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Putin aceita cessar-fogo parcial e suspende ataques ao setor de energia da Ucrânia

Gesto foi feito após conversa com o presidente Donald Trump, que durou mais de duas horas

Vladimir Putin, presidente da Rússia, durante reunião em Moscou (Yuri Kochetkov/AFP)

Vladimir Putin, presidente da Rússia, durante reunião em Moscou (Yuri Kochetkov/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 18 de março de 2025 às 14h41.

Última atualização em 18 de março de 2025 às 15h03.

Os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, da Rússia, falaram por quase duas horas e meia, nesta terça-feira, 18. Após a conversa, o governo russo disse que os ataques contra infraestruturas de energia da Ucrânia serão suspensos por 30 dias. A medida passou a valer imediatamente.

"Durante a conversa, Donald Trump propôs que as partes do conflito se abstivessem mutuamente de ataques às instalações de infraestrutura energética por 30 dias. Vladimir Putin respondeu positivamente a essa iniciativa e imediatamente deu aos militares russos a ordem correspondente", disse o Kremlin, em comunicado, citado pela BBC.

"Os líderes concordaram que o movimento em direção à paz começará com um cessar-fogo nas áreas de energia e infraestrutura, bem como negociações técnicas sobre a implementação de um cessar-fogo marítimo no Mar Negro, cessar-fogo total e paz permanente. Essas negociações começarão imediatamente no Oriente Médio", diz um comunicado da Casa Branca, divulgado após a conversa.

No domingo, 16, Trump disse que o telefonema com Putin envolveria "questões territoriais" e o destino de usinas de energia da Ucrânia, além de tratar sobre a divisão de "certos ativos". No começo da guerra, a Rússia tomou a usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, que se mantém inativa desde então. Ela fica em um território que Moscou reivindica ter conquistado, e que a Ucrânia quer de volta.

Trump se colocou como moderador da disputa e prometeu parar a guerra, que já dura três anos. Na semana passada, a Ucrânia aceitou uma proposta americana de um cessar-fogo completo, de 30 dias, mesmo após o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter sido atacado publicamente pelo republicano durante um evento na Casa Branca.

Zelensky tinha pouca escolha, pois depende de ajuda militar americana, que fornece dinheiro, armas e informações de inteligência. Sem elas, não é possível se manter no combate.

Na semana passada, Putin disse que era favorável a um cessar-fogo, mas não nos termos atuais. Ele questiona quais seriam as formas de verificar que a trégua seria mantida e diz que a pausa poderia servir para a Ucrânia se rearmar e retomar fôlego na guerra.

Acenos de Trump

Putin recebeu fortes acenos de que Trump pode fazer concessões, inclusive em concordar que a Rússia fique de vez com territórios da Ucrânia que foram tomados durante a guerra. O americano disse que o desejo ucraniano de recuperar áreas como a Crimeia e as áreas de Donetsk e Lugansk eram "irrealistas".

Nas últimas semanas, Trump disse ainda que pode voltar a permitir negócios entre empresas russas e americanas. Após a Rússia invadir a Ucrânia, o governo de Joe Biden determinou fortes sanções, e companhias americanas, incluindo o McDonald's e a Coca-Cola, saíram do país às pressas e venderam seus ativos a empresários russos.

Além disso, segundo o New York Times, Putin pode ainda pedir o relaxamento de sanções contra o país, que travaram a venda de petróleo e gás para o Ocidente, uma das principais fontes de recursos da Rússia.

Outro ponto de embate entre os dois lados é que Zelensky defende que uma força internacional seja posicionada na Ucrânia para garantir que a Rússia não invada o país vizinho de novo. Putin é contra a ideia e disse que ela poderia criar um conflito direto entre soldados americanos ou europeus com a Rússia, escalando a situação na região.

Esta foi a segunda conversa por telefone entre Trump e Putin neste ano. Os dois falaram no começo de fevereiro, e o líder russo concordou em iniciar um processo de negociação para encerrar a guerra, que ele mesmo começou e que, nos últimos três anos, nenhum país do mundo conseguiu convencê-lo a parar.

Veja a íntegra do comunicado da Casa Branca

Hoje, o presidente Trump e o presidente Putin conversaram sobre a necessidade de paz e um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. Ambos os líderes concordaram que este conflito precisa terminar com uma paz duradoura. Eles também enfatizaram a necessidade de melhorar as relações bilaterais entre os Estados Unidos e a Rússia. O sangue e os recursos que tanto a Ucrânia quanto a Rússia têm gasto nesta guerra seriam melhor aproveitados para atender às necessidades de seus povos.

Este conflito nunca deveria ter começado e deveria ter sido encerrado há muito tempo com esforços sinceros e de boa fé para a paz. Os líderes concordaram que o movimento em direção à paz começará com um cessar-fogo nas áreas de energia e infraestrutura, bem como negociações técnicas sobre a implementação de um cessar-fogo marítimo no Mar Negro, cessar-fogo total e paz permanente. Essas negociações começarão imediatamente no Oriente Médio.

Os líderes falaram amplamente sobre o Oriente Médio como uma região de potencial cooperação para prevenir futuros conflitos. Discutiram ainda a necessidade de impedir a proliferação de armas estratégicas e se comprometeram a se engajar com outros para garantir a aplicação mais ampla possível. Os dois líderes compartilharam a visão de que o Irã nunca deveria estar em uma posição de destruir Israel.

Os dois líderes concordaram que um futuro com uma relação bilateral melhorada entre os Estados Unidos e a Rússia tem um enorme potencial. Isso inclui enormes acordos econômicos e estabilidade geopolítica quando a paz for alcançada.

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