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Cortes de energia a -30ºC geram indignação no Cazaquistão

Equipes de trabalhadores faziam o possível para consertar as tubulações, danificadas pelo gelo

Milhares de pessoas ficaram sem calefação no norte do Cazaquistão, em meio a uma onda de frio polar. (AFP/AFP)

Milhares de pessoas ficaram sem calefação no norte do Cazaquistão, em meio a uma onda de frio polar. (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 10 de dezembro de 2022 às 11h56.

O sofrimento dos moradores de uma cidade do Cazaquistão, que ficaram sem calefação durante mais de uma semana com temperaturas de até -30°C, suscitou uma onda de indignação e evidenciou o estado lamentável das infraestruturas energéticas nesta ex-república soviética.

A situação penosa, ocorrida na cidade de Ekibastuz (norte), de cerca de 150.000 habitantes, reflete as consequências que podem ter os cortes maciços de eletricidade em pleno inverno, como se tema que possa ocorrer em vários países europeus, em plena crise energética devido à guerra na Ucrânia.

Durante a era soviética, Ekibastuz abrigou um campo de trabalhos forçados onde esteve detido, entre 1950 e 1953, o escritor Alexander Solzhenitsyn, Prêmio Nobel de Literatura em 1970. Seu livro, "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich", inspirou-se na vida neste gulag.

Nestes dias de frio polar, imagens exibidas na mídia cazaque mostravam estalactites nos apartamentos.

Equipes de trabalhadores faziam o possível para consertar as tubulações, danificadas pelo gelo.

Infraestruturas arcaicas

As autoridades anunciaram na quinta-feira o fim do estado de emergência, decretado em 28 de novembro, um dia depois que um problema no funcionamento bloqueou uma central térmica, privando de eletricidade e calefação vários bairros da cidade.

Embora desde então a situação melhore pouco a pouco, as condições extremas vividas em Ekibastuz suscitaram indignação em todo o país.

O cantor Dimash Kudaibergen, com quase quatro milhões de seguidores no Instagram, pediu que os responsáveis por esta tragédia "cumpram pena em uma prisão sem calefação" e paguem pelas "lágrimas das mães que ficaram na rua".

Diante da revolta nas redes sociais, o presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev - que em janeiro reprimiu violentamente protestos contra o aumento nos preços dos combustíveis - destituiu o governador local e enviou para a região vários funcionários de alto nível.

Também foram distribuídos em todo o país aquecedores e mantas.

Este episódio é um dos muitos acidentes ocorridos nas infraestruturas térmicas deste país da Ásia central.

"A primeira vez é casualidade, a segunda é coincidência e a terceira, a norma", disse à AFP Zhakyp Khairushev, engenheiro elétrico e empresário.
Herdado da União Soviética, o sistema energético do país é arcaico, apesar de receber investimentos. Segundo o governo, as usinas térmicas têm, em média, 61 anos.

Segundo Khairushev, "em 2022 houve mais de 1.000 cortes de emergência nas centrais térmicas, ou seja, cerca de 75.000 horas".

O presidente Tokayev lamenta que o Cazaquistão, rico em combustíveis, seja "um dos países de maior consumo energético no mundo" e tenha que importar eletricidade, especialmente da Rússia.

Por outro lado, o auge recente das criptomoedas no país, uma atividade que requer o uso de computadores que consomem muita energia, contribuiu para as tensões no abastecimento, alertou Khairushev.

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