TESTE REALIZADO EM SETEMBRO: Kim Jong-un já lançou 20 mísseis em 2017, três deles em direção ao território japonês / KCNA/ Reuters (KCNA/ Reuters/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de janeiro de 2018 às 16h53.
Última atualização em 3 de janeiro de 2018 às 16h56.
A retomada dos contatos entre as duas Coreias ameaça debilitar a estratégia de isolamento do regime de Pyongyang, liderada pelo governo de Donald Trump, que entrou em uma nova escalada verbal com Kim Jong-Un.
O presidente dos Estados Unidos não opta precisamente por declarações conciliatórias quando se trata de se referir ao líder norte-coreano, a quem apelidou de "homem-foguete" em meio à intensificação dos testes de mísseis balísticos da Coreia do Norte nos últimos meses.
E mostrou novamente na terça-feira à noite sua posição em um tuíte debochado.
"O líder norte-coreano Kim Jong-Un disse que 'o Botão Nuclear está sempre em seu escritório'. Alguém desse fraco e faminto regime pode por favor informá-lo que eu também tenho um Botão Nuclear, que é maior e mais poderoso que o seu. E o meu Botão funciona", escreveu.
Mas em seu discurso de Ano Novo, Kim anunciou um processo de retomada dos contatos com a Coreia do Sul, o que parece ter surpreendido Washington, que o vê com grande desconfiança.
Trump reagiu com moderação. "Talvez sejam boas notícias, talvez não. Veremos!", assinalou.
Depois, sua embaixadora na ONU, Nikki Haley, rejeitou a perspectiva de conversas intercoreanas se não focarem na desnuclearização da Coreia do Norte, qualificando a proposta de diálogo de mero "remendo" que não resolverá o problema.
A proposta de Kim resultou nesta quarta-feira na volta do telefone vermelho transfronteiriço entre as duas Coreias, que não era utilizado desde 2016.
Para Ian Bremmer, presidente da consultora Eurasia Group, Kim se sente em condições de dialogar com seus vizinhos depois de afirmar que seus mísseis intercontinentais podem alcançar território americano.
"Sempre é melhor negociar de uma posição de força", disse.
Desde sua chegada ao poder há um ano, Trump sustentou uma campanha de "pressão máxima" contra Pyongyang, com sanções bilaterais e internacionais e uma ameaça militar reiterada vez e outra.
O objetivo declarado é conseguir um isolamento diplomático e econômico do regime de Pyongyang que leve a fazer concessões em seus programas nucleares e balísticos.
Mas enquanto o presidente americano prometeu "fogo e fúria" contra Pyongyang, a Coreia do Sul elegeu em maio do ano passado Moon Jae-In, um presidente que apoia firmemente o diálogo com o vizinho do norte.
Depois do anúncio de Kim, o governo norte-coreano se declarou pronto para conversar na semana que vem sobre a participação da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, que acontecerão de 9 a 25 de fevereiro, assim como sobre outros temas de interesse mútuo.
Será que o presidente Moon busca encontrar uma forma mais segura de viver junto a um vizinho que se tornou uma potência nuclear e não dá sinais de renunciar a seu arsenal?
Porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert insiste que não é o caso. "Kim Jong-Un poderia estar tentando abrir uma brecha entre duas nações, entre nossa nação e a República da Coreia", disse.
"Posso assegurá-los que isso não vai acontecer. Somos muito céticos sobre a sinceridade de Kim Jong-Un a respeito de se sentar e conversar".
Mas a política de Trump é vista em Seul como a de "Estados Unidos primeiro", não "Coreia do Sul primeiro".
Bremmer, que falou há pouco com funcionários sul-coreanos, disse que existe uma possibilidade real de que Seul aceite congelar suas manobras militares com os americanos para permitir conversas com Kim.
Esta seria uma vitória para a China e uma decepção para Washington, que rejeita qualquer equivalência entre sua presença militar regional e o programa nuclear de Pyongyang.
Em meio à incerteza, os analistas temem que qualquer tropeço de algum dos lados provoque um desastre.
"Há certas tendências que avançam até a confrontação", disse Bremmer. "O risco de um erro de cálculo é alto", advertiu.