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Copiloto queria que todo mundo conhecesse seu nome

Segundo ex-namorada, Andreas Lubitz havia dito que faria algo para que o mundo não o esquecesse


	Andreas Lubitz, copiloto de avião da Germanwings que caiu nos Alpes franceses, em foto de arquivo de 2009
 (Team-Mueller/Reuters)

Andreas Lubitz, copiloto de avião da Germanwings que caiu nos Alpes franceses, em foto de arquivo de 2009 (Team-Mueller/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 28 de março de 2015 às 21h00.

O copiloto do Airbus A320 da companhia alemã Germanwings, suspeito de provocar a queda deliberada do avião nos Alpes Franceses, disse que um dia "faria algo que mudaria todo o sistema" e que "todo o mundo conheceria seu nome", segundo uma ex-namorada.

Em entrevista ao jornal alemão "Bild" publicada neste sábado, Maria W., uma comissária de bordo de 26 anos apresentada como ex-namorada de Andreas Lubitz, disse que quando soube da tragédia lembrou-se de uma frase do piloto: "um dia vou fazer algo que vai mudar todo o sistema, e todo o mundo vai conhecer e se lembrar do meu nome".

Se Andreas "fez isso", afirmou Maria, "é porque percebeu que, devido a seus problemas de saúde, seu sonho de trabalhar na Lufthansa como comandante e piloto de longa distância era praticamente impossível".

A Germanwings, empresa alemã responsável pelo Airbus 320 que caiu, é uma subsidiária de baixo custo da Lufthansa.

Maria explica que seu relacionamento com Andreas Lubitz terminou "porque era cada vez mais evidente que ele tinha um problema. Durante as discussões, ficava irritado e gritava comigo (...) À noite, ele acordava e gritava: 'nós caímos!'".

"Sempre falamos bastante sobre trabalho e, então, ele se transformava, ficava com raiva das condições de trabalho. Pouco dinheiro, medo do contrato (de trabalho), muita pressão", completa a jovem.

"Ele era capaz de esconder dos outros o que realmente estava acontecendo", disse a jovem, acrescentando que ele "não falava muito sobre a doença, só que estava fazendo um tratamento psiquiátrico".

Promotores em Düsseldorf, no oeste da Alemanha, anunciaram na sexta-feira que Lubitz havia escondido que estava em licença médica no dia da tragédia. A hipótese mais provável é que ele sofresse de problemas psiquiátricos.

A promotoria informou ainda que foram encontradas, na casa do suspeito, várias licenças médicas rasgadas. Não se encontrou, porém, qualquer carta de despedida que revelasse a intenção suicida do piloto, em uma catástrofe que custou a vida dos 150 ocupantes da aeronave.

Sem citar fontes, o "Süddeutsche Zeitung" relatou que as licenças médicas estariam assinadas, "aparentemente", por um "neurologista e por um psiquiatra".

De acordo com informações do "Welt am Sonntag" divulgadas neste sábado, os investigadores descobriram na residência de Lubitz "vários medicamentos" destinados a tratar de "doenças psiquiátricas". O jornal acrescenta que o rapaz, "gravemente depressivo", teria sofrido um estresse significativo e recebido cuidados de "vários neurologistas e psiquiatras".

Já segundo o "Bild" e o "New York Times", o rapaz também teria problemas oftalmológicos, que poderiam comprometer sua capacidade de pilotar. A investigação ainda vai determinar se esses problemas seriam de origem orgânica, ou psicossomática.

O piloto da Germanwings Frank Woiton contou ao "Bild" já ter voado com Lubitz. "Ele falava da formação dele, dizia o quanto estava feliz. Ele dizia que logo faria voos de longa distância e se tornaria comandante de bordo", lembrou Woiton.

50.000 euros de ajuda por passageiro

As autoridades alemãs anunciaram que farão, em 17 de abril, na catedral de Colônia (oeste). uma cerimônia nacional em memória das 150 vítimas da tragédia. A chanceler Angela Merkel estará presente, e os líderes dos países envolvidos já foram convidados.

Enquanto isso, no sudeste da França, as equipes de busca em Seyne-les-Alpes retomaram seus trabalhos, 10 km a partir do local onde o avião caiu. De acordo com a Polícia Civil, há pessoas trabalhando em turnos na região.

Cerca de 40 quilômetros ao sul, uma missa para as vítimas foi realizada em Digne-les-Bains. Entre os mortos, estão 75 alemães e 51 espanhóis.

Como parte do dispositivo implantado para acomodar as famílias, mais 1.300 leitos e 40 intérpretes em oito idiomas foram colocados à disposição, de acordo com autoridades locais.

A Germanwings anunciou uma primeira ajuda às famílias das vítimas de "até 50.000 euros por passageiro" para atender às despesas imediatas. Essa ajuda é independente da indenização a ser paga.

As circunstâncias do acidente têm levado várias empresas a pedir a presença permanente de duas pessoas na cabine de piloto, o que já é obrigatório para as companhias aéreas norte-americanas.

A Agência Europeia para a Segurança da Aviação (Easa) defendeu nesta sexta-feira a adoção da norma para impedir que um gesto suicida coloque em risco a vida dos passageiros e da tripulação.

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