Membros do coletivo ucraniano "Castigo celeste" (Aleksey Filippov/AFP)
AFP
Publicado em 3 de abril de 2022 às 14h49.
Última atualização em 30 de maio de 2022 às 12h44.
A localização exata é um segredo. Em Lviv, no oeste da Ucrânia, entusiastas amadores fabricam discretamente drones letais destinados ao uso na guerra contra a Rússia. Em uma mesa cheia de objetos está a grande estrutura em forma de X de um drone, cercado por hélices de plástico e sacos com pequenos parafusos.
O drone deve estar pronto para voar em breve, carregado com uma granada antitanque do tamanho de uma garrafa de vinho e capaz de perfurar a blindagem russa.
Outras dois artefatos já estão equipados com compartimentos de bombas e hélices em miniatura para atacar a infantaria russa e ajudar os ucranianos a defender o norte e o sul do país.
Outro, do tamanho de uma ave de rapina e em forma de bombardeiro furtivo, será usado pela artilharia para missões de reconhecimento, identificando alvos a serem atacados.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, o coletivo Nebesna Kara ("Castigo Celeste") já fabricou cerca de quarenta desses drones para o exército ucraniano.
Antes da guerra, seus seis membros eram amigos que frequentavam círculos de drones de competição.
"Infelizmente, tudo mudou", diz Alex, um dos seis, que prefere não revelar seu sobrenome por questões de segurança.
Especialistas estimam que as forças ucranianas carecem de homens e armas contra o exército russo. Mas sua defesa obstinada, baseada no conhecimento do terreno, seus ataques relâmpagos e o uso de sabotagem tecnológica, fazem maravilhas.
No início da invasão, a capital Kiev parecia que cairia rapidamente para uma enorme coluna blindada russa de 65 quilômetros de comprimento avançando do norte do país.
Equipes móveis armadas com drones teriam desempenhado um papel fundamental no combate a essa ofensiva, identificando alvos para ataques aéreos, forçando o comboio a se dispersar.
"É uma técnica de reconhecimento e precisão do fogo de artilharia", explica outro integrante do grupo, Dmitri, que também prefere não revelar seu sobrenome.
"Atualmente há uma forte demanda por esses equipamentos subversivos", ressalta.
O coletivo, que também trabalha com a ajuda de 10 "assessores" e o conhecimento de 877 aficionados por meio de mensagens online, recebe pedidos de especialistas militares em zonas de conflito.
Suas criações voadoras são feitas a partir de modelos de venda livre, peças impressas em 3D e componentes provenientes de um varejista chinês online.
O exército ucraniano pediu doações para ajudar a defender o país. Grandes quantidades de "ajuda mortal" foram enviadas por nações estrangeiras, e os cidadãos foram convidados a fazer uma contribuição financeira.
Segundo Alex, o programa de drones em miniatura funciona de maneira semelhante. Os especialistas ensinam como operar o drone e são responsáveis por fabricá-lo sob medida graças ao financiamento participativo.
Dmitri mostra em seu telefone um vídeo de um drone passando por uma trincheira russa, revelando as posições das forças no campo.
"Se você tem um piloto acostumado a operar esse tipo de aparelho, pode passar por cima da trincheira e em cinco minutos terá todas as informações que precisa", diz Alex.
"Um iPhone é mais caro que esse tipo de equipamento", compara.
Em um canto da oficina, há embalagens com drones e peças de reposição.
Um irá a Mykolaiv, onde um míssil atingiu o prédio da administração regional na terça-feira, matando cerca de 30 pessoas.
Pronto para ser enviado, vai acompanhado de uma nota escrita em uma folha vermelha e azul, endereçada ao piloto ucraniano, mas talvez também às forças russas estacionadas nos arredores da cidade.
"Grandes beijos de Nebesna Kara", diz a nota.