Guerra da Coreia: cerca de dois milhões de pessoas morreram, entre civis e militares, e a península terminou em ruínas (KCNA/Reuters)
AFP
Publicado em 27 de julho de 2018 às 14h27.
Cercados de colinas cobertas de neve, soldados, marinheiros e civis norte-coreanos se reuniam nesta sexta-feira (27), em um cemitério dedicado aos heróis, para prestar uma homenagem a seus irmãos de armas por ocasião do aniversário do fim da Guerra da Coreia.
As hostilidades terminaram há 65 anos com um armistício concluído entre as forças das Nações Unidas lideradas pelos Estados Unidos e os norte-coreanos e seus aliados chineses. Não houve um tratado de paz, motivo pelo qual a península segue tecnicamente em guerra.
A guerra começou em 1950, e os combates duraram até 1953, para retornar à situação herdada ao fim da Segunda Guerra Mundial, com a península dividida pelo paralelo 38. Cerca de dois milhões de pessoas morreram, entre civis e militares, e a península terminou em ruínas.
Ao fim das hostilidades, o Norte clamou vitória, e a guerra é utilizada pela dinastia Kim para legitimar seu poder.
Os pelotões de diferentes unidades militares se formaram neste cemitério de veteranos de guerra, no subúrbio de Pyongyang, dominado pela estátua gigante de um cano de fuzil e de uma baioneta decorados com a medalha dos Heróis da República Popular e Democrática da Coreia, nome oficial do país.
Coroas de flores foram depositadas ao pé de um caixão de granito, decorado com uma bandeira de metal, uma metralhadora e um quepe.
Uma voz entoou: "Inclinemo-nos diante dos mártires que participaram da Grande Guerra de libertação da mãe pátria", nome dado pelo governo norte-coreano ao conflito.
O primeiro a ser sepultado no cemitério caiu em combate com apenas 22 anos, e foi Jang Thae-hwa, que bloqueou a entrada de uma pequena fortificação com seu peito seis dias depois da invasão do Sul pelo Norte, em 1950, para permitir que sua unidade avançasse, segundo o relato oficial.
O último soldado a morrer em combate foi Ri Hyon-jun, de 20 anos, artilheiro feito Herói da RPDC por ter derrubado quatro aparelhos inimigos e que faleceu cinco dias antes do fim do conflito.
Com a cerimônia terminada, os soldados caminharam pelo cemitério, onde os túmulos estão ordenados cronologicamente.
Em paralelo, do outro lado do país, um avião americano carregava os restos mortais de 55 militares dos Estados Unidos, caídos durante a guerra, para repatriá-los.
As relações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos experimentaram um giro surpreendente nos últimos meses.
Em 2017, o líder norte-coreano Kim Jong-un e o presidente americano trocaram insultos e ameaças. Em 12 de junho, ambos se reuniram em Singapura para apertar as mãos.
O retorno dos restos dos soldados faz parte do acordo selado nessa ocasião.
Ainda falta comprovar a eventual renúncia do Norte a seu arsenal atômico, pelo qual o país já foi alvo de várias sanções da ONU.
Diferentemente do que costuma acontecer, a AFP não foi autorizada a falar com os presentes no cemitério, nem a assistir ao depósito de flores na colina Mansu, onde estão as estátuas do fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung, e de seu filho e sucessor, Kim Jong-il.
Os diplomatas instalados em Pyongyang explicam que conseguir um encontro com uma autoridade é ainda mais difícil do que no passado.
Os cartazes de propaganda se concentram no heroísmo dos combatentes norte-coreanos em vez das condenações do inimigo.
Em uma conferência nacional de veteranos de guerra, Choe Ryong-hae, membro da presidência do Politburô, destacou na quinta-feira "a estrondosa vitória da ideia militar influenciada pelo Juche (ideologia do regime), assim como da estratégia, táticas e arte notáveis do comandante Kim Il-sung".
No ano passado, a imprensa oficial se referiu aos "agressores imperialistas americanos" e garantiu que o Norte triunfaria sem pena.
Em 28 de julho de 2017, a Coreia do Norte lançou seu segundo Hwasong-14, um míssil balístico intercontinental.