Kaesong: ao fechar Kaesong, o Sul acabou com o "último" vínculo entre o Norte e o Sul, o que constitui uma "perigosa declaração de guerra" (Seokyong Lee/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2016 às 11h33.
A Coreia do Norte ordenou nesta quinta-feira que todos os sul-coreanos abandonem imediatamente o parque industrial conjunto de Kaesong, anunciou que irá confiscar todo o material deixado no complexo e chamou de "declaração de guerra" a decisão de Seul de fechar o local.
O anúncio do Comitê para a Reunificação Pacífica da Coreia é uma resposta à decisão de Seul de cessar as operações no complexo industrial, que fica em território norte-coreano, como represália ao recente teste nuclear e ao lançamento de um foguete de longo alcance por parte de Pyongyang no domingo passado.
Ao fechar Kaesong, o Sul acabou com o "último" vínculo entre o Norte e o Sul, o que constitui uma "perigosa declaração de guerra", segundo um comunicado do órgão norte-coreano.
Em um comunicado publicado pela agência oficial norte-coreana KCNA, o Comitê afirma que fechará Kaesong e transformará o local em zona militar.
Também anunciou o fim de todas as comunicações militares com a Coreia do Sul e o fechamento de um túnel que liga os dois países através da cidade de fronteira de Panmunjom.
Os sul-coreanos receberam a ordem de abandonar Kaesong antes das 17h00 (6h30 de Brasília) e informados que poderiam levar apenas os bens pessoais.
A associação que representa as 124 empresas sul-coreanas no complexo, que empregam 53.000 norte-coreanos em Kaesong, considerou "injusto" o fechamento do complexo.
"É como se nos ordenassem um salto de um penhasco", criticou o presidente da associação, Jeong Gi-Seob.
"Estou atônito com o que está acontecendo", lamebtou Jang Ik-Ho, diretor de uma empresa de engenharia, antes de atravessar a fronteira.
"Todas as empresas têm feito o máximo para que tudo funcione e isto é o que acontece. O que fizemos para merecer isto?", questionou.
As palavras refletem o sentimento de revolta entre os empresários sul-coreanos afetados pela medida.
Fechamento "inevitável"
Centenas de caminhões sul-coreanos atravessaram na manhã desta quinta-feira a fronteira com o Norte para retirar equipamentos e bens produzidos no complexo industrial intercoreano de Kaesong.
Seul considerou "inevitável" o fechamento da zona industrial de Kaesong, um dos últimos projetos conjuntos entre as Coreias e apresentado em 2004 como o símbolo da "reconciliação".
O governo sul-coreano acusou na quarta-feira Pyongyang de ter utilizado centenas de milhões de dólares de divisas arrecadadas em Kaesong para financiar seus programas de armamento.
A zona de Kaesong sempre foi apresentada como uma fonte chave de divisas estrangeiras para Pyongyang, mas também representa, desde sua abertura, uma vantagem para as empresas sul-coreanas, que dispõem de mão de obra norte-coreana mais barata e contam com muitos benefícios fiscais.
Kaesong foi o resultado da "diplomacia do raio de sol", conduzida pela Coreia do Sul de 1998 a 2008 para estimular os contatos entre os países rivais. Durante muito tempo, o complexo permaneceu à margem do conflito na península.
O subsecretário de Estado americano para a Ásia, Daniel Russel, afirmou que a decisão de Seul era um "indicador incontestável da gravidade com que observam as provocações" norte-coreanas.
Depois de um executar em 6 de janeiro seu quarto teste nuclear, a Coreia do Norte lançou um foguete no domingo, em violação a várias resoluções das Nações Unidas.
Russel defendeu a necessidade de trabalhar mais para convencer os dirigentes norte-coreanos de que "não poderão entrar no sistema econômico internacional (...) enquanto a Coreia do Norte continuar com seus programas nucleares e balísticos".
O Senado dos Estados Unidos aprovou na quarta-feira à noite por unanimidade uma lei que torna obrigatórias as sanções existentes contra qualquer pessoa ou empresa que ajude o regime de Pyongyang, especialmente no que diz respeito a adquirir materiais para fabricar armas de destruição em massa.
O Japão também anunciou novas sanções, incluindo a proibição de acesso aos portos do país aos navios norte-coreanos, "inclusive aqueles de caráter humanitário".