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Crime neonazista ativa debate sobre homofobia no Chile

Daniel Zamudio, de 24 anos, foi brutalmente atacado em um parque de Santiago na madrugada no dia 3 de março

Nesta quarta-feira, está prevista uma cerimônia com velas na frente do Palácio de Moeda (AFP/Arquivo / Martin Bernetti)

Nesta quarta-feira, está prevista uma cerimônia com velas na frente do Palácio de Moeda (AFP/Arquivo / Martin Bernetti)

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Da Redação

Publicado em 28 de março de 2012 às 21h53.

Santiago do Chile - A morte de um jovem homossexual, agredido por um grupo de supostos neonazistas, acabou comovendo o Chile e ativando o debate sobre a homofobia no país, onde o caso pode marcar um ponto de inflexão em relação à tolerância.

Daniel Zamudio, de 24 anos, foi brutalmente atacado em um parque de Santiago na madrugada no dia 3 de março e, após 25 dias hospitalizado, faleceu na última tarde de terça-feira na Posta Central, o principal hospital de urgências da capital chilena.

Segundo os médicos, os agressores arrancaram parte de uma orelha, marcaram o corpo com suásticas, deixaram cair várias vezes uma grande pedra sobre o estômago e ainda quebraram uma das pernas do jovem.

Na porta do hospital, centenas de pessoas depositaram flores e velas, entre mensagens de esperança: 'Daniel, tua morte não será em vão', ou 'Daniel, que tua partida nos de coragem para caminhando sem medo', diziam alguns deles.

O corpo de Zamudio foi levado nesta quarta ao Serviço Médico Legal (SML). Após sua chegada, os pais do jovem levaram o corpo para sua casa em São Bernardo, ao sul da capital, onde os vizinhos já haviam preparado uma cerimônia para realizar o velório. Depois de inúmeros atos de homenagem, o jovem será sepultado nesta sexta-feira, no Cemitério Geral.

Nesta quarta-feira, no período da tarde, também está prevista uma cerimônia com velas na frente do Palácio de Moeda (sede do governo), enquanto nesta sexta-feira também foi convocada uma marcha que será finalizada no Parque São Borja, onde Zamudio foi agredido.


O presidente Sebastián Piñera, que está na Ásia, afirmou que a morte de Zamudio 'não ficará impune e que reforçará o compromisso total do governo contra toda discriminação arbitrária'.

Os ministros do Interior, Rodrigo Hinzpeter, e o de Saúde, Jaime Mañalich, apresentaram no mesmo hospital suas condolências à família.

Os pais estiveram acompanhados pelo Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh), a organização de minorias sexuais mais ativa do Chile, cujo presidente, Rolando Jiménez, acusou as igrejas católicas e evangélicas de incitar o ódio em direção às minorias sexuais.

O presidente da Conferência Episcopal, Ricardo Ezzati, condenou a agressão do jovem que, segundo ele, aconteceu em circunstâncias 'dolorosas e repudiáveis'. Os parlamentares governistas, que rejeitam um projeto de lei contra a discriminação que dorme no Congresso desde 2005, também foram alvos de muitas criticas.

O porta-voz do governo, Andrés Chadwick, anunciou nesta quarta que o Executivo dará soma urgência à tramitação dessa iniciativa, que deverá ser batizada como 'Lei Zamudio' e cuja vigência, para muitos, possivelmente teria evitado sua morte.

'Sabemos bem que uma lei não vai solucionar todos os problemas, que, por sinal, são muito mais profundos. Esses conceitos têm que começarem a ser transmitidos desde cedo, de casa, de nossa cultura e nossa formação como sociedade', ressaltou Chadwick.

Enquanto a lei não sai do papel, o artigo 373 do Código Penal, que proíbe os homossexuais de se beijarem na rua por supostamente 'ofenderem o pudor e os bons costumes', segue vigente.


O Tribunal Constitucional também descartou que outro artigo do Código Penal, que fixa em 14 anos a idade de consentimento para se manter relações sexuais entre heterossexuais e 18 para os homossexuais, viole o princípio de igualdade.

A morte de Zamudio supõe um novo golpe para o Chile, isso depois que a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenasse o Estado por discriminar uma juíza por ela ser lésbica, já que a mesma perdeu a custódia de suas filhas.

Pelo Twitter, a Juventud Guzmán, um grupo que se declara seguidor de Jaime Guzmán, fundador do governista União Democrata Independente (UDI), escrevia nesta quarta mensagens como esta: 'A doença que tinha Daniel Zamudio não fazia ele perigoso. Era um homossexual sodomita'.

Encorajados ou não por esse clima, quatro jovens entre 20 e 26 anos, três deles com antecedentes criminais por ataques xenofóbicos e homofóbicos, estão em prisão preventiva acusados pela autoria desta agressão.

O juiz nacional, Sabas Chahuán, confirmou nesta quarta que agora eles serão acusados de homicídio qualificado consumado, o que poderia gerar uma condenação de 40 anos de prisão. Chahuán também cobrou dos outros juízes uma 'indagação a fundo' nos casos de discriminação.

O caso de Zamudio também ganhou repercussão no exterior. O cantor Ricky Martin, que tinha dedicado um prêmio ao jovem, escreveu em sua página Twitter uma pequena citação 'Daniel Zamudio RIP', enquanto o Partido Socialista Operário (PSOE) espanhol condenou o assassinato.

Segundo o Movilh, a tragédia envolvendo o jovem Zamudio não é isolada, já que em 2011 houve 186 casos de discriminação, incluindo o assassinato de três pessoas por sua orientação sexual, 13 agressões físicas ou verbais perpetradas por civis e cinco casos de abusos policiais.

No entanto, muitos chilenos esperam que, como dizia o cartaz na porta do hospital, essa morte não tenha sido em vão.

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