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Copiloto escondeu doença que o impediria de voar

Autoridades disseram ter encontrado atestados rasgados mostrando que o piloto que derrubou o avião da Germanwings sofria de uma doença

Andreas Lubitz, copiloto de avião da Germanwings que caiu nos Alpes franceses, em foto de arquivo de 2009:  (Team-Mueller/Reuters)

Andreas Lubitz, copiloto de avião da Germanwings que caiu nos Alpes franceses, em foto de arquivo de 2009: (Team-Mueller/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de março de 2015 às 18h18.

Dusseldorf - Autoridades alemãs disseram nesta sexta-feira ter encontrado atestados médicos rasgados mostrando que o piloto que derrubou um avião nos Alpes Franceses sofria de uma doença que deveria ter impedido seu embarque no dia da tragédia.

Promotores franceses acreditam que Andreas Lubitz, de 27 anos, trancou-se na cabine do Airbus A320 da companhia aérea Germanwings na terça-feira e atirou o avião contra uma montanha propositalmente, matando todas as 150 pessoas a bordo.

“Foram confiscados documentos com informações médicas que apontam para uma doença pré-existente e o tratamento correspondente indicado pelos médicos”, informou o escritório da promotoria de Duesseldorf, onde o copiloto morava e que era o destino do voo que partiu de Barcelona.

As orientações médicas rasgadas encontradas em sua casa teriam liberado Lubitz do trabalho por motivos de saúde por um período que incluía o dia do acidente, o que apoia a ideia de que o copiloto “escondeu sua doença de seu empregador e seus colegas de trabalho”, afirmaram os promotores.

Eles não encontraram bilhete de suicídio nem confissão, “nem havia qualquer indício de um fundo político ou religioso no que aconteceu”, acrescentaram.

A Germanwings declarou que Lubitz não apresentou nenhuma licença médica que o teria mantido em solo na terça-feira, 24 de março, o dia da queda.

Na França, as autoridades afirmaram ter recuperado entre 400 e 600 partes de corpos espalhadas pelo local montanhoso do acidente. Nenhum corpo foi encontrado intacto, e os testes de DNA serão a melhor maneira de identificar os restos mortais, disse Patrick Touron, vice-chefe da divisão de pesquisa criminal da Gendarmeria, a polícia nacional francesa, aos repórteres. Os investigadores irão procurar pedaços de uniforme para tentar identificar a tripulação, incluindo Lubitz.

A saúde mental de Lubitz – e o que a Germanwings e a Lufthansa, sua proprietária, sabiam a respeito – podem se tornar questões centrais em qualquer futura ação legal decorrente da tragédia. De acordo com a lei alemã, os empregados têm obrigação de informar seus empregadores imediatamente se estiverem incapacitados para o trabalho.

Um hospital de Duesseldorf declarou que Lubitz compareceu ao local para ser diagnosticado em 10 de março, sem dar maiores detalhes por causa do sigilo entre médico e paciente, mas disse que as reportagens de que ele foi tratado de depressão estão incorretas.

Relatos da mídia alemã sugeriram que Lubitz sofreu de depressão no passado, e que a Lufthansa teria estado ciente pelo menos de parte de seu histórico.

O jornal Bild, citando documentos internos encaminhados pelo Centro Médico Aéreo da Lufthansa às autoridades alemãs, relatou que Lubitz sofria de depressão e ansiedade, e que foi determinado que ele havia tido um “episódio depressivo grave” mais ou menos na época em que suspendeu o treinamento, em 2009, e que mais tarde ele passou mais de um ano fazendo tratamento psiquiátrico.

A Lufthansa e os promotores alemães não quiseram comentar a reportagem. Carsten Spohr, diretor-executivo da Lufthansa, disse na quinta-feira que nada no passado de Lubitz dava a entender que ele era uma ameaça, e que depois que retomou o treinamento ele foi aprovado em todos os testes “com louvor”.

Um acordo internacional normalmente limita as compensações pagas pelas companhias aéreas a cerca de 157.400 dólares por passageiro morto em um acidente se a família não abrir processo, mas se os familiares quiserem pedir compensações por danos maiores, podem abrir uma ação civil.

A Lufthansa ofereceu pagar até 50 mil euros em assistência financeira imediata por passageiro do acidente, disse uma porta-voz à Reuters.

Advogados que representaram familiares em desastres aéreos anteriores disseram à Reuters que os processos em potencial poderiam questionar se a Germanwings avaliou o copiloto devidamente antes e durante sua contratação, e se a empresa tinha políticas apropriadas de controle de acesso às suas cabines.

NOVAS REGRAS

Horas depois de os promotores franceses revelarem sua teoria de que a queda foi deliberada, várias companhias aéreas mudaram seus regulamentos para exigir dois tripulantes na cabine o tempo todo, medida já obrigatória nos Estados Unidos, mas não na Europa.

A Lufthansa anunciou nesta sexta-feira que também irá alterar suas regras para exigir um segundo tripulante na cabine. Na quinta-feira Spohr disse não ver necessidade de fazê-lo, causando reação nas mídias sociais.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, afirmou que a empresa aérea alemã tem obrigação de compartilhar informações sobre Lubitz.

“Sou cauteloso quando há um inquérito, mas tudo aponta para uma ação criminosa, louca, suicida que não podemos compreender”, declarou Valls à rede iTELE.

Lubitz foi descrito por conhecidos de sua cidade-natal de Montabaur como um homem discreto mas amigável, que aprendeu a pilotar planadores no clube de aviação local antes de partir para a aviação comercial como copiloto da Germanwings em 2013.

Mas um amigo que conheceu Lubitz seis anos atrás afirmou que ele vinha se tornando cada vez mais retraído ao longo do último ano.

“Voar era a vida dele”, disse o amigo, que concordou em falar à Reuters sobre o estado mental de Lubitz sob condição de anonimato. “Ele sempre foi uma companhia discreta, mas no último ano isso piorou”.

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