Desfile militar da Coreia do Norte: programa nuclear se tornou uma das principais estratégias de defesa do país na esfera internacional (KCNA/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 9 de junho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 9 de junho de 2018 às 06h00.
São Paulo – Depois de meses de tensão, o mundo está prestes a vivenciar uma cúpula histórica entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder do regime da Coreia do Norte, Kim Jong-un, no próximo dia 12 de junho, em Singapura. É a primeira vez na história que líderes em exercício destes países se encontram pessoalmente.
A expectativa para o encontro é a de que a interrupção do programa nuclear histórico e a desnuclearização da Coreia do Norte seja o tema central, mas os resultados práticos dessa cúpula são imprevisíveis, ainda mais quando se considera o tamanho da importância dessa estratégia para o regime asiático.
Elaborado ainda na década de 70 como uma estratégia de sobrevivência do regime fundado por Kim Il-Sung, o programa nuclear e de mísseis assumiu novas proporções desde 2014, quando Kim Jong-un ascendeu ao poder. Desde então, testes balísticos e nucleares tornaram-se frequentes, ressuscitando o fantasma da ameaça nuclear em toda a Ásia.
Abaixo, EXAME destrinchou as datas-chave do programa norte-coreano, bem como produziu um infográfico que mostra suas atividades desde a década de 70. Veja abaixo:
– Final de 1970: Coreia do Norte começa a trabalhar em uma versão do míssil soviético Scud-B (alcance de 300 km) e que foi eventualmente testado em 1984.
– 1987-1992: desenvolvimento das versões do Scud-C (500 km), do Rodong-1 (1.300 km), do Taepodong-1 (2.500 km), do Musudan-1 (3.000 km) e do Taepodong-2 (6.700 km).
– Setembro de 1999: adiamento dos testes de mísseis de longo alcance devido à melhora das relações com Washington.
– 12 de julho de 2000: fracasso das negociações com os Estados Unidos sobre os mísseis, depois que a Coreia do Norte exigiu um bilhão de dólares americanos para paralisar as exportações dos aparatos.
– 3 de março de 2005: fim da prorrogação dos testes de mísseis de longo alcance, alegando uma política “hostil” por parte da administração Bush.
– Julho de 2006: testes de sete mísseis de longo alcance. Um deles (Taepdong-2) explode em pleno voo depois de 40 segundos. O Conselho de Segurança adota a resolução 1695, que pede o fim de qualquer atividade de mísseis balísticos.
– Outubro de 2006: primeiro teste nuclear subterrâneo e a edição da resolução 1718 do Conselho de Segurança, que pede o fim dos testes balísticos e nucleares.
– Abril de 2009: lançamento de um foguete de longo alcance que sobrevoa o Japão e cai no Pacífico. Para Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, trata-se de um teste do Taepodong-2. O Conselho de Segurança condena a operação e reforça as sanções. A Coreia do Norte abandona as negociações sobre seu programa nuclear.
– Maio e junho de 2009: segundo teste nuclear subterrâneo, muito mais potente. Resolução 1874 do Conselho de Segurança, que impõe sanções suplementares.
– 12 de fevereiro de 2013: terceiro teste nuclear subterrâneo.
– 6 de janeiro de 2016: quarto teste nuclear subterrâneo. A Coreia do Norte afirma ter testado uma bomba de hidrogênio, fato ainda questionado por especialistas.
– 7 de fevereiro de 2016: Pyongyang anuncia o sucesso de seu segundo lançamento de foguete espacial e que o país colocou um satélite em órbita.
– 2 de março de 2016: o Conselho de Segurança impõe à Coreia do Norte as sanções ainda mais duras.
– 9 de março de 2016: o dirigente norte-coreano Kim Jong-Un afirma que Pyongyang conseguiu miniaturizar uma ogiva termonuclear.
– 8 de julho de 2016: Estados Unidos e Coreia do Sul anunciam a mobilização na Coreia do Sul do escudo antimísseis americano THAAD.
– 3 de agosto de 2016: pela primeira vez, regime dispara um míssil balístico em águas japonesas.
– 5 de setembro de 2016: lançamento de três mísseis balísticos durante a reunião dos líderes do G20 na China.
– 9 de setembro de 2016: quinto teste nuclear.
– 1 de dezembro de 2016: a ONU endurece as sanções e limita as exportações norte-coreanas de carvão à China.
– 12 de fevereiro de 2017: teste de um novo míssil balístico, que percorre 500 km antes de cair no Mar do Japão.
– 6 de março de 2017: Pyongyang lança quatro mísseis balísticos e afirma se tratar de um exercício para atingir bases dos Estados Unidos no Japão.
– 7 de março de 2017: Estados Unidos iniciam o estabelecimento do sistema antimísseis THAAD na Coreia do Sul.
– 14 de maio de 2017: Coreia do Norte lança míssil que percorreu 700 km antes de cair no mar do Japão. Os analistas estimam a capacidade do alcance do projétil em 4.500 km.
– 4 de julho de 2017: Pyongyang dispara um míssil balístico que percorre 930 km antes de cair no mar do Japão. Os analistas estimam seu alcance em até 6.700 km, o que chegaria ao Alasca. O regime norte-coreano diz ter sido um teste de míssil balístico intercontinental Hwasong-14.
– 28 de julho de 2017: Pyongyang lança um míssil com alcance teórico de 10.000 quilômetros e que poderia atingir os Estados Unidos.
– 29 de agosto de 2017: Coreia do Norte dispara um míssil que sobrevoa o Japão antes de cair no Pacífico. De acordo com Seul percorreu 2.700 quilômetros a uma altura máxima de 550 km.
– 3 de setembro de 2017: Regime anuncia o sucesso em seu sexto teste nuclear, e o mais poderoso da sua história, com a explosão de bomba de hidrogênio que causou um terremoto de magnitude 6,3 na Península da Coreia.
- 3 de março de 2018: Notícias de que o regime estaria disposto a negociar a interrupção do seu programa nuclear começam a surgir.
- 18 de abril de 2018: O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, faz uma visita secreta à Coreia do Norte e prepara o terreno para um encontro de Kim e Trump.
- 27 de abril de 2081: Kim e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, se encontram para discutir o restabelecimento das relações entre os países, em guerra desde a década de 50, reforçando as esperanças de que uma reunificação poderia ser negociada.
- 12 de junho de 2018: A expectativa, até o momento, é a de que a cúpula histórica entre Trump e Kim aconteça nesta data, em Singapura. As negociações devem ser longas e espera-se que vários encontros aconteçam daqui em diante. O ponto central será a interrupção do programa nuclear norte-coreano, bem como a sua desnuclearização total.