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Coreias se comprometem a eliminar armas nucleares em cúpula histórica

Países confirmam o objetivo comum de obter, por meio de uma 'desnuclearização' total, uma península coreana não nuclear, segundo declaração

Kim e Moon: Declaração de Panmunjom proclama que "não haverá mais guerra na península da Coreia" (Divulgação/Reuters)

Kim e Moon: Declaração de Panmunjom proclama que "não haverá mais guerra na península da Coreia" (Divulgação/Reuters)

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AFP

Publicado em 27 de abril de 2018 às 20h14.

Os dirigentes das duas Coreias se comprometeram nesta sexta-feira (27) a trabalhar pela eliminação das armas nucleares da península e por uma paz permanente, durante uma cúpula histórica na Zona Desmilitarizada.

Após um aperto de mão simbólico na fronteira com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, o líder norte-coreano, Kim Jong Un, afirmou que a Coreia está "no início de uma nova história".

Kim disse ter se sentido "embargado pela emoção" ao cruzar a linha de cimento e se tornar o primeiro dirigente norte-coreano a pisar em território sul-coreano desde a Guerra da Coreia (1950-1953).

"Coreia do Sul e Coreia do Norte confirmam o objetivo comum de obter, por meio de uma 'desnuclearização' total, uma península coreana não nuclear", diz a Declaração de Panmunjom publicada após a reunião.

Após a assinatura do texto, que proclama que "não haverá mais guerra na península da Coreia", Kim e Moon se abraçaram, ao final de um dia de demonstrações de amizade.

Em uma cerimônia de despedida, os dois homens viram imagens de seu encontro reproduzidas em um espetáculo de luz e som, parados e de mãos dadas durante vários minutos.

Depois disso, Kim voltou a cruzar a fronteira e foi para a Coreia do Norte. Em imagens transmitidas pela televisão, ele foi visto saudando de seu veículo os anfitriões na Zona Desmilitarizada.

Os dois vizinhos disseram querer se reunir com os Estados Unidos e, talvez, também com a China - signatários do armistício que acabou com a guerra há 65 anos - "visando declarar o fim da guerra e estabelecer um regime de paz permanente e sólido" na península.

Por falta de um tratado de paz, tecnicamente os dois vizinhos continuam em guerra.

Nova cúpula

Esta cúpula histórica foi elogiada por várias capitais estrangeiras.

A China saudou a "coragem" de Kim e Moon; o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, falou da "passagem positiva para uma resolução em conjunto de várias questões relativas à Coreia do Norte"; e o Kremlin celebrou "notícias muito positivas".

O presidente americano, Donald Trump, saudou o encontro, embora tenha declarado que "o tempo dirá" se os resultados foram bons.

Além disso, afirmou a jornalistas que não será "manipulado" pelo líder norte-coreano em seu encontro, para o qual estão analisando "duas ou três sedes" onde poderá ser organizado.

No Twitter, Trump atribuiu a si parte do mérito, escrevendo: "FIM DA GUERRA DA COREIA! Estados Unidos e todo o seu GRANDE povo devem estar muito orgulhosos do que está acontecendo hoje na Coreia!".

"Por favor, não podemos esquecer da grande ajuda do meu bom amigo, o presidente Xi da China", apontou.

Para a Otan, esta cúpula "é um primeiro passo. É encorajador, mas temos que compreender que resta muito trabalho difícil à frente".

As duas Coreias se coordenarão estritamente para assegurarem que não "repetirão o passado desafortunado que viu como os acordos intercoreanos anteriores não davam em nada", declarou Kim Jong Un.

"Pode haver no caminho contragolpes, dificuldades e frustrações", reconheceu, "mas não se pode alcançar a vitória sem dor".

O Norte e o Sul decidiram que Moon viajará no outono a Pyongyang para a quarta cúpula intercoreana desde o fim da guerra - as duas anteriores aconteceram em 2000 e 2007.

Outra medida simbólica é a decisão de retomar em agosto as reuniões das famílias que ficaram divididas pela guerra.

Os acontecimentos desta sexta-feira são a última e mais forte amostra desta excepcional distensão surgida na península desde que Kim anunciou, surpreendendo a todos, em 1º de janeiro, que seu país participaria dos Jogos Olímpicos de Inverno organizados pelo Sul.

Também é o prelúdio do esperado encontro entre Kim e Trump.

Moon pisa no Norte

Desde que chegou ao poder, no final de 2011, Kim liderou uma fulgurante aceleração dos programas nuclear e balístico norte-coreanos.

Em 2017, Pyongyang realizou seu teste nuclear mais potente até a data e testou mísseis balísticos intercontinentais, alcançando a capacidade de chegar a território americano.

Mas Moon aproveitou o evento olímpico para lançar o diálogo com Pyongyang e apresentando a cúpula intercoreana como base de uma reunião entre o Norte e os Estados Unidos.

O presidente Trump exige que a Coreia do Norte renuncie a suas armas nucleares e que a 'desnuclearização' seja total, verificável e irreversível.

Em uma primeira amostra da distensão intercoreana, Moon cruzou brevemente, diante do convite surpresa de Kim, para o lado norte-coreano da fronteira. Depois se dirigiram à Casa da Paz, na parte de Panmunjom.

Um pinheiro de 65 anos

Kim esteve acompanhado por Kim Yo Jong, sua irmã e conselheira próxima, e por seu responsável de Relações Intercoreanas. Moon estava acompanhado pelo chefe da Inteligência sul-coreana e por seu diretor de gabinete.

Em outro momento simbólico, Kim e Moon plantaram uma árvore perto da linha de demarcação militar, um pinheiro de 65 anos, tantos quanto o armistício. Além disso, Moon o regou com a água do rio norte-coreano Taedong, enquanto Kim fez o mesmo com a água do rio sul-coreano Han.

Kim anunciou recentemente o fim dos testes nucleares e disparos de mísseis balísticos de longo alcance, afirmando que já havia atingido o seu objetivo. Também anunciou o fechamento das únicas instalações conhecidas de testes atômicos.

Não obstante, alguns especialistas suspeitam que o último teste, realizado em setembro, tenha deixado as instalações inutilizáveis.

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