A notícia que uma jovem convertida ao islã sequestrada em uma igreja levou muçulmanos a tentarem invadir o templo, evidenciando a frágil relação entre muçulmanos e cristãos (Arquivo/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de maio de 2011 às 11h23.
Cairo - O conflito entre amor e religião pode até parecer um roteiro atraente para o cinema, mas na realidade de países como o Egito se transforma em um coquetel explosivo que reacende a cada vez mais frequente tensão religiosa.
A conversão de uma cristã ao Islã e os rumores de um casamento entre um cristão e uma muçulmana são os principais estopins de conflitos como os ocorridos há uma semana no Cairo, que resultaram em 15 mortes e cerca de 200 pessoas feridas.
Nesta ocasião, a notícia que uma jovem tinha se convertido ao islã e foi sequestrada em uma igreja, levou centenas de muçulmanos a tentarem invadir o templo, evidenciando a frágil relação entre a maioria muçulmana e a minoria cristã copta, que representa 10% da população egípcia.
Rumor ou não, ao que se soma a suposta relação da jovem com um muçulmano após abandonar seu marido copta, a realidade é que estas situações encorajam os muçulmanos a denunciar que a mulher está mantida contra sua vontade pela Igreja, e os cristãos a protestar que foi obrigada a mudar de religião.
Em paralelo, continua vivo o caso de Camilia Shehata, a esposa de um padre que supostamente se converteu ao islã no ano passado e cujo desaparecimento motivou protestos de ambas comunidades, que demonstraram a intolerância religiosa e a dificuldade para mudar de credo no Egito.
Para o especialista em estudos islâmicos de Al-Azhar, a instituição mais prestigiosa do islã sunita, Abdel Moti Bayumi, o fato de que diversas jovens cristãs se converteram ao islã é resultado da postura da Igreja Copta que não permite o divórcio nem um segundo casamento.
"Isto abriu a porta para uma onda de conversão de meninas cristãs ao islã, mas no mundo árabe as conversões difamam às famílias, são mal vistas socialmente e são causa de conflito", explicou à Agência Efe Bayumi.
Contudo, o ativista cristão copta Raed al Sharqawy, não concorda e garante que normalmente as conversões são feitas por jovens de 15 a 18 anos que se apaixonam por um muçulmano.
Quando a relação amorosa termina e as jovens querem voltar para o cristianismo surgem as dificuldades, disse à Agência Efe Al Sharqawy, que ressaltou os problemas para mudar a carteira de identidade, que no Egito reflete a religião de seu titular.
"Na atualidade há 4,7 mil casos em julgamento e há sete anos não se emitiu nenhum veredicto a respeito, enquanto as autoridades facilitam a conversão ao contrário", denunciou.
Embora legalmente os cristãos tenham mais facilidade para mudar de religião em comparação com os muçulmanos, sofrem a mesma pressão de suas famílias e se arriscam a serem excluídos de seu círculo social.
O ativista cristão copta ressaltou que as conversões no Egito vão em "uma só direção, para o islã, e com ameaças e castigos de morte ateando fogo no corpo nos casos de conversão de um muçulmano".
Neste sentido, Bayumi comentou que o islã não reconhece as conversões e que embora "o castigo por apostasia (renúncia de religião), que condena a morte o indivíduo que deixar o islã, faz parte do pensamento muçulmano, não se aplica".
A declaração contrasta com as ameaças e ataques recebidos por aqueles que se atreveram a mudar de credo ou a manter uma relação com alguém de outra confissão, porque os casais mistos enfrentam muitos impedimentos religiosos e sociais.
Enquanto a Igreja Cristã Copta não admite os casamentos entre fiéis de ambas religiões, o islã permite que um muçulmano se case com uma mulher de outro credo, mas não que o faça uma muçulmana.
Para Al Sharqawy, "quando uma jovem cristã tem uma relação com um muçulmano é uma desonra para toda a família", e o mesmo ocorre no centro da comunidade muçulmana, onde acusam a menina de ser "uma prostituta".
Este foi o estopim de um choque sectário por trás da morte de 13 pessoas no dia 8 de março, motivado pelo incêndio de uma igreja onde um jovem copta mantinha presa uma muçulmana.
Perante este aumento da tensão, as autoridades egípcias proibiram as manifestações frente os templos e anunciaram que condenarrão todo tipo de discriminação entre cidadãos.