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Coronavírus deixa mais de 1,7 mil mortos em um dia na Espanha e Itália

A Europa já representa dois terços dos mais de 30 mil mortos pela Covid-19

Coronavírus: na Itália, mais de 10 mil pessoas morreram (Flickr/Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos/Divulgação)

Coronavírus: na Itália, mais de 10 mil pessoas morreram (Flickr/Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos/Divulgação)

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AFP

Publicado em 28 de março de 2020 às 20h09.

A pandemia do novo coronavírus voltou a atingir com força Itália e Espanha neste sábado, com mais de 1,7 mil mortos nos dois países e o nervosismo crescente da população, enquanto, nos Estados Unidos, país com mais infectados, o presidente Donald Trump advertiu que poderá colocar o estado de Nova York em quarentena.

A Europa já representa dois terços dos mais de 30 mil mortos pela Covid-19. Na Espanha, o Ministério da Saúde anunciou números desoladores neste sábado: 832 mortos em 24 horas e um balanço total que já supera 5 mil vítimas fatais.

A região mais afetada é Madri, com 2.757 mortos, quase metade do total. A partir de segunda-feira a cidade habilitará um segundo necrotério em uma instalação pública que estava abandonada. O governo local já havia instalado um necrotério em uma pista de patinação no gelo em um centro comercial.

Além disso, o Exército e as autoridades locais criaram um hospital de campanha com capacidade máxima para 5.500 leitos em um centro de convenções da capital espanhola.

O governo do socialista Pedro Sánchez, que goza de poderes especiais graças ao estado de emergência, ordenou que os trabalhadores de setores não essenciais permaneçam em casa por 15 dias, para conter a propagação da doença.

Na Itália, a Covid-19 matou quase 1.000 pessoas em 24 horas, o maior número para apenas um dia no país desde o início da pandemia. O total de óbitos já passou de 10 mil.

Madri e Roma insistem em que a epidemia dá sinais de estabilização. Mas a falta de máscaras, luvas e roupas de proteção causa grande desgaste entre os profissionais de saúde, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Na Espanha, mais de 10 mil infectados trabalham na área de saúde.

A este problema se soma outro no horizonte. Na Sicília e no sul da Itália, foram registrados os primeiros saques. A população que trabalha no setor informal, que não recebe a ajuda oficial aos trabalhadores que estão parados, exige comida. O premier Giuseppe Conte anunciou esta noite que o governo irá distribuir bônus alimentares.

Advertência de Trump

Nos Estados Unidos, que testam de forma exaustiva a população, os infectados são mais de 115 mil, um sexto do total mundial. Na maior potência mundial, a guerra contra o coronavírus é travada principalmente em Nova York. A cidade está em quarentena, mas o estado de Nova York, não.

"Há problemas na Flórida, muitos nova-iorquinos se deslocam para o sul. Não queremos isso", reclamou Trump no Twitter.

Enquanto cientistas buscam um paliativo para a pandemia, o confinamento é, no momento, a medida mais drástica à disposição dos governos para conter a expansão do novo coronavírus. Cerca da metade da população mundial está submetida a algum tipo de isolamento.

A Rússia, único grande país que ainda não havia adotado medidas de confinamento generalizado, decidiu fechar a partir deste sábado os restaurantes e a maior parte do comércio, antes de uma semana de recesso. Desta maneira, as autoridades esperam que os russos permaneçam em casa, apesar da ausência de um decreto. O país também fechará totalmente suas fronteiras terrestres a partir de segunda-feira, após suspender quase todas as conexões aéreas esta semana.

No Brasil e México, países que resistiram até o último momento à ideia de decretar o confinamento da população, a pressão aumenta. O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, pediu aos mexicanos que fiquem em casa.

No Brasil, um tribunal federal do Rio de Janeiro proibiu o governo federal de divulgar propaganda contra as medidas de isolamento. O presidente Jair Bolsonaro minimiza a gravidade da pandemia, que chama de "gripezinha", e iniciou uma campanha contra as medidas de confinamento decretadas em vários estados, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Trem para em Wuhan

A China tentava, aos poucos, retornar à normalidade, com a chegada de um trem à cidade de Wuhan, onde a Covid-19 foi detectada pela primeira vez no mundo, e que, há mais de 60 dias, vive praticamente isolada do restante do planeta.

Neste sábado, um trem parou em Wuhan pela primeira vez desde o início da pandemia. Até então, ninguém estava autorizado a entrar na cidade, com exceção de profissionais da saúde e trabalhadores responsáveis pelo transporte de artigos de primeira necessidade.

"Minha filha e eu ficamos emocionadas quando o trem se aproximou de Wuhan", disse uma mulher de 36 anos, que preferiu não revelar o nome.

Devido ao confinamento, ela não via o marido há 10 semanas. Uma eternidade para sua filha. "Ao vê-lo, ela correu para o pai e eu não consegui evitar o choro", afirmou à AFP.

As pessoas que desejam entrar na cidade são cuidadosamente examinadas: medição de temperatura, controle de identidade e perguntas sobre os deslocamentos anteriores.

Sem abraços

O confinamento também tem impacto psicológico, aumenta a depressão, a ansiedade e outros problemas de saúde mental, segundo a Cruz Vermelha. "Até em zonas de conflito podemos nos abraçar quando temos medo. O terrível desta situação é a falta de contato físico", afirmou um diretor da organização.

"O mais duro era durante a noite, não podia dormir, a angústia invadia o quarto. Durante o dia, passavam os médicos, os funcionários da limpeza, os que traziam a comida. À noite chegavam os pesadelos, a morte espreitava", declarou Fabio Biferali, um cardiologista de 65 anos, de Roma, que passou oito dias "isolado do mundo" em uma UTI.

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