Glasgow, na Escócia: município almeja ser um dos mais verdes da Europa (Glasglow/Divulgação)
Em gaélico, Glasgow significa “encantador lugar verde”. A cidade escocesa, anfitriã da COP26, conferência do clima mais importante desde o Acordo de Paris, não poderia traduzir melhor o propósito do evento. Não só pelo nome, mas principalmente pela estreita relação que mantém com a sustentabilidade.
Sua escolha pelo Reino Unido para sediar o encontro global de 12 dias, com quase 200 líderes mundiais, é mais do que justificada. Além da ampla experiência e estrutura para uma convenção desse porte, Glasgow é um exemplo do futuro que pode dar certo.
Com a meta de neutralidade de carbono em 2030, o município almeja ser um dos mais verdes da Europa. No ano passado, foi declarado Cidade Verde Global e está em quarto lugar no mundo como destino sustentável de conferências internacionais – o único britânico a entrar nesse ranking.
Dona da segunda maior proporção europeia de área de vegetação por habitante, 32%, Glasgow possui 90 parques e jardins. Desses, oito ganharam o cobiçado prêmio Green Flag, que reconhece os espaços verdes bem administrados do Reino Unido.
Em 2017, seu departamento de convenções foi o primeiro a ganhar um Prêmio de Turismo Verde na Escócia e, em 2020, o primeiro do mundo a aderir ao Tourism Declares, iniciativa para incentivar a indústria de viagens no desenvolvimento de planos de ação para um turismo de negócios mais sustentável.
Também foi a pioneira no Reino Unido ao assinar a Declaração das Cidades Circulares, que visa acelerar a transição de uma economia linear para uma circular na Europa. E se destaca pelo uso de energia limpa, com investimento constante em painéis solares e o maior parque eólico onshore do Reino Unido.
Por tudo isso, entre mais de 500 cidades no mundo, é considerada a menos vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas e tem a quarta menor exposição a riscos ambientais em geral.
Para a COP26, o plano da cidade é inspirar os participantes, mostrando que a recuperação verde é uma realidade tangível. Por isso, mais do que iniciativas pontuais, Glasgow aproveitou a oportunidade da conferência para investir em projetos de longo prazo, para um legado real e perene.
“Claro que, com a COP26 sendo sediada em Glasgow, os olhos do mundo estarão sobre nós. Temos a oportunidade de não apenas ter nossa cidade associada à maior – e talvez a última – chance de governar nosso planeta em um caminho mais seguro, mas também para acelerar as mudanças que temos que fazer como cidade”, disse Susan Aitken, líder do conselho municipal local.
Como vitrine desse empenho, uma das ações foi o lançamento de um mapa interativo, para os visitantes e residentes explorarem a pé os projetos de sustentabilidade e inovação que estão colaborando para o município alcançar a meta de ser net zero no fim da década.
Muitos dos pontos de parada do mapa integram o programa Glasgow Sustentável. Trata-se de uma parceria inovadora com os empreendedores locais para adotar práticas de negócios sustentáveis, a fim de posicionar a cidade como líder no desenvolvimento da economia circular.
“O trabalho da parceria Glasgow Sustentável terá um papel crucial na realização de nossas ambições climáticas e estou muito satisfeita em ver o Storymap mostrando a variedade e a profundidade das iniciativas em desenvolvimento em toda a Glasgow”, afirmou Aitken.
No último dia 21, a cidade lançou ainda o Glasgow Green Deal, uma missão de nove anos que irá remodelar a economia local para enfrentar a emergência climática. Será um trabalho com empresas, cidadãos e governos para elaborar ações que aumentem o ritmo, a escala e os impactos dos esforços para descarbonizar a economia.
O Acordo inclui planos para um metrô e reforma de mais de 400 mil casas para melhorar a eficiência energética, além de uma rede regional de recarga de veículos elétricos e um novo distrito circular, formado por oficinas de reúso e reparos.
Alguns projetos que nasceram com a COP26 estão ligados ao aumento da área verde. Um deles é a criação de uma cadeia de Wee Forests (pequenas florestas) no coração da cidade. Serão oito ao todo.
Uma Wee Forest (ou Tiny Forest) é formada por 600 árvores nativas plantadas densamente em um lote do tamanho de uma quadra de tênis, com um método de plantio que acelera o crescimento. É capaz de atrair mais de 500 espécies de animais e plantas já nos primeiros três anos.
Além disso, é uma oportunidade para reforçar a conexão da comunidade com o meio ambiente, como ressaltou a ministra escocesa do meio ambiente, Mairi McAllan. “Permite que as pessoas se envolvam diretamente no enfrentamento das crises naturais e climáticas, plantando, cuidando e monitorando uma floresta e da vida selvagem que ela atrai em sua própria vizinhança”.
Também está previsto o plantio de dez árvores para cada habitante em toda a região de Glasgow ao longo desta década – a projeção é um total de 18 milhões. O objetivo é criar uma floresta urbana para enfrentar as mudanças climáticas, a Floresta Climática Clyde.
Serão arborizados áreas carentes, antigas minas de carvão, terrenos abandonados, ruas urbanas e outros locais, o que deve aumentar a cobertura florestal na região de 17% para 20%.
“O plantio de árvores é a chave para enfrentar as crises de mudança climática e perda de biodiversidade, e há um grande apoio para isso em toda a Escócia. Os benefícios vão durar por gerações”, declarou McAllan.
Outros exemplos de iniciativas na área urbana são as estações de carregamento de veículos elétricos com medição inteligente, que estão sendo testadas com pioneirismo em Glasgow.
Embora o centro da cidade seja projetado para ser facilmente percorrido a pé, o município possui 80 estações de bicicleta. São 870 bikes padrão e 126 E-bikes disponíveis para cidadãos e visitantes pedalarem pelos 270 km de ciclovias.
Para o futuro, será possível ver ainda um distrito de inovação climática, que vai tornar uma área do município 100% neutra para o clima. O ambicioso projeto deve reunir uma série de modernas medidas do uso de recursos naturais e físicos.
Também estão em construção, a 20 minutos do centro, as primeiras casas net zero da Escócia, usando métodos de construção avançados, além do maior e mais sustentável edifício de escritórios da cidade, totalmente elétrico com zero emissões de carbono.
Mais uma ação importante na meta para 2030 é a nova estratégia de reciclagem, com foco em aproveitar ainda mais os resíduos e minimizar o desperdício. Hoje, a prefeitura já transforma 90% do lixo que teria ido para aterros em eletricidade renovável.
E até o transporte dá exemplo: Glasgow tem a maior frota mundial de veículos de coleta de lixo movidos a hidrogênio.
Em paralelo, tem sido feito um intenso trabalho de estímulo à participação da população nessa questão, como projetos de voluntariado para cuidar da limpeza de bairros e parques, dicas de coleta de resíduo doméstico e educação ambiental com recolhimento de lixo pelas crianças.
“Estamos orgulhosos do que alcançamos até agora”, disse a conselheira municipal Susan Aitken. “E procuramos mostrar tudo o que ainda está por vir para garantir que nosso ‘encantador lugar verde’ esteja pronto para se adaptar à crise climática que continua sendo uma prioridade global, nacional e local”.