Coronavírus: estado de Nova York contabiliza 20.875 casos e 157 mortes (Noam Galai/Getty Images)
AFP
Publicado em 23 de março de 2020 às 17h16.
Última atualização em 24 de março de 2020 às 00h56.
A cidade de Nova York, epicentro da epidemia de coronavírus nos Estados Unidos, iniciou a semana silenciosa e deserta, enquanto o medo e a ansiedade cresciam entre seus habitantes.
A maior cidade americana é a que registra mais casos do novo coronavírus no país, e autoridades afirmam que a crise irá aumentar. O prefeito Bill de Blasio alertou que a Grande Maçã não conta com respiradores ou médicos suficientes para salvar a vida de todos que se infectarem.
"Esta semana será ruim e a semana que vem será pior. Este é apenas o começo de algo que irá piorar em abril e maio, e temos que nos preparar, temos que mudar a forma como vivemos, e precisamos da ajuda de Washington", disse o prefeito à rede de TV CNN, ao pedir um isolamento geral.
Com escolas e o comécio não-essencial fechado, os 8,6 milhões de nova-iorquinos tentam se adaptar à nova vida. Aqueles que não perderam o emprego trabalham de casa.
Christian Hofer, 42, disse neste domingo à AFP, enquanto levava os dois filhos ao Central Park, que o mais difícil é "não saber quanto tempo isto irá durar. Passei por um leque de emoções, desde o nervosismo até um sentimento de absurdo. Vi um meme que dizia: 'Nossos avós foram chamados para a guerra. Nós fomos chamados para ficar no sofá.' Isto ajuda a manter a perspectiva", comentou o corretor da bolsa, que, agora, trabalha de casa.
O cirurgião Jerome Adams, maior autoridade médica dos Estados Unidos, comparou Nova York à Itália, que anunciou no último sábado 793 mortos em um dia. "Infelizmente, estamos vendo Nova York se aproximar da Itália, porque o número de casos que se vê refletem o que aconteceu há duas semanas. Muitas pessoas estão deixando passar muito tempo para levar a sério estes 15 dias, a fim de interromper este contágio", alertou.
"Nova York concentra, de longe, a maior parte do problema do país", assinalou o governador Andrew Cuomo em entrevista coletiva, antecipando que "até 80%" da população poderá se infectar e que a crise irá durar meses. O estado de Nova York contabiliza 20.875 casos do novo coronavírus, com 157 mortes.
"É difícil, estamos todos ansiosos", disse Lauren, psicóloga no Upper East Side, que atende on-line. "Tenho medo, por mim e pelos meus pacientes, de que isto continue por meses. A ansiedade e depressão aumentam em épocas como esta", alertou a psicóloga, que, agora, permite que os pacientes lhe telefonem entre as sessões, se precisarem.
Um terço da população americana, de quase 330 milhões de habitantes, está em quarentena por ordem de governadores ou prefeitos. Mas o presidente, Donald Trump, não quer decretar o isolamento em todo o país, que já registra mais de 35.500 casos do vírus e 473 mortes. "Não podemos deixar que o remédio seja pior do que a doença", tuitou Trump nesta segunda-feira.
Tanto o prefeito quanto o governador de Nova York insistiram hoje em que o governo federal obrigue as empresas a fabricar mais respiradores e máscaras, cuja escassez aumenta no país e no mundo.
"Se não recebermos respiradores rapidamente, em cerca de uma semana nosso sistema de hospitais públicos não terá o suficiente para manter as pessoas vivas", alertou De Blasio. "Não haverá médicos suficientes em Nova York. Precisaremos de ajuda do Exército e de outras partes do país."
Nova York aguarda a chegada da Guarda Nacional e do Corpo de Engenheiros do Exército para instalar leitos hospitalares adicionais. De Blasio disse esperar que, esta semana, comece a funcionar um hospital temporário com mil leitos que está sendo construído no Centro de Conferências Jacob Javits, em Manhattan.
Nova York, aguarda, ainda, a chegada do navio-hospital USNS Comfort, com mil leitos e salas de cirugia, em algumas semanas.