Uma invasão à embaixada, especificou, seria ''algo intolerável que implicaria, de forma imediata, na ruptura das relações com a Grã-Bretanha'' (Telám/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2012 às 19h14.
Quito - O presidente do Equador, Rafael Correa, confirmou nesta quarta-feira que entrou em contato com funcionários britânicos para tratar o caso Assange e que espera ''retomá-los no mais alto nível'', ressaltando que está aberto ao diálogo.
''Apesar de não termos recebido nenhuma desculpa por parte da Grã- Bretanha e de ela não ter se retratado explicitamente desta ameaça ao planeta inteiro (...), estamos totalmente abertos ao diálogo'', afirmou Correa em encontro com a imprensa estrangeira em Quito.
O governante, que no dia 16 de agosto concedeu asilo a Julian Assange, fundador do Wikileaks, voltou a criticar o comunicado no qual o governo britânico advertiu o Equador da possibilidade de invadir a embaixada equatoriana em Londres para capturar o jornalista australiano, que está ali desde o dia 19 de junho.
''Nem sequer esperamos uma desculpa, mas pelo menos que se retratem'', afirmou a respeito do que qualificou como uma ameaça ''grosseira'' e ''tremenda'' do governo britânico, além de um erro diplomático ''terrível''.
Embora tenha insistido em sua disposição ao diálogo, disse que o Equador ''não negocia com princípios fundamentais, com valores, neste caso com os direitos humanos do cidadão australiano''.
Segundo Correa, o Equador quer uma garantia que Assange não seja extraditado a um terceiro país ou que seja concedido o salvo-conduto para que ele possa abandonar a embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar ser enviado para a Suécia onde responderá por denúncias de abusos sexuais - acusações que nega.
''A Suécia disse ''nunca vamos extraditá-lo a um país que tenha pena de morte''... Maravilhoso. Já é um primeiro passo, mas que dê passos decisivos, que diga: ''não vamos extraditá-lo aos Estados Unidos'''', comentou.
Correa, que declarou não ter conversado por telefone com Assange e que o único contato que fez com ele foi uma reunião que o australiano organizou meses atrás pela internet, salientou que a possibilidade de outorgar-lhe algum status diplomático para que o jornalista consiga sair amparado na imunidade não foi cogitada.
''Estamos estudando algumas estratégias legais perante instâncias judiciais internacionais para ver a possibilidade de obrigar a Grã-Bretanha'' a conceder o salvo-conduto, disse sem aprofundar-se.
O Equador, que obteve o apoio da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), perante a ''ameaça'' britânica, espera agora o apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA) que convocou nesta sexta-feira uma reunião de chanceleres.
O Equador aguarda uma ''rejeição contundente, sem ambiguidades'' por parte da OEA perante a ''ameaça'' britânica, segundo Correa, acrescentando que seu governo recorrerá a todas as instâncias que sejam necessárias incluindo as Nações Unidas para denunciar a ''ameaça,'' pelo menos até que o Reino Unido ''se retrate'' desta ''barbaridade''.
Uma invasão à embaixada, especificou, seria ''algo intolerável que implicaria, de forma imediata, na ruptura das relações com a Grã-Bretanha'', advertiu.
A América Latina ''já não aceita patrões, pressões, não vamos aceitar neocolonialismos de ninguém, e aqui vão encontrar dignidade e soberania'', exclamou.
O governante comparou a posição do Reino Unido no caso de Assange com a do caso do ex-ditador Augusto Pinochet, quando o país se negou a extraditar o ex-ditador à Espanha, alegando que havia ''contradições'' e ''duplo padrão''.
''Enquanto a um criminoso desse tipo como Augusto Pinochet a extradição à Espanha foi negada por motivos humanitários, a Julián Assange é dito que se tem a obrigação de extraditá-lo'' lamentou.
Em março de 2000, o governo britânico negou a extradição de Pinochet e lhe concedeu a liberdade.