Velocidade: hospital em Wuhan, na China, foi construído em 10 dias para tratar pacientes do novo coronavírus (China Daily/Reuters)
AFP
Publicado em 21 de março de 2020 às 10h47.
Última atualização em 21 de março de 2020 às 10h48.
O terreno baldio, nos arredores de Moscou, é guardado como um local militar. Cercado por barreiras policiais, as autoridades russas desejam construir um hospital no estilo chinês para pacientes com coronavírus em tempo recorde.
A obra começou na semana passada, perto da vila de Golokhvastovo, 70 km a sudoeste da capital russa.
Trata-se de construir um edifício em tempo mínimo, inspirado na "experiência dos parceiros chineses", segundo a prefeitura de Moscou, referindo-se ao centro hospitalar pré-fabricado com capacidade para 1.000 leitos que eles ergueram em Wuhan, epicentro da crise da saúde, em apenas dez dias.
Os operários são de várias regiões russas e da Ásia Central e estão acostumados a grandes projetos públicos da cidade de Moscou.
Caminhões e escavadeiras percorrem incansavelmente o terreno e limpam a terra em aparente caos, sob chuva congelante.
"Não temos um cronograma preciso para a construção deste hospital, mas esperamos finalizá-lo em um mês, talvez mais cedo", explica Pavel, um trabalhador de 28 anos da Chuvachia, a 600 km de Moscou.
O trabalho é ininterrupto, dia e noite. Parte dos 3.200 trabalhadores da construção vive no mesmo local, em tendas e barracas de acampamento.
O hospital terá capacidade para 500 leitos e poderá instalar equipamentos de assistência respiratória.
"Os primeiros pacientes com coronavírus chegarão entre agora e abril", explica um dos engenheiros, Arthur, de 31 anos.
No total, existem 43 hectares que hospedarão "um dos centros médicos mais modernos", segundo Andrei Bochkarev, vice-prefeito de Moscou.
De acordo com um comunicado, o edifício incluirá "blocos cirúrgicos, serviços de ressuscitação e diagnóstico e outros reservados para crianças".
Segundo o site russo Znak, que cita um documento interno da prefeitura não publicado, as obra custará 8,5 bilhões de rublos (100 milhões de euros, 107 milhões de dólares).
A Rússia contabiliza oficialmente apenas 199 casos do novo coronavírus e garante que a situação está "sob controle", embora o número de pacientes esteja aumentando rapidamente.
No entanto, muitos russos suspeitam desses números, como é habitual em um país onde as autoridades frequentemente mentem sobre a realidade de uma catástrofe.
O prefeito da capital, Serguei Sobianin, fiel aliado do regime, garante que tudo foi bem planejado: o hospital fica a 250 metros das casas dos vizinhos e "não representará perigo".
Os vizinhos não pensam o mesmo.
"Eles estão construindo um foco gigante de infecção, não contribuirá com nada de bom", critica Anatoli Bulychev, 79 anos, sentado em um banco para assistir os veículos desfilarem pelo canteiro de obras.
"Deixem Sobianin construir este hospital perto de sua casa de campo! Não temos pouco espaço na Rússia", exclama.