Funcionários da Tepco na usina nuclear de Fukushima, no Japão: o premiê japonês confirmou que a Tokyo Electric sozinha não é capaz de manejar o desastre da usina (REUTERS/Kyodo)
Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2013 às 11h03.
Tóquio - A Hanford Engineer Works produziu os 9 quilos de plutônio para a bomba lançada em Nagasaki. A empresa guarda os depósitos de resíduos nucleares mais tóxicos existentes e é para onde o Japão está voltando suas atenções em busca de ajuda para lidar com os reatores derretidos de Fukushima.
A Tokyo Electric Power Co., conhecida como Tepco, enviou engenheiros em visitas à Hanford, no estado de Washington, neste ano, para aprender com as décadas de experiência da empresa no tratamento de milhões de galões de resíduos radiativos. A Hanford também possui um método para vedação dos reatores, conhecido como “concrete cocooning” (encapsulando em concreto), que pode reduzir o custo estimado de 11 trilhões de ienes (US$ 112 bilhões) para limpar Fukushima.
A Hanford se estende por 1.517 quilômetros quadrados de campos no sudeste de Seattle, onde milhares de técnicos estão desmontando os nove reatores em operação de 1944 a 1987. Seus laboratórios e instalações de plutônio fizeram parte do Projeto Manhattan para construir a primeira bomba atômica.
“Os Estados Unidos têm uma vasta experiência em tecnologia nuclear com sua atividade militar, incluindo descontaminação de solo e gerenciamento de contaminação de rio”, disse Masumi Ishikawa, gerente-geral de resíduos radiativos da Tokyo Electric, em entrevista. “Temos muito a aprender com eles”.
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, confirmou isso na semana passada quando disse pela primeira vez a seus compatriotas que a Tokyo Electric sozinha não é capaz de manejar o desastre da usina nuclear Dai-Ichi de Fukushima. Isso se deu após revelações de que centenas de toneladas de água radiativa estavam vazando da usina a cada dia para o mar. Ele prometeu mais fundos do governo para a limpeza sem dizer como eles devem ser usados.
Vazamento de Hanford
Os comentários de Abe ocorreram após uma longa série de contratempos na Tepco, resultando em sua confissão, no mês passado, de que centenas de toneladas de água radiativa estão correndo para o Oceano Pacífico mais de dois anos depois que os três reatores derreteram na usina.
A Hanford tem sua própria cota de desafios de contenção. O vazamento de seis tanques subterrâneos de resíduo radiativo pode oferecer lições à Tepco sobre como lidar com substâncias que contaminam tudo que entra em contato com elas.
O Departamento de Energia dos Estados Unidos gastou mais de US$ 16 bilhões desde 1989 para limpar Hanford. A produção de armas gerou 56 milhões de galões de lixo radiativo, segundo um relatório de dezembro do Departamento de Responsabilidade do Governo dos Estados Unidos.
Encapsulando os reatores
Existem três formas de desmontar reatores nucleares, disse Ishikawa. Uma é desativar imediatamente. Outra, usada na destruição da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, é vedar todo o edifício com concreto. A terceira é o método de encapsular, usado em Hanford.
A Tepco está discutindo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos se o encapsulamento poderia funcionar para os reatores destruídos de Fukushima. Cerca de 160.000 pessoas foram forçadas a evacuar cidades e vilas quando a usina nuclear Dai-Ichi lançou nuvens de radiação após ser atingida por um terremoto e um tsunami em 11 de março de 2011.
“A desativação é vital para as áreas no entorno de Fukushima Dai-Ichi para seguir em frente com a restauração”, disse Ishikawa.
Visitando Fukushima
Funcionários do Departamento de Energia dos Estados Unidos envolvidos com a Hanford visitaram a usina nuclear de Fukushima Dai-Ichi três vezes como parte de um acordo de seis meses com a Tepco para estudar as condições do lugar e, ainda, que soluções eles podem oferecer, disse ele.
“Identificamos sete áreas de especialidade dos Estados Unidos que podem ser aproveitadas”, disse Ishikawa. “Isso inclui desativação, disposição de lixo nuclear, remoção de combustível queimado e restauração das áreas do entorno”.
Ishikawa disse que as discussões com o Departamento de Energia continuam e que ele não pode precisar a data em que qualquer acordo será alcançado para o uso da experiência e da tecnologia desenvolvida pela Hanford.
Ishikawa disse também em suas visitas à Hanford que ele viu áreas descontaminadas voltarem à vida, citando como exemplo uma vinícola que foi construída. Isso, disse ele, é o que ele quer ver em Fukushima.