Segundo a ONU, a maconha é produzida em praticamente todos os países, por isso é a menos afetada (OpenRangeStock/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 7 de maio de 2020 às 16h45.
Última atualização em 7 de maio de 2020 às 18h08.
As medidas restritivas impostas pelos governos para conter a pandemia de coronavírus provocam rupturas em todas as cadeias de negócios. Até os ilícitos. Segundo um relatório do UNODC, escritório da ONU para o crime e as drogas, a quarentena global está bloqueando uma série de rotas de tráfico de drogas, dificultando a vida dos criminosos. Diversos países já apresentam escassez de entorpecentes.
O relatório evidencia como o comércio ilegal de substâncias depende de meios legítimos de logística para camuflar suas atividades. “As drogas são usualmente escondidas e transportadas em contêineres ou caminhões carregados com produtos legais”, afirma a agência. Com as pessoas impedidas de sair de casa, o tráfico também não consegue entregar seus produtos ao consumidor. De acordo com o UNODC, a pandemia afetou o mercado de drogas em todos os aspectos, desde a produção até o consumo.
Drogas sintéticas, como a metanfetamina, costumam ser transportadas em rotas aéreas intercontinentais. As restrições às viagens estão provocando grandes rupturas no fornecimento desses entorpecentes. “A interrupção dos voos deve causar um impacto importante no tráfico de drogas sintéticas para países como Coreia, Japão e Austrália”, aponta o relatório.
No caso da heroína, o transporte costuma ser feito por vias terrestres, mas os traficantes estão buscando vias marítimas. Uma recente apreensão da droga no Oceano Índico indica a mudança de estratégia.
A maconha é o produto menos afetado. “Em contraste com outras drogas, cuja produção é concentrada em poucas regiões, a maconha é cultivada em praticamente todos os países”, afirma a ONU. “Produtos à base de cannabis geralmente são distribuídos localmente por meio de rotas curtas e domésticas.” Não há indicação de rupturas no comércio do entorpecente, embora, na Europa, a demanda tenha aumentado em razão da quarentena, o que pode intensificar o tráfico entre o Norte da África e o Velho Continente.
O tráfico internacional de cocaína demonstra resiliência. As apreensões da droga na América Latina e na Europa apontam para uma continuidade no fluxo de mercadoria, especialmente por vias marítimas. Por outro lado, há indicativos de uma redução da oferta do entorpecente em grandes mercados consumidores, como os Estados Unidos e o Brasil, que dependem do transporte terrestre.
Na Colômbia, a pressão das autoridades aumentou durante a pandemia. A política do governo de erradicação das plantações vem surtindo efeito e derrubando a produção. Entre os produtores da região leste, na fronteira com a Venezuela, o problema é a falta de gasolina no país vizinho, de onde os traficantes obtinham o combustível contrabandeado.
De acordo com o relatório, é possível presumir que a ruptura da cadeia logística do tráfico de drogas levará a um aumento no estoque de produtos. Quando as restrições forem levantadas, há o risco de um pico de oferta, com drogas de menor qualidade, gerando um crescimento no consumo de cocaína e danos aos usuários.