação.
O presidente também anunciou outras medidas, como incentivos a agricultores e a pequenos empresários.
Morales convocou ainda os militares para tentar reduzir os efeitos das greves que paralisam o país.
O ministro da Defesa, Rubén Saavedra, anunciou que homens das Forças Armadas farão e venderão pães ao "preço antigo", diante da decisão do sindicato dos padeiros de parar a categoria por 24 horas e elevar o preço do pão em até 100%.
Os militares bolivianos também foram chamados para dirigir ônibus e caminhões visando atenuar o aumento unilateral de 100% nos preços das passagens de taxis e micro-ônibus que ignoram a greve nos transportes.
A Força Aérea Boliviana está realizando voos comerciais na rota La Paz-Cochabamba-Santa Cruz ao preço simbólico de 150 bolivianos (20 dólares).
Morales afirma que elevou os preços da gasolina e do díesel para enfrentar o contrabando de combustíveis para os países vizinhos, ao custo anual de 150 milhões de dólares.
A Bolívia tem um consumo de 35 mil de barris diários de petróleo, e em 2010 produziu apenas 4.500 barris diários. O restante é importado, principalmente de Venezuela e Argentina.