Mundo

Cresce 'autoaborto' no Texas após endurecimento de lei

Austin - A mulher grávida consegue o remédio sem receita, toma a quantidade indicada por rumores populares e perde em casa o feto. Médicos e especialistas do Texas alertam para o risco do aumento da prática no extremo sul dos Estados Unidos após o fechamento de várias clínicas de aborto. A legislação que restringe o […]


	Estudantes da Universidade do Texas protestam a favor do direitos das mulheres pelo aborto
 (Jana Birchum/Getty Images)

Estudantes da Universidade do Texas protestam a favor do direitos das mulheres pelo aborto (Jana Birchum/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de março de 2014 às 10h00.

Austin - A mulher grávida consegue o remédio sem receita, toma a quantidade indicada por rumores populares e perde em casa o feto. Médicos e especialistas do Texas alertam para o risco do aumento da prática no extremo sul dos Estados Unidos após o fechamento de várias clínicas de aborto.

A legislação que restringe o aborto no Texas, que entrou em vigor em outubro, endureceu as condições para médicos e pacientes, e desde então várias clínicas fecharam.

Estima-se que atualmente apenas 24 clínicas ofereçam o serviço no Texas, quase a metade do que em 2011, segundo dados das organizações provedoras.

'As restrições da lei do aborto costumam provocar um crescimento do 'autoaborto'', alertou à Agência Efe Dan Grossman, pesquisador da Ibis Reproductive Health e um dos maiores estudiosos da prática nos Estados Unidos.

No sul do Texas, ressaltou, se somam à norma um dos níveis de pobreza mais elevados do país, a popularidade das técnicas de aborto induzido entre a população latina, a proximidade com o México para contrabandear medicamentos e uma notável porcentagem de mulheres sem documentos.

As duas únicas clínicas do vale do rio Grande, na fronteira com o México, que tem 1,3 milhão de habitantes, mais de 85% deles latinos, fecharam. Elas não conseguiram, como determina a nova lei, que um hospital da região - boa parte deles tem afiliação religiosa - autorizasse seus médicos a realizar abortos.

'Há mulheres que tratam de terminar desesperadamente por si mesmas com a gravidez', advertiu Andrea Ferrigno, vice-presidente da Whole Woman's Health, entidade que administrava a última clínica que fechou ali.


'Um remédio que é administrado sem supervisão médica e com fins diferentes ao que foi elaborado pode levar a hemorragias e a abortos incompletos', lamentou.

A fórmula mais utilizada é o uso de remédios que contenham Misoprostol, remédio para úlcera que tem como efeito secundário a indução do aborto, comumente utilizado em países onde é ilegal. No Brasil ele é conhecido comercialmente como Cytotec, e está proibido desde 1998.

'O Misoprostol é vendido sem receita em alguns mercadinhos do Texas e do México', explicou o médico Lester Minto, de outra clínica que fechou na região. Também há mulheres texanas que recorrem a ervas, substâncias tóxicas e até golpes na barriga.

O Departamento de Saúde do Texas, consultado pela Efe, disse não dispor de dados relativos aos 'autoabortos' e uma porta-voz lembrou que há clínicas que ainda operam em todo o estado.

Sem centros no vale do rio Grande, as mulheres têm que percorrer em média quatro horas de estrada de ônibus, o que encarece o preço do aborto e as força a perder dias de trabalho e a se explicar à família.

Além disso, no caminho elas correm o risco de se deparar com pontos de controle de imigração, frequentes nas estradas do interior do Texas, o que faz com que migrantes ilegais desistam da viagem.

Outras optam por atravessar até o México e em alguns casos se arriscarem a ser presas na volta aos Estados Unidos, uma prática que o relatório 'Nosso Texas', publicado em 2013, já advertia.

Dan Grossman ressaltou que, antes da nova lei do aborto, o Texas já contava com níveis de aborto induzido superiores à média nacional. Segundo ele, 7% das texanas que iam até uma clínica de aborto tinham recorrido antes a substâncias de indução , na fronteira esse número alcança 12%, enquanto no país nem chega a 2%.

Acompanhe tudo sobre:AbortoEstados Unidos (EUA)Países ricosSaúde

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru