O ator Kevin Spacey na série "House of Cards", do Netflix: autoridade chinesa teria sido atraída pelo papel "de chicote do partido" do protagonista (Divulgação/Netflix)
Da Redação
Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 07h12.
Pequim - Uma trama de corrupção política e sexo triunfa na China. É "House of Cards", série que tem deixado os chineses deslumbrados ao desvendar os meandros da Casa Branca, retratar sua relação com Pequim, e que conseguiu burlar a censura do regime. A possível razão? Os líderes também gostam.
Cerca de oito milhões chineses ficaram na frente das telas desde a última sexta-feira, quando o canal de TV online "Netflix" estreou a segunda temporada de "House of Cards" nos Estados Unidos e o site chinês Sohu transmitiu simultaneamente com autorização do regime.
Na internet, os comentários dos seguidores se multiplicaram, entre elogios e críticas, mas acima de tudo, uma pergunta: por que uma série como essa não foi censurada?
"A resposta pode ser Wang Qishan", crivou nesta semana um jornal independente chinês. É que Wang, o encarregado da luta contra a corrupção na China e um dos sete líderes do Comitê Permanente - o principal órgão de poder no país -, também está vidrado em "House of Cards", segundo revelou a revista de Hong Kong "Phoenix".
Wang é atraído, diz a revista, pelo papel "de chicote do partido" do protagonista, o congressista Frank Underwood, que nesta segunda temporada ascende na carreira política graças a uma mente fria e estrategista que, inclusive, o leva a cometer um assassinato.
Sua admiração pelo trabalho do personagem "de manter a disciplina do partido" - que poderia ser comparado ao que ele mesmo desempenha no governo - faz, inclusive, com que o líder chinês leve a série em várias reuniões, manifestando em público seu amor pela produção americana, conforme relata a "Phoenix".
Wang não é um caso isolado entre a nova geração política chinesa. O presidente do país, Xi Jinping, já tinha manifestado gostar das produções americanas, embora tenha uma marcada diferença com o estilo de seu antecessor, Hu Jintao, que gostava de novelas sul-coreanas.
A ansiedade é tanta que alguns fãs reconheceram ter assistido em sequência os 13 capítulos que estrearam na sexta-feira passada.
"Não podia parar. É impressionante poder conhecer como funciona o centro de poder do mundo", comentava um dos amantes na série nas redes sociais do país.
Descobrir o funcionamento do Capitólio e da Casa Branca, mas também a aparição estelar de Pequim nesta segunda temporada é o que parece estar fisgando os chineses.
"Esta segunda temporada mostra que as relações entre China e Estados Unidos também podem ser um importante e atrativo tema a ser tratado nas ficções", escreveu um advogado em um fórum de debate online sobre "House of Cards", onde se parabenizava o trabalho de campo dos roteiristas para ser fiel à realidade da China. Mas também há espaço para a crítica.
"A série poderia ser mais realista se tivesse tirado Xander Feng - um multimilionário chinês corrupto que aparece na segunda temporada - gordo e feio, e colocado como protagonista um ator bonito", comentou outro fã.
No entanto, esta exibição da China na segunda temporada pode ter consequências, como acredita um dos usuários do fórum.
"O que vão pensar agora nossos líderes sobre as enormes diferenças entre a democracia dos EUA e o sistema político da China, como sugere a série nesta segunda temporada?", questionava um telespectador, semeando a inevitável pergunta sobre o futuro de "House of Cards" na China. A resposta poderá ser mostrada pela censura.