. (Kacper Pempel/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 9 de dezembro de 2018 às 11h30.
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deste ano (COP 24) entra na segunda semana de programação com a missão de concretizar as negociações que podem definir as regras de implementação do Acordo de Paris. É nesta reta final que chegam os ministros dos 195 países integrantes da convenção para as reuniões de alto nível.
A conferência que começou no domingo passado (2), em Katowice, Polônia, vai até a próxima sexta-feira (14). Ao longo da última semana, foram divulgados durante o evento vários estudos que apontam os riscos do aquecimento global para o meio ambiente, para a saúde humana e o desenvolvimento da economia, principalmente em regiões mais pobres com populações vulneráveis.
Os cientistas alertam que as metas de limitar o aumento da temperatura global em até 2º Celsius (ºC) ou o esforço de 1,5 ºC, como prevê o Acordo de Paris, só serão alcançadas se os países adotarem de forma urgente medidas que reduzam de forma significativa as emissões de gases de efeito estufa.
Um dos levantamentos divulgados durante a COP 24 aponta que até o fim deste ano as emissões globais de carbono podem crescer até 3%, projeção considerada recorde nos últimos anos.
Além da aprofundar o debate em torno do chamado livro de regras para colocar as metas do Acordo de Paris em prática, a delegação brasileira, formada por integrantes dos ministérios das Relações Exteriores, Meio Ambientes, entre outras pastas, deve apresentar os resultados das rodadas do chamado Diálogo de Talanoa, momento em que cada nação compartilha as experiências positivas de descarbonização.
Na programação do Espaço Brasil, montado no local do evento, já ocorreram vários debates com representantes da comunidade científica e de povos tradicionais, como indígenas e quilombolas. Integrantes do governo brasileiro apresentaram as medidas de proteção do Cerrado e de produção sustentável, além dos resultados das ações de combate ao desmatamento ilegal em biomas como a Amazônia.
Para esta semana, um dos temas que serão discutidos é a importância do uso da terra para o desenvolvimento e a consolidação da agricultura sustentável no país. Também devem ser discutidas estratégias de adaptação aos efeitos do aquecimento global no Brasil e de proteção florestal aliadas ao desenvolvimento econômico e social.
O movimento Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, formado por mais de 200 especialistas e representantes de empresas do setor privado, de organizações ambientais, do agronegócio e da academia discutirá as questões apresentados no documento em que defendem uma nova visão sobre a agricultura e a adoção de novos métodos de uso da terra para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.
No relatório intitulado Visão 2030-2050: O Futuro das Florestas e da Agricultura no Brasil, os integrantes do movimento ressaltam que a produção agropecuária não deve mais ser vista em dissonância com a conservação ambiental ou com os direitos dos povos e comunidades tradicionais, mas como parte da solução.
O grupo justifica que o uso da terra tem papel central nas estratégias de mitigação do aquecimento global. Baseados em projeções para os anos de 2030 e 2050, os pesquisadores destacam que somente com a proteção e recuperação da natureza é possível garantir segurança alimentar e inclusão social.
Segundo o relatório, apesar do desmatamento e a agropecuária ainda representarem cerca de dois terços das emissões de carbono na atmosfera no Brasil, o país pode reduzir o nível de emissões e aumentar a capacidade de capturar carbono se adotar melhores práticas agropecuárias, de silvicultura e restauração florestal.
O plantio de florestas, o bom manejo dos pastos e sistemas integrados de lavoura, pecuária e floreta poderiam reduzir em 10% as emissões de carbono pelo setor agropecuário. As projeções fazem parte da última edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
O relatório da Coalizão Brasil também aponta que o uso sustentável da terra pode aumentar a produtividade e resiliência brasileira diante do mercado global e ainda melhorar a qualidade de vida da população nas próximas décadas.
O movimento também destaca a importância de se trabalhar políticas públicas e mecanismos que viabilizem as metas de conservação e recuperação das florestas. Os pesquisadores ressaltam que manter a floresta em pé é bom para quem produz no campo e que é preciso aplicar os instrumentos legais já dispostos pelo poder público para evitar o crescimento do desmatamento ilegal.