Venizelos deixou claro sua decepção pelo Syriza se negar a participar da coalizão (John Thys/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2012 às 14h14.
Atenas - Duas eleições e mais de um mês depois, os conservadores esperam encerrar o mais rápido possível um período de incerteza política na Grécia e alcançar na terça-feira um acordo para a composição de um governo de coalizão.
"O país tem um prazo de ingovernabilidade que não chega nem a uma hora", disse hoje o presidente grego, Karolos Papoulias, ao vencedor das eleições legislativas de domingo, Antonis Samaras. O Nova Democracia (ND), partido de Samaras, recebeu hoje o mandato para formar um novo executivo.
O ND conseguiu no pleito de ontem 29,66% dos votos e 129 deputados no Parlamento, por isso precisa encontrar parceiros que o permitam alcançar pelo menos 151 cadeiras (maioria absoluta).
O segundo colocado nas eleições, a esquerda radical do Syriza, com 26,89% dos votos e 71 cadeiras, já avisaram que permanecerão na oposição, assim como os nacionalistas Gregos Independentes (7,51% e 20 assentos), os neonazistas do Amanhecer Dourado (6,92% e 18 cadeiras) e o Partido Comunista (4,50% e 12 deputados).
Todas estas formações defendem o fim das medidas de austeridade impostas pela União Europeia (UE) em troca do segundo pacote de resgate, concedido em março, no valor de 130 bilhões de euros.
Por isso, o principal sócio que surge para a implementação de um pacto de governo é o social-democrata Pasok, liderado por Evangelos Venizelos e que no domingo conseguiu 12,28% dos votos e 33 cadeiras.
"Com Venizelos concordamos que deve ser formado um governo de salvação nacional durante meu mandato", explicou Samaras em entrevista coletiva nesta segunda-feira.
O mandato concedido pelo presidente tem duração de três dias, período no qual o líder do partido, neste caso Samaras, deve apresentar ao chefe de Estado uma proposta de governo.
Venizelos, por sua parte, expressou sua vontade de que as negociações não se prolonguem demais e estejam concluídas nesta terça-feira à tarde.
"Samaras e eu concordamos que o país necessita de um governo imediatamente. Está claro que temos que passar uma imagem séria tanto no interior como no exterior", afirmou Venizelos após a reunião com o líder conservador.
Venizelos deixou claro sua decepção pelo Syriza se negar a participar da coalizão, já que o político sabe que seu partido, que perdeu dois terços dos eleitores em relação às eleições de 2009, sofrerá um grande desgaste ao participar do governo e enfrentar a oposição da esquerda.
O Nova Democracia e o Pasok estão tentando conseguir o apoio da pequena formação de centro-esquerda Dimar (6,26% e 17 deputados), para pelo menos conseguir uma maior aceitação popular ao novo governo e evitar que ele seja uma repetição do Executivo que assinou o segundo plano de resgate sob a direção do ex-banqueiro Lucas Papademos.
O líder do Dimar, Fotis Kouvelis, o político mais bem avaliado em toda Grécia, já avisou que seu partido quer cooperar na "estabilidade" do país, mas não entregará um "cheque em branco" a um governo dos partidos que comandaram o destino da nação nas últimas décadas.
A chave da formação do Executivo é portanto a renegociação e suavização das medidas de austeridade e reformas assinadas em março pelo governo de Papademos e a UE, uma promessa eleitoral da ND e do Dimar, e em menor medida do Pasok.
"Tenho a intenção de formar um governo de salvação nacional de longa duração, que renegociará o plano de resgate, para que seja possível o desenvolvimento econômico, a redução do desemprego e a coesão social", explicou Samaras após seu encontro com o presidente.
De fato, a UE sinalizou hoje para um relaxamento do calendário previsto para o resgate da Grécia, embora insistiu que o primeiro passo é formar um novo gabinete e avaliar a aplicação das reformas que Atenas se comprometeu a realizar.
"Estou quase seguro que serão concedidos dois anos adicionais", comentou uma fonte comunitária à Agência Efe.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, afirmou no domingo que "pode se falar de mudanças no cronograma, mas não há um caminho diferente ao das reformas".