Apesar dos cassinos irem contra a doutrina comunista norte-coreana, o regime está há anos tentando transformar a zona nordeste de Rason em "sua própria Hong Kong" (Feng Li/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2011 às 06h11.
Seul - A Coreia do Norte investe em cassinos e cruzeiros para renovar seu projeto turístico do Monte Kumgang, que contou com colaboração da Coreia do Sul, para atrair novos visitantes.
O primeiro dos cruzeiros, mais parecido com um navio de carga, comporta um grande e luxuoso hotel flutuante. O navio chegou na semana passada ao novo Kumgang com centenas de turistas, a maioria chineses, procedentes de Rason, outra região norte-coreana que quer atrair capital externo.
A Coreia do Norte pretende começar administrar o complexo de Kumgang por conta própria. No entanto, a área é considerada um exemplo da cooperação entre as duas Coreias desde a inauguração em 1998 até 2008. O cenário complicou após a morte de uma turista sul-coreana, que foi assassinada por disparos de um soldado do Norte. O fato resultou na suspensão das viagens.
No mês passado, o regime de Kim Jong-il decidiu congelar todas propriedades sul-coreanas existentes no complexo fronteiriço construído em conjunto, que incluem um campo de golfe, hotéis e restaurantes no valor de quase US$ 300 milhões.
O plano norte-coreano, que deve começar oficialmente em outubro, busca a criação de uma intensa zona hoteleira para ocupar os sinais de abandono da região antes ocupada pelo governo sul-coreano. A ideia é atrair turistas chineses com a construção de um cassino.
"O cruzeiro (da semana passada) não foi mais que uma tentativa da Coreia do Norte de pressionar o governo sul-coreano para voltar a liberar visitas de seus habitantes. Seus planos de atrair turistas chineses não vão ser rentáveis", explicou à Agência Efe Yang Um-chul, analista sobre assuntos intercoreanos do Instituto Sejong.
Segundo sua opinião, os novos investimentos na zona montanhosa de Kumgang não têm futuro, porque os chineses estão principalmente interessados em conhecer as belezas naturais do local, considerado um dos lugares mais formosos da Coréia pelos sul-coreanos.
Até 2008, dezenas de milhares de sul-coreanos eram autorizados a visitar anualmente a região de Kumgang, que se encontra do outro lado de fronteira que divide os países desde a Guerra da Coreia (1950-1953) e onde se chega facilmente de ônibus.
Cada sul-coreano pagava US$ 100 para poder ingressar durante alguns dias no único lugar da Coreia do Norte permitido para visitação. Nesta região, os turistas do sul gastavam muito dinheiro, que, por sinal, era uma das poucas fontes de renda do empobrecido regime comunista.
"As novas intenções de Pyongyang de atrair chineses poderosos a Rason e Kumgang com cassinos e hotéis não darão frutos. Para isso, os chineses sempre terão Macau (antiga colônia portuguesa na China e agora capital do jogo na Ásia)", indica Yang.
Apesar dos jogos e cassinos contrariar a ferrenha doutrina comunista norte-coreana, o regime de Kim Jong-il está há anos tentando transformar a zona nordeste de Rason em "sua própria Hong Kong". Porém, o que podemos ver lá é o insosso Hotel-Cassino Imperador, que briga para atrair atenção dos turistas chineses.
As pessoas que tiveram a possibilidade de viajar da fronteira chinesa até esse cassino revelam as péssimas condições das estradas, embora a China também tenha se comprometido a investir na zona para transformá-la em um centro logístico.
Especialistas sul-coreanos e chineses acham que poucas companhias se atreveriam a investir o dinheiro necessário para transformar essas regiões da atrasada Coréia do Norte, caso de Rason e Kumgang.
Até o momento, a empresa sul-coreana Hyundai Assam, primeira operadora turística de Kumgang até 2008, é a única interessada em continuar trabalhando nessa região, que agora parece contribuir para o desentendimento entre às Coreias.