Conflito: "Não se trata de política, mas sim de esporte" (Thinkstock)
AFP
Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 14h45.
A Coreia do Norte deve participar dos Jogos de Inverno que serão sediados pela vizinha do sul em 2018, indicou nesta quarta-feira o presidente do Comitê de Organização da competição, o sul-coreano Lee Hee-beom, lembrando que a paz é o princípio fundador do olimpismo.
Ex-diplomata e ministro do Comércio de seu país, Lee preside desde maio de 2016 o Comitê de Organização sul-coreano (Pocog).
Os Jogos terão início em 9 de fevereiro de 2018, no condado de Pyeongchang, uma zona que há 60 anos foi o cenário de vários combates da Guerra da Coreia (1950-1953).
O conflito terminou com um armistício (suspensão das hostilidades), não com um tratado de paz, o que significa que ambos os países seguem tecnicamente em guerra.
Apesar das tensões políticas, mas dado o caráter conciliador do evento esportivo, os atletas norte-coreanos deverão participar dos Jogos na Coreia do Sul, insiste Lee, alegando que a tradição de "trégua olímpica" é respeitada desde a Grécia antiga.
"O principio fundamental do olimpismo é a paz", explicou o dirigente à AFP, na sede do Pocog, em Pyeongchang. "Qualquer pessoa que estiver a favor da paz deve participar e ter o direito de participar. A Coreia do Norte não será uma exceção".
A seu favor, Lee conta com diversos exemplos de "reconciliação" entre os vizinhos coreanos em Jogos Olímpicos.
Em 2000, as delegações de ambos os países desfilaram sob a mesma bandeira e, em agosto do ano passado, nos Jogos do Rio, a ginasta sul-coreana Lee Eun-Ju causou grande sensação ao tirar uma 'selfie' com a norte-coreana Hong Un-jong.
Mas 2016 foi um ano fatídico para a península asiática, devido aos testes nucleares e as dezenas de lançamentos de mísseis realizados pelo governo da Coreia do Norte, violando diversas resoluções do Conselho de segurança da ONU.
Antes do Jogos de Seul-1988, Pyongyang -capital da Coreia do Norte- pediu para se tornar co-organizadora do evento. O pedido acabou sendo negado, o que motivou o país do norte a boicotar os Jogos, uma postura seguida por Cuba, Etiópia e Nicarágua.
Recentemente, Pyongyang também se candidatou para sediar alguns dos eventos esportivos dos Jogos de 2018, mas a proposta foi recebida com frieza e pouco entusiasmo por parte do Comitê Olímpico Internacional (COI) e pelos vizinhos do sul.
Lee, por sua vez, se diz "aberto" à proposta no momento em que esta for "tecnicamente realizável", o que parece difícil com o pouco tempo até o início da competição e péssimas relações entre os dois países.
Apesar da Coreia do Norte ter participado de diversos Jogos de Inverno, só conquistou duas medalhas em toda sua história: uma prata na patinação de velocidade (Innsbruck-1964) e um bronze na patinação de velocidade em pista curta (Albertville-1992).
A um ano do início dos Jogos, a Coreia do Norte não é o único motivo de inquietação diplomática. O projeto norte-americano de instalar um escudo antimísseis na Coreia do Sul enfurece a China.
Neste sentido, Lee considera que um boicote da China "seria inimaginável", já que o gigante asiático será sede dos Jogos de Inverno de 2022.
"Os Jogos são os Jogos", continuou. "Não se trata de política, mas sim de esporte".
Por outro lado, a organização dos Jogos de Inverno-2018 se viu envolvida nos últimos meses em diversos casos de corrupção, que resultaram na destituição da presidente do país, Park Geun-Hye.
Park é acusada, assim como sua confidente Choi Soon-Sil, de ter recebido de maneira ilegal milhões de dólares em propinas pagas por conglomerados empresariais do país.
O próprio Lee substituiu no comando da Pocog o presidente da companhia aérea Korean Air, Cho Yang-Ho, que deixou o cargo para lidar com a crise que assola a empresa.
Mas Cho confessou recentemente que os rumores que diziam que ele se viu obrigado a deixar o cargo por se negar a dar um contrato de licença à confidente da ex-presidente do país "são 90% corretos".
Questionado sobre o tema, Lee garante não saber os motivos da demissão de seu antecessor.
"Há muitos rumores e escândalos, mas revisei todos os contratos do Pocog e não encontrei nada de irregular", afirmou à AFP o atual presidente do Comitê dos Jogos.
Contudo, os casos de corrupção motivaram várias empresas a deixar de apoiar a organização, o que obriga o Pocog a reunir cerca de 327 milhões de euros até o próximo inverno.