A Torre Eiffel, vista a partir do Palácio de Chaillot: mostra descansa sobre o paradoxo que transformou a destruição da Europa no fator que modernizou a arquitetura (De Agostini/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2014 às 11h10.
Paris - Paris revela através de uma exposição como a Segunda Guerra Mundial, um dos períodos mais destrutivos da Idade Contemporânea, representou um avanço em tecnologia e inovação para a arquitetura, disciplina que teve um papel fundamental no desenvolvimento da disputa.
A mostra no Palácio de Chaillot, primeira que reúne ambos os conceitos desde esta óptica, descansa sobre o paradoxo que transformou a destruição de todo um continente no fator que modernizou a arte de levantar edifícios.
O conflito (1939-1945) mobilizou todos os setores da sociedade e, segundo o curador, Jean-Louis Cohen, a arquitetura não só não foi excluída, mas, "contra o que muitos estudos ainda defendem na atualidade, atravessou um período muito prolífico".
Uma etapa que esteve marcada por "inovações radicais" que chegaram a partir do uso de novos materiais e de modernas técnicas de construção, influenciadas pela pressão e urgência da guerra.
Além disso, o avanço da aeronáutica promoveu mais estragos do conflito aos povos, o que multiplicou o trabalho dos construtores, que já não eram necessários unicamente nas grandes cidades, disse Cohen.
Estes profissionais "participaram também na elaboração de estratégias de ataque e defesa", ao mesmo tempo que construíam fábricas que abasteciam de produtos a população e o exército.
Enquanto os arquitetos que trabalhavam para as potências do eixo construíam campos de concentração, os dos países aliados se encarregavam de instruir os militares na destruição dos povos e cidades abandonadas perante o avanço das linhas inimigas.
O "lado sombrio" de seu trabalho "é a essência da exposição", relata o curador, para quem "se construiu a partir da destruição" e houve avanços graças às, "a priori", más condições que existiam para o correto desempenho da profissão.
A guerra "pôs a toda prova" os encarregados de emendar o caos, os construtores, que souberam se sobrepor e fazer da adversidade "um caminho que desembocou no que agora conhecemos como arquitetura moderna".
A necessidade de alojamento para os civis acarretou construções econômicas, duradouras e que se serviam de materiais reciclados, preceitos que regem ainda os processos de urbanização, argumenta o curador.
Professor de História da Arquitetura na Universidade de Nova York e "criança de pós-guerra", Cohen procura demonstrar que um dos capítulos mais sombrios da História recente representou, paradoxalmente, o impulso perfeito para a "evolução definitiva" da arquitetura.
Com mais de 300 obras originais cedidas por instituições e museus europeus e americanos, "Arquitetura de Uniforme" revela os diferentes cenários arquitetônicos que o conflito deixou em cada um dos países.
A exposição passa desde a construção do Pentágono (1941-43) nos Estados Unidos aos refúgios e bunkers que se proliferaram ao longo de toda Europa.
A exposição, que poderá ser vista até 8 de setembro, começa com o bombardeio em 1937 de Guernica (norte da Espanha) como reflexo da destruição de um povo, e termina com as últimas incursões do exército aliado em território japonês.
O retrato e a biografia de alguns dos arquitetos mais célebres que participaram da guerra inaugura o percurso.
Em um extremo se situa o construtor do Reich Albert Speer, condenado nos julgamentos de Nuremberg em 1946, e no outro o resistente polonês e também arquiteto Szymon Syrkus, que esteve detido em Auschwitz.
Entre estas duas figuras, a do homem que cumpria as políticas de extermínio e a de uma de suas vítimas, se situam, segundo Cohen, "as de centenas de arquitetos que foram arrastados pela guerra" para mudar a história da arquitetura.