A atriz iraniana Taraneh Alidoosti durante o Festival de Cannes, na França, em 26 de maio de 2022 (Stuart WILLIAMS/AFP)
AFP
Publicado em 18 de dezembro de 2022 às 19h16.
Celebridades e grupos de direitos humanos fizeram apelos neste domingo, 18, ao Irã para libertar a atriz e ativista Taraneh Alidoosti, uma das mais reconhecidas do país, detida por apoiar os protestos que sacodem a República Islâmica há três meses.
Alidoosti, de 38 anos, foi detida no sábado por expressar apoio nas redes sociais às manifestações, não usar o véu e denunciar a execução de manifestantes.
Alidoosti foi detida "por ordem da autoridade judicial" após "não fornecer documentação para algumas de suas afirmações" sobre os protestos, informou o meio Mizan Online, a agência de informação do Poder Judiciário.
O Irã vive uma onda de protestos desde a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, após ser presa em Teerã pela polícia da moralidade, que a acusou de violar o rígido código de vestimenta para as mulheres da República Islâmica.
O regime iraniano, por sua vez, acusa os Estados Unidos e outros "inimigos" de estarem por trás dos protestos, que estão sendo reprimidos com violência. Desde então, centenas de pessoas morreram, milhares foram detidas e dois homens foram executados.
Entre os detidos há diversas personalidades iranianas, incluindo artistas como Taraneh Alidoosti.
A atriz tem grande projeção internacional por seu trabalho com o aclamado diretor Asghar Farhadi. A produção "O Apartamento", na qual atuou, foi premiada com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017.
Somayeh Mirshamsi, assistente de direção em "O Apartamento", assegurou que Alidoosti havia telefonado a seu pai para lhe dizer que estava reclusa na prisão de Evin, administrada pelo Ministério de Inteligência em Teerã.
Durante o telefonema, pediu a seu pai que lhe levasse medicamentos. Sua família está "preocupada" por sua saúde, escreveu Mirshamsi no Twitter.
Alidoosti, um rosto conhecido do cinema iraniano desde a sua adolescência, também atuou no filme de Saeed Roustayi "Leila e Seus Irmãos", apresentado este ano no Festival de Cannes.
Alguns dos coprotagonistas deste filme se reuniram diante da prisão de Evin, informou o jornal iraniano Shargh.
Sua detenção também provocou reações nas redes sociais. A atriz exiliada Golshifteh Farahani publicou uma foto sua com Alidoosti no Instagram, chamando-a de "a corajosa atriz do Irã" e exigindo sua libertação.
A foto foi compartilhada pela ex-astro de futebol francês Eric Cantona, com a hashtag "#liberdade".
Por sua vez, o Centro pelos Direitos Humanos do Irã (CHRI, na sigla em inglês), com sede em Nova York, lamentou que "mulheres sejam abordadas e presas no Irã por se recusarem a utilizar o hijab (véu) obrigatório, incluindo atrizes famosas como Taraneh Alidoosti".
"O poder das mulheres aterroriza os dirigentes da República Islâmica", acrescentou.
A Justiça iraniana informou no sábado que "algumas figuras notáveis e celebridades", entre elas Alidoosti, haviam sido interrogadas ou presas por "comentários sem fundamento sobre os eventos recentes e a publicação de material provocativo em apoio aos distúrbios nas ruas".
A última mensagem de Alidoosti nas redes sociais foi publicada em 8 de dezembro, o mesmo dia em que Mohsen Shekari, de 23 anos, foi a primeira pessoa executada por relação com os protestos.
"Seu silêncio significa o apoio à opressão e ao opressor", escreveu a atriz no Instagram.
Também circularam imagens dela enquanto fazia compras por Teerã sem usar o véu. Alidoosti se comprometeu a não sair do país e disse que estava disposta a "pagar qualquer preço para defender" seus direitos.
Sua conta no Instagram, com mais de oito milhões de seguidores, deixou de ser acessível neste domingo.
Segundo a ONG Iran Human Rights, com sede na Noruega, pelo menos 469 pessoas morreram na repressão aos protestos, e pelo menos 14.000 foram detidas, segundo a ONU.
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