Palestinos recuperam seus pertences de casa fortemente danificada em ataque israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza (REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa)
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2014 às 14h27.
São Paulo - Quase um mês depois do início dos ataques, Israel retirou seu exército da Faixa de Gaza na manhã desta terça-feira, respeitando o cessar-fogo de 3 dias acertado na noite de ontem.
O cessar-fogo foi aceito em resposta a um pedido do Egito, que media as negociações de paz.
Desde domingo, representantes das principais milícias aceitaram um documento base para começar as negociações para o fim do bloqueio israelense que já dura 7 anos.
A ideia é que nos próximos dias uma delegação israelense vá ao Cairo dar continuidade às negociações de um acordo global que acabe com o conflito.
No entanto, minutos antes da entrada em vigor do cessar-fogo, milícias palestinas dispararam vários foguetes contra as principais cidades israelenses.
Em Gaza, o comércio reabriu e começam a chegar caminhões com alimentos, remédios e todo tipo de ajuda humanitária. Os danos na região já ultrapassam os US$ 5 bilhões e a reconstrução de Gaza - se o conflito enfim terminar - deve levar anos.
Veja a seguir um raio-x da Faixa de Gaza e o porquê ela é constante palco de conflito entre israelentes e palestinos:
População
Cerca de 1,76 milhão de pessoas vivem na Faixa de Gaza. Mais de 25% deles têm parentes na Cisjordânia e 15% têm parentes em Jerusalém Oriental ou em Israel.
A movimentação de pessoas para a Cisjordânia é proibida por Israel - só há excessões para "casos humanitários excepcionais".
No primeiro trimestre de 2014, a taxa de desemprego foi de 40,8%. Entre os jovens (entre 15 e 29 anos), 6 em cada 10 não tem trabalho.
Mais de 70% da população recebe ajuda humanitária.
5 em cada 10 moradores têm menos de 18 anos.
Gaza é uma das regiões com maior densidade populacional do mundo: são mais de 4,5 mil pessoas por quilômetro quadrado.
Infraestrutura
A escassez de combustível e eletricidade resulta em quedas de energia de até 12 horas por dia, todos os dias.
Mais de 90% da água do aquífero de Gaza não é seguro para o consumo humano sem tratamento
Hamas
O Hamas conquistou a maioria dos assentos parlamentares nas eleições da Autoridade Palestina (que compreende Cisjordânia e Gaza) de 2006.
Depois das eleições, o Hamas entrou em confronto com o Fatah, facção laica que comanda a Autoridade Palestina e que não aceitou o resultado das eleições.
Em Gaza, o Hamas conseguiu expulsar o Fatah e tomar o poder da região
Desde então, não foram realizadas eleições no território palestino.
O grupo é um dos vários grupos islâmicos militantes palestinos e, em seu estatuto, não reconhece a existência do Estado de Israel. O Hamas defende a criação de um único Estado palestino que ocuparia a área onde hoje estão Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
Seu nome é a sigla em árabe para Movimento de Resistência Islâmica. A agremiação surgiu após o início da primeira Intifada (revolta palestina) contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, em 1987.
Para Israel, EUA, União Europeia, Canadá e Japão, o grupo é considerado uma organização terrorista.
Histórico
Em 1948, a Faixa de Gaza recebeu os primeiros palestinos refugiados com a criação do Estado de Israel. Em 1967, a região passou para o domínio israelense, que começou a instalar assentamentos no território.
Em 1994, Israel retira suas tropas da Faixa de Gaza e é criada a Autoridade Nacional Palestina, que assume o controle administrativo da região.
Mais de 10 anos depois, em 2005, Israel começa a remover os assentamentos de colonos israelenses em Gaza. Mesmo assim, Israel manteve o controle da população palestina, além do espaço marinho e aéreo de Gaza.
Em 2007, no entanto, quando o Hamas tomou o poder em Gaza, como retaliação, Israel impôs o bloqueio total à região. As fronteiras foram fechadas, ninguém pode entrar ou sair. Há embargo econômico, terrestre, aéreo e marítimo.
A crise atual
No dia 7 de julho, Israel lançou uma grande operação militar na Faixa de Gaza chamada "Borda de Proteção", com o objetivo de interromper o lançamento de foguetes palestinos contra Israel e de destruir a infraestrutura militar do Hamas e de outros grupos armados.
Isso marcou o fim do cessar-fogo que estava em vigor desde novembro de 2012 e já vinha sendo desobedecido desde dezembro do ano passado.
As tensões aumentaram ainda mais após o sequestro e assassinato de três jovens israelenses no sul da Cisjordânia, em 12 de Junho, que o governo israelense atribuiu ao Hamas.
A morte de um jovem palestino de Jerusalém Oriental, sequestrado e queimado vivo no dia 2 de julho, também contribuiu para a escalada de violência que se seguiu.
O novo conflito encontra uma Palestina mais vulnerável e instável. O desemprego aumentou drasticamente desde meados de 2013.
Os serviços básicos também foram prejudicados devido a uma crise de energia, com quedas de energia de 12 horas por dia.
Os números do novo conflito
1.717 palestinos mortos até a última sexta-feira. Destes 1.716 eram civis: 377 crianças e 196 mulheres.
67 israelenses foram mortos: 64 soldados, 2 civis e 1 estrangeiro.
8,26 mil pessoas feridas, sendo que 2,5 mil são crianças e 1,6 mil são mulheres
373 mil crianças palestinas precisam de apoio psicológico.
485 mil pessoas tiveram que deixar suas casas e estão morando em abrigos de emergência ou com outras famílias.
Mais de 25% da população de Gaza pode ficar sem casa.
141 escolas foram danificadas por bombardeios de Israel
24 postos de saúde/hospitais danificados
9,7 mil casas destruídas
1,8 milhão de pessoas têm acesso reduzido ou nenhum acesso a água ou saneamento
2 horas de energia elétrica por dia durante o atual conflito
No vídeo abaixo, a OCHA (braço da ONU para a coordenação de assuntos humanitários) faz um resumo da situação. As legendas estão em inglês:
//www.youtube.com/embed/T_EY9YL1yCU?rel=0